UM DIA DIFERENTE
Alberto Dines
Jornal sai todos os dias, logo todos os dias são importantes ? certo ou errado? Errado: na imprensa brasileira há dias em que o jornal apresenta-se com força total, em outros apenas finge que é diário.
A edição das segundas-feiras, por exemplo, é tratada como se fosse dispensável. As grandes matérias foram desovadas no domingo, os cadernos são mirrados e os "nomões" que suam a camisa todos os dias são substituídos pelos "regra três".
O sistema é injusto para todos ? na imprensa americana os colunistas escrevem duas ou, no máximo, três vezes por semana. Deste modo não há estrelas nem substitutos, há revezamento. O jornal sai menos desigual, valorizam-se todos os profissionais e o leitor fica mais satisfeito.
Esta é apenas uma das distorções de um "modelo" empresarial montado sem amor ao produto. Com a exceção do noticiário esportivo, o conjunto das segundas-feiras é ligeiro, volátil, descartável. Salva-se O Globo, o único dos jornalões que nasceu vespertino e, por isso, ainda aferrado à tradição de fazer da segunda-feira um dia como os outros.
Entre as ligeirezas da Folha de S.Paulo de segunda-feira (29/9, pág. 2) está o artigo do substituto de Clóvis Rossi (Vinicius Torres Freire), habitualmente consistente e contundente. Desta vez, preferiu apenas a contundência: mandou bala.
Em pouco mais de uma lauda, apresenta a solução cabal e definitiva para a TV Pública: fundir a TVE com a TV Cultura, liquidar sumariamente a Radiobrás e, para reforçar o orçamento, meter a mão na grana que os empresários do Sesc-Senac gastam na sua TV. Simples e fácil, ovo de Colombo.
O colunista certamente já equacionou direitinho como resolverá o formidável imbróglio legal, institucional e administrativo resultante da sua genial fórmula. Seus fieis leitores aguardam ansiosamente.