QUALIDADE NA TV
ASPAS
ESTRELA GUIA
"Faltam palavras…", copyright Veja, 27/03/01
"A televisão brasileira não pára de fornecer subsídios à história da imbecilidade humana. O mais recente são os hippies da novela Estrela-Guia, da Rede Globo. Só uma cabeça de vento poderia ter imaginado personagens tão vazios, tão caricaturais, tão bobocas, tão… Faltam palavras para definir essa… Faltam mesmo palavras. Para tornar a coisa ainda mais idiota, os atores que vivem os tais hippies estão dando um show de incompetência e amadorismo. A começar por Maitê Proença, que marcou presença ao inventar um sotaque esquisito que oscila entre o americanês do rabino Henry Sobel e o portunhol do guru Walter Mercado. Quanto a Sandy, já não se podia esperar muito da cantora, que interpreta a debilóide Cristal, dada a ressuscitar passarinhos e a conversar com oncinhas (sim, leitor, oncinhas). Mas sua atuação não tem limites em matéria de fundo do poço. Aliás, de quem foi a idéia de chamar a virgenzinha para fazer uma riponga? O resultado é esquizofrênico: Cristal é uma hippie que usa sutiã, preserva a castidade e entoa mantras em vibrato sertanejo. É hippie, mas é limpinha. Nem a música-tema da novela se salva. Trata-se de uma versão monstruosa de Imagine, cantada por Paulo Ricardo. Alguém aí tem estricnina?
Para escrever essa bobagem, a autora Ana Maria Moretzsohn (da comunidade alternativa dos Moretzsohn) inspirou-se no cotidiano de… uma comunidade alternativa de Pirenópolis, cidade a 140 quilômetros de Goiânia que também serviu de locação para a novela. Formada por doze pessoas, a comunidade, de forte inclinação esotérica como a de Estrela-Guia, chama-se Frater Unidade. Seus integrantes plantam o que comem, mas também se sustentam recebendo turistas para curtas temporadas, ao custo de 50 reais por dia. ?A novela tem muito de conto de fadas, eu reconheço, mas ficamos felizes de ver a filosofia que ela está propagando?, diz Eknath, o ex-vendedor de sapatos gaúcho que lidera a Frater Unidade. Eknath já fez uma ponta em Estrela-Guia, além de ter prestado consultoria (quá-quá-quá) para questões de vestuário e decoração. Ele sugeriu, por exemplo, o uso de energia solar na fictícia fazenda de Jagatah (Universo, em sânscrito). Agora, espera a ?ajuda de custo? que a emissora prometeu para seu grupo. Pode esperar sentado, Eknath. Ah, sim, que tal trocar de pseudônimo? Jovenildo talvez soasse melhor.
Se quisesse ficar mais próxima da realidade dos jovens atuais, a Globo poderia ter focalizado a tribo dos neo-hippies. Eles retomaram o estilo de seus precursores, mas são bem mais individualistas e raramente abrem mão do conforto da casa paterna. Seus gostos são heterogêneos. De um lado estão aqueles que se identificam com o forró e adoram engatar um papo-cabeça sobre os valores da autêntica cultura popular. Na outra ponta, encontram-se os freqüentadores de raves que se ligam num tecno hipnótico com melodias hindus – um troço chamado trance. Todos, no entanto, adoram os best-sellers de auto-ajuda do budista Dalai-Lama e os ensinamentos do guru indiano Osho (o antigo Rajneesh), que pregava o amor ao próximo, a meditação e a necessidade de viver em harmonia com a natureza.
Como nada disso realmente importa, vamos ao que interessa: Estrela-Guia está satisfazendo as expectativas de ibope da Globo. Não chegou aos 40 pontos que se imaginou que poderia alcançar com a presença de Sandy, mas ostenta uma média de 32 pontos – maior audiência inicial de uma novela das 6 desde 1997. Na semana passada, a trama entrou em nova fase. Num incêndio criminoso, os pais de Cristal (vividos por Marcos Winter e Maitê Proença) acabaram mortos. Com isso, a jovem hippie e alguns de seus amigos se mudarão para o Rio de Janeiro. Para os próximos capítulos, algumas personalidades que viveram o desbunde das décadas de 60 e 70 estão sendo sondadas para fazer participações especiais, tais como os cantores Rita Lee, Baby do Brasil e Pepeu Gomes. Não, isso certamente não ajudará a elevar o QI da novela. Por último, a história reserva emoções para Sandy. Ana Maria Moretzsohn garante que programou para ela algumas cenas de beijo e até um banho de banheira em que a moça tiraria a blusa. ?Pelo menos eu vou conseguir beijar alguém?, brinca Sandy, que nas cenas mais calientes pretende dispensar a dublê que a emissora contratou por exigência dos pais. Quando leram essas passagens no roteiro, o cantor Xororó e sua mulher, Noely, entraram em pânico. ?Nós os tranqüilizamos, dizendo que não haveria nada de explícito?, diz Ana Maria. De explícita, mesmo, só a… Faltam palavras."
BAND NEWS
"Televisão feita de rádio e internet", copyright Jornal do Brasil, 21/03/01
"O primeiro dia do Band News (TVA) no ar, segunda-feira, reiterou o que a direção do novo canal de notícias divulgou como seu ponto alto: a disponibilização da informação para o telespectador 24 horas por dia. Mas faltou a atualização dos temas e – o que é grave – a fidelidade à linguagem televisiva. Com cara de rádio mesclado à internet, o Band News, ao menos em seu primeiro dia, estagnou na oralidade, sem priorizar a imagem e pecando pelo repetitivo. Em compensação, vale destacar a agilidade em noticiar a demissão do ministro da economia argentino, Ricardo López Murphy, e a concepção visual do cenário, superiores aos do concorrente Globo News.
À frente do Jornal da Globo, da TV Globo, e de conceituados noticiários da internet – como Globo on e Agência Estado – o novo canal saiu na frente ao atualizar as notícias sobre a Argentina, assunto do dia em todos os veículos de informação. Mas, até a veiculação da demissão do ministro, às 23h40, o Band News exagerou na dose de matérias que não justificavam a repetição excessiva, como foi o caso da reportagem que mostrava dinamarqueses arriscando compassos no ritmo baiano. Paradoxalmente, a mesma matéria fazia lembrar a máxima que diz ser a pressa a inimiga da perfeição, uma vez que a legenda da mesma identificou – em muitas das cansativas reprises – dinamarqueses como dinamarques.
A quantidade de matérias de agência também passou da conta. E ficou faltando a participação efetiva das equipes de reportagem que compõem o canal, já que as entradas dos repórteres foram para lá de raras. Quando aconteciam, algumas davam a impressão de rádio com – parca – imagem, exibindo uma arte gráfica do mapa do Brasil com o áudio de um repórter que, ao telefone, falava de Brasília – de onde, acredita-se, não deve ser lá muito complicado gerar imagens. Em terreno menos conceitual, a falta de preocupação com a imagem irritou o telespectador quando esbarrou na operacionalidade: a cada entrada e saída da vinheta do Band News, o sinal do canal sumia.
Nos intervalos dos noticiários, as pílulas com dicas sobre diversos assuntos não foram contextualizadas na grade do canal, soaram confusas e sem sentido. Em suma, ficaram sem a cara do Band News. Que, se mostrou ter agilidade, poderia incorporá-la ao meio em que a veicula: a TV."
"Lançamento do Band News vira evento político", copyright Folha de S. Paulo, 20/03/01
"O grupo Bandeirantes inaugurou ontem, em sua sede, em São Paulo, o canal pago Band News, que exibirá 24 horas de notícias. A cerimônia de lançamento contou com a presença de políticos de diversos segmentos.
Entre eles, a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, o governador do Estado, Geraldo Alckmin, e os ministros José Serra, da Saúde, José Gregori, da Justiça, e Andrea Matarazzo, chefe da Secretaria de Comunicação do Governo. Compareceram ainda o ex-prefeito Paulo Maluf, os ex-governadores de São Paulo Orestes Quércia e Luiz Antonio Fleury Filho e o senador Romeu Tuma (PFL -SP).
A programação do Band News terá blocos noticiosos que serão atualizados a cada 15 minutos. Na primeira metade de cada um, estarão notícias do Brasil e internacionais. No bloco seguinte, entram notícias relativas a temas como cultura, tecnologia, esportes e meteorologia.
O Band News será exclusivo da TVA, DirecTV e de operadoras da Neo TV, que reúne empresas que não têm os canais Globosat. O canal estará disponível para cerca de 1 milhão de assinantes e recebeu investimentos de US$ 6 milhões. A Band pretende ainda lançar neste semestre um canal infanto-juvenil e, em 2002, um esportivo e um internacional."
"Band demite 50% e lucra R$ 25 mi em 2000", copyright Folha de S. Paulo, 20/03/01
"A Bandeirantes registrou lucro líquido de R$ 25 milhões em 2000, o melhor resultado em vários anos -em 98, a emissora teve prejuízo. O faturamento foi de R$ 260 milhões, 15% a mais do que em 99. Assim, a Band ficou com 5% do bolo dos investimentos publicitários em TV em 2000 (cerca de R$ 4,9 bilhões). É a terceira maior rede brasileira em faturamento, atrás de Globo e SBT.
Os números são resultado do primeiro ano de administração de João Carlos Saad, o Johnny, que assumiu a emissora em 99, após a morte de João Saad. Johnny trava na Justiça disputa pelo controle da Band com seus irmãos.
Do final de 99 para cá, a Band reduziu pela metade seu quadro de funcionários -de 4.000 para 2.000, uma folha de pagamentos parecida com a do SBT. Deixou de ser uma empresa familiar. Com o lucro de 2000, a Band pôde investir, com recursos próprios, US$ 6 milhões na criação do canal Band News, lançado ontem para concorrer com o Globo News.
A emissora prevê crescimento de 15% neste ano, superando os R$ 300 milhões de faturamento. Nos dois primeiros meses de 2001, o faturamento cresceu 30%, em parte pela boa comercialização do Carnaval, com o qual a emissora arrecadou R$ 15 milhões e gastou menos de R$ 5 milhões. A Band ainda tem dívida de cerca de US$ 100 milhões em bônus resgatáveis. No ano passado, pagou cerca de US$ 35 milhões."
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