Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Retrato da política na Velha Província

ROBERTO SILVEIRA

Ivson Alves (*)


Roberto Silveira ? A pedra e o fogo, de José Sérgio Rocha, Casa Jorge Editorial, Niterói, RJ, 518 pp. Preço: R$ 50. Com DVD do documentário de título homônimo, de Otávio Escobar, e três CDs com discursos, jingles e músicas da época.


Descobri que Roberto Silveira era importante quando fui estudar na Universidade Federal Fluminense, nos idos de 1980: parecia que 80% de Niterói tinha sido construída pelo cara. Pouco depois, em 83, me tornei foca d?O Fluminense, tradicional jornal da cidade, e reavaliei Silveira. Era não apenas importante. Era quase uma lenda. Raros os entrevistados de destaque na cidade que não o mencionavam de uma maneira ou de outra. Fiquei curioso com o personagem, do qual sabia apenas que morrera num desastre aéreo antes de terminar o governo. O interesse, no entanto, definhou por não haver um livro decente que a saciasse. Mais de 20 anos depois, porém, pude matar a curiosidade graças a uma obra sobre o tema muito, mas muito, mais do que decente.

Roberto Silveira ? A pedra e o fogo (Casa Jorge, 518 páginas), do jornalista José Sérgio Rocha, supre a lacuna que havia sobre a história do ex-governador fluminense, mas não pára aí, e este é seu maior mérito. Zé Sérgio, como o autor é conhecido nas redações do Rio de Janeiro, onde labuta há 30 anos, dá conta com folga da tarefa de descrever a trajetória pessoal e política do biografado. Começa nas suas origens familiares, no Arquipélago dos Açores; segue pela chegada do primeiro Silveira ao Sul fluminense; conta como e por que a família muda-se para o outro extremo da província; mostra como, bem aos poucos, a liderança da família se consolida na região de Bom Jesus do Itabapoana, e chega à maneira como Roberto, partindo dessa base, expande sua influência por todo o antigo Estado do Rio.

Herói inevitável

É ao descrever esse último desenvolvimento que o livro supera a dimensão de uma biografia ? sempre limitadora ? e se torna fundamental para quem pretende entender a política do Estado do Rio no presente. Ao contar como era a política na Velha Província no tempo de Roberto, de Amaral Peixoto e de Tenório Cavalcanti, Zé Sérgio demonstra a maneira de construir um governador ? e todo o seu esquema político de sustentação ? em terras fluminenses, num processo cuja atualidade ? e conseqüências ? ainda pode ser constatada nos jornais.

O leitor, porém, não sofre com a aridez de um tratado oriundo da Academia. Por todo o livro, o autor mostra o ótimo texto pelo qual se tornou conhecido nas redações cariocas. Zé Sérgio sabe dar o tom certo a cada passagem da obra ? do estilo "narrador de histórias antigas" ao trágico (no fim), passando pelo "contador de causos".

Obviamente, por ser uma biografia ? e ainda mais levada ao prelo pela editora do filho e editada por uma das filhas do biografado ? Roberto Silveira ? A pedra e o fogo faz do ex-governador um herói. Esse fato inevitável em biografia autorizada, porém, não ofusca a importância da obra. Ela é essencial para aqueles que, por força da profissão ou por diletantismo algo masoquista, acompanham a vida política do Estado do Rio.

(*) Jornalista, editor do Picadinho Diário
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