Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Roberto Cosso

PSDB / CONTAS NEBULOSAS

“Conta investigada pela PF pagou jornalista”, copyright Folha de S. Paulo, 17/05/03

“A jornalista Valéria Monteiro, que durante o primeiro turno da campanha presidencial de 2002 apresentou o programa eleitoral do candidato do PSDB, José Serra, recebeu pelo menos US$ 18.230 oriundos da conta bancária ?Tucano?, aberta em uma agência do Chase Manhattan em Nova York.

Entre 1996 e 1999, a ?Tucano? movimentou cerca de US$ 280 milhões e é, hoje, o principal foco de uma investigação sobre lavagem de dinheiro conduzida pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, que suspeitam do seu uso para escoar dinheiro oriundo de corrupção e pagamento de propinas de políticos.

Duas das operações que beneficiaram a jornalista foram feitas no mês de setembro de 2002, quando a campanha eleitoral estava em curso. Em ambas, a ordem de crédito é feita por ela mesma.

No dia 13 do mês, ela mandou US$ 5.000 para a conta ?Tucano? e aparece como beneficiária final da remessa. No dia 26, Monteiro enviou US$ 2.000 para seu agente, Richard Barber, em operação intermediada pela ?Tucano?.

A conta tem como um de seus responsáveis o doleiro italiano Felice Aggio, que opera em Campinas.

Das sete operações destinadas a Monteiro, três têm ordem de crédito feita por um banco em Assunção, no Paraguai. Duas apontam como destinatário Richard Barber, que é o agente da jornalista em Nova York, cidade onde ela viveu por nove anos, até maio de 2002, quando retornou definitivamente ao Brasil -ela mora em Campinas.

Monteiro disse à Folha que ainda mantém uma conta no Chase Manhattan. Hoje inativa, ela serviria para receber remessas enviadas no passado, segundo a jornalista, ou por sua família para ajudá-la ou por ela mesma para o agente Barber pagar suas contas depois que retornou ao Brasil.

A jornalista nega ter recebido pagamentos referentes à campanha de Serra por meio da conta no Chase Manhattan. Também disse não saber explicar as remessas feitas via Paraguai nem a razão de a ?Tucano? ter intermediado as operações.

A ?Tucano?, principal subconta de uma conta-mãe pertencente à empresa Beacon Hill, sediada em Nova York, passou a ser investigada porque é uma das principais beneficiárias de recursos que passaram pela movimentação da extinta agência novaiorquina do Banestado.

A PF estima que por essa agência passaram, entre 1996 e 1999, cerca de US$ 30 bilhões de origem ilícita, que migraram para 50 mil beneficiários, em geral empresas situadas em paraísos fiscais, onde sua composição societária é preservada por rígidas leis de sigilo.

Os valores que indiretamente se relacionam a Monteiro, se somados a outras quatro operações, podem chegar a US$ 67.030. São ordens de crédito cuja referência sobre o emitente é o mesmo endereço em Campinas apresentado nas ordens bancárias destinadas à jornalista, um condomínio.

O beneficiário final, porém, é o empresário Elvis Rodrigues Marques, também daquela cidade.

O endereço que une Monteiro a Marques também colocou no foco da investigação da PF a aposentada Eloiza Elza Bertelli, que morou no mesmo condomínio até janeiro deste ano. O endereço que ela apresenta como referência em uma de suas cinco operações, que totalizam US$ 22 mil intermediados pela conta ?Tucano?, é o do mesmo condomínio indicado por Monteiro e Marques.

A explicação, dada por uma irmã de Bertelli chamada Edenir, puxa o fio da meada. Viúva, Bertelli morou em Miami até 1994. De volta ao Brasil, ela manteve conta em uma agência do Citibank naquela cidade. Hoje, quando precisa repatriar em reais o que deixou por lá em dólares, aciona os serviços de Felice Aggio.

Aggio é diretor da Lugatur Câmbio Passagens e Turismo Ltda, em Campinas. A agência tem registro na Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) e autorização legal para realizar operações de câmbio. Não consta da relação de agências de turismo do escritório da Varig em Campinas.

Filha de Aggio, a empresária Sandra Aggio comanda a loja de móveis étnicos Kamasan, cujo nome também consta no levantamento da Polícia Federal sobre as operações financeiras intermediadas pela conta ?Tucano? em Nova York.”

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“Monteiro diz que não sabe razão de uso de conta”, copyright Folha de S. Paulo, 17/05/03

“A jornalista Valéria Monteiro atribuiu os créditos de pelo menos US$ 18.230 a ?ajuda da família? e a remessas que fez para seu agente, Richard Barber, pagar suas contas depois que deixou Nova York definitivamente, em maio de 2002.

Disse não saber explicar por que as transações foram intermediadas pela conta ?Tucano?, em agência do Chase Manhattan na cidade.

?Eu tenho conta no Chase Manhattan, inclusive com meu sobrenome de casada [Kaufmann]?, disse Monteiro, ressalvando que a conta hoje estaria inativa.

A jornalista negou ter feito negócios com o doleiro Felice Aggio. Segundo ela, que disse conhecer o nome de ?Aggio? pela ?sociedade? de Campinas, o contato mais próximo que teve com ele foi comprar cerca de R$ 5.000 em produtos numa loja gerenciada por uma filha do doleiro chamada Sandra.

Monteiro refutou a possibilidade de as remessas corresponderem a pagamentos por sua atuação na campanha de 2002 do presidenciável tucano, José Serra.

?Recebi tudo aqui no Brasil, pela agência do Nelson Biondi.? Biondi tem outra versão: ?Ela, como eu, trabalhava para o PSDB. Recebemos do partido?.

A Folha tentou falar com Serra por intermédio de sua assessoria na liderança do PSDB na Câmara. Foram deixados recados duas vezes na quinta-feira e outras duas vezes ontem.

A Folha tentou localizar Aggio. A mulher dele, que não se identificou, disse que o marido estaria em São Paulo. Sandra Aggio disse estar muito ocupada para conversar com a Folha.

O empresário Elvis Rodrigues Marques disse não possuir contas bancárias no exterior e negou ter feito remessas para Nova York.

A aposentada Eloiza Elza Bertelli está doente. Falou em seu nome a irmã Edenir, que disse utilizar os serviços do doleiro Aggio para transformar em reais no Brasil os dólares que Bertelli mantém em conta numa agência do Citibank em Miami.”

 

JORNALISMO ECONÔMICO

“O drama dos diários econômicos”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 18/05/03

“O lento, mas aparentemente inexorável, processo de envelhecimento precoce do Valor – representado por mais quatro demissões semana passada, log após boatos sobre a venda da empresa por parte de seus acionista Organizações Globo e Folha da Manhã – já seria lamentável de per si, mas se torna ainda mais triste quando se olha o panorama dos jornais econômicos diários em volta.

Porque o Valor, não é caso único e nem mesmo o mais grave. Pior obviamente é a situação da Gazeta Mercantil, cuja deterioração acontece à vista do público, apesar dos esforços patéticos da empresa para tentar disfarçar – como no caso da obtenção da liminar para impedir que seu nome aparecesse na lista de maiores devedores da Previdência divulgada pelo governo semana passada. E ainda podemos mencionar neste quadro desolador as mudanças administrativas ocorridas recentemente no DCI, de São Paulo – com o fim da parceria entre Orestes Quércia e a empresa que administrava o jornal terceirizadamente – e a eterna letargia, próxima da mumificação, do Jornal do Commercio, do Rio.

Mas por que será que os jornais econômicos diários passam por este momento de crise profunda?

A meu ver existem duas explicações paralelas, mas que se alimentam: incompetência e mercado. A primeira é mais ou menos conhecida por todos os jornalistas que trabalham em empresas de comunicação brasileiras, algo que venho demonstrando, com persistência, há quase sete anos na Coleguinhas. A segunda causa é estrutural, mas, com a falta de capacidade dos empresários de comunicação brasileiros, não foi percebida com tempo suficiente para ser, se não contornada, pelo menos aplacada em seus piores impactos.

O problema central dos diários econômicos como eles eram (e são) feitos é que o mercado para eles tem se encurtado de uns dez anos para cá. A última década assistiu a um acirramento da tendência capitalista de tornar mundiais todos mercados. Essa intensificação histórica – como já andei mencionando aqui – provocou e foi provocada pelo crescimento exponencial da capacidade e da abrangência dos circuitos mundiais de informação.

O agigantamento das redes mundiais foi mais patente, como seria de se esperar, exatamente no âmbito econômico, mais especificamente no setor financeiro. Foi graças ao incremento dos circuitos pelos quais circulam as informações em segundos que se conseguiu erguer este gigantesco cassino que se convenciona chamar de mercado de ações, por exemplo.

Com a informação circulando de todos os lados para todos os cantos do planeta, as noções de tempo e espaço mudaram radicalmente para todos, especialmente para aqueles que lidam com os mercados financeiros. O tempo do mercado foi comprimido para minutos e, no caso do mercado acionário, para segundos, enquanto os centros deste e de outros mercados (como o de commodities) se transferiram de vez para as economias mais ricas que ditam os preços para cada mercado nacional à distância.

Por outro lado, aqueles que compõem os diversos setores do mercado econômico ainda necessitam de análises mais fundamentadas que se não prevejam pelo menos montem cenários sobre o futuro para que se possam tomar decisões estratégicas. Este nicho, porém, são mais bem cobertos por semanários econômicos – sejam jornais ou revistas – do que pelos diários.

Neste quadro, observa-se que os diários especializados em economia tendem a sofrer enorme pressão. Algo que já faz parte há algum tempo do dia-a-dia daqueles grandes jornais que tão bem representam o capitalismo central, como Wall Street Journal e Financial Times. A situação, porém, é mais grave para os diários no Brasil, uma economia periférica, extremamente dependente de capitais externos, o que faz com que os operadores econômicos do país praticamente só olhem para o que vai no exterior, olhando menos para aqui – e assim mesmo sempre través de telas de computador e tevês e não por meio de papel.

Uma situação deste tipo, como já escrevi lá em cima, não se monta de uma hora para a outra. Ela foi se formando aos poucos, no decorrer dos últimos dez anos, qual uma grande onda, formada longe da praia e que desaba na cabeça de um banhista incauto perto da arrebentação. O ?banhista?, é claro, foram as empresas brasileiras que apostaram na criação ou manutenção de diários econômicos, mesmo sabendo (ou devendo saber) o sofrimento pelos quais passaram os grandões do Hemisfério Norte com o desenvolvimento das redes de informação – o WSJ e o FT apanharam muito para aprenderem a conviver com as novas tecnologias e ainda hoje ainda apresentam vários hematomas pelo corpo para lembrá-los da surra.

E o desafio das empresas que editam os jornais econômicos diários é exatamente este: como adaptar-se a um mundo em que a velocidade é o próprio sangue do mercado ao qual essas publicações devem servir? Desafio duro de ser vencido e, lamentavelmente, apesar da torcida a favor, diante do histórico dos nosso patrões em matéria de competência e visão estratégica, meu prognóstico não é dos melhores.

Quanto mais eu rezo… – Luis Carlos Mendonça de Barros ou Daniel Dantas para novo dono do Valor? Que é isso? Uma versão jornalística da Escolha de Sofia?”

 

VALOR EM CRISE

“Novo presidente marca sua estréia no Valor com rodada de demissões”, copyright Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 14/05/03

“O novo presidente do Valor Econômico mostrou nesta quarta-feira ao que veio. Nicolino Spina, que substitui o executivo Flávio Pestana no comando do jornal, deu início a uma rodada de demissões, que pode ter atingido as áreas de administração, comercial e a redação, e vitimado até 19 jornalistas. As informações são de fonte próxima à situação.

Spina assumiu o Valor no final de abril, quando já corria solto no mercado o interesse dos acionistas do jornal, a Globo e a Folha de S.Paulo, de se livrar da empresa. O que se comentava, no entanto, é que as companhias pretendiam se desfazer de 30% do Valor. Mas a verdade é que Globo e Folha querem vender todo o jornal e já há interessados.

Já compulsaram os números físicos e financeiros do diário, que completou três anos no último dia 2 de maio, o ex-ministro Luis Carlos Mendonça de Barros e o financista Daniel Dantas, do Banco Opportunity.

O Valor é um dos muitos personagens que ilustram o desequilíbrio do mercado de mídia. Também nesta quarta-feira, a redação online do Jornal do Brasil teve baixas. Foram três os demitidos, de acordo com o site Comunique-se.”