O POVO
"O leitor feito de bobo", copyright O Povo, 13/4/03
"Reproduziremos a seguir notas da coluna Reportagem, assinada pelo jornalista Lúcio Brasileiro, no último dia 1?. Observo que a forma original do que foi escrito está sendo mantida.
?Aquilo que repórter tanto gostaria de ouvir de Lúcio Alcântara, governador vem de declarar: Volta do trem é questão de honra de minha administração.
Ana-Paulo Bandeira dançavam de rosto colado, sexta, na sua maior obra de presidente do Ideal, o Bar do Leste.
Capitão Bosco Dias visto no Cumbuco interessado em como vão as coisas na praia que criou, aliás, seria um grande prefeito pra Caucaia.
Ao saber que Yolanda Queiroz pretende instalar um moinho, José Macêdo comentou ‘dá pra três, não dá pra quatro’.
Até que enfim, Juraci me atendeu, desapropriando, para demolir, prédio horroroso do lado sul da Praça Cristo Redentor.
Renata Jereissati de amarelo, da cabeça aos pés, na festa da Lêda Maria, tom forte, dito Caterpilar.
Coronel Adauto Bezerra solicitou à Assembléia Legislativa retirar seu nome da sede, pois não é in gente viva batizar próprios (sic) públicos.
Artur Eduardo, presidente da Academia, surpreendido com pedido de demissão de Regina Fiúza, secretária imortal do Palácio da Luz?.
À primeira vista, nada de estranho. Informações como essas, citando personagens da sociedade e aspectos aos quais se relacionam, sejam econômicos, políticos, culturais ou festivos, são a tônica da coluna. A mim, que, como ombudsman, cabe fazer uma leitura crítica diária do O Povo, nenhuma das notas surpreendeu. Errei feio. Todas tinham, em comum, a falta com a verdade. Era 1? de abril. E o jornalista não informou naquela edição que estava fazendo o leitor de boboca.
No último domingo, cinco dias após publicar as notas, Lúcio Brasileiro revelou na coluna Acontecendo o que chamou de ?polêmica?. Leia:
?O que seria uma saudável brincadeira, terminou, em alguns casos, virando polêmica, mas esta coluna também tem direito a seu 1? de abril, Dia Mundial dos Bobos, e disso resultou disparatada cabeça da coluna de terça, pois ninguém poderia imaginar que Yolanda Queiroz, a essa altura, instalasse um moinho, que o coronel Adauto Bezerra declinasse de seu nome no prédio da Assembléia, ou que Lúcio Alcântara fosse garantir trem à população carente do sertão, pois assunto não depende exclusivamente de sua vontade.
Nem Renata Jereissati, com sua elegância, seria capaz de trajar em amarelo Caterpilar, cor ofuscante, ou que Regina Fiúza abandonasse Palácio da Luz, ela que é a melhor retaguarda que uma Academia de Letras pode ter.
Aconteceu também uma mentira que virou verdade, coronel Bosco Dias, que há anos não dava as caras, reapareceu na Tabuba, tentando ajudar no saneamento da Estrada Sem Fim, pois conhece só tudo do eixo Icaraí-Cumbuco.
Foi 1? de abril, sem dúvida, mas se o prefeito Jura Magal pensasse melhor, confirmaria nossa mentirinha da última terça, e desapropriaria, para destruir, aquele horror do lado sudoeste da praça Cristo Redentor, homenageando de uma só vez Seminário da Prainha, Círculos Operários e Dragão do Mar?.
O jornalismo não pressupõe essas brincadeiras. Primeiro, porque a credibilidade é a alma do negócio (de qualquer um, diga-se) e a verdade é a essência de tudo que se faz em comunicação. Depois, porque o leitor não tem como adivinhar que o colunista decidiu ?brincar? com empresários, políticos e amigos que, tendo uma imagem a preservar, viram-se alvos de notas sem base real. Por fim, porque o que um jornalista entende como saudável brincadeira pode não ser visto assim pelo público que compra o jornal com o objetivo único de obter informações bem apuradas e qualificadas. Ao contrário do que foi escrito domingo, coluna nenhuma tem direito a seu 1? de abril. Assim como o leitor não merecia tal ?homenagem? no Dia Mundial dos Bobos.
A imprensa não pode passar atestado de óbito
Na última segunda-feira, o leitor percebeu divergências nas manchetes do O Povo e do Diário do Nordeste. O Povo noticiou que ?Chuvas deixam dois mortos?. A manchete do Diário era ?Temporal mata três pessoas?. Observei para a Redação que O Povo acertara, considerando que o corpo de uma das vítimas ? Alysson Erick Costa dos Santos, 9, tragado por um bueiro na tarde de domingo ? estava desaparecido, o que impedia o jornal de dá-la como morta. As chances de o menino ter morrido eram imensas, o que se confirmou segunda-feira às 11 horas. Observei que não cabia à imprensa, levando em conta, sobretudo, o respeito que a família merece, assinar atestados de óbitos.
Ministério Público
Na semana passada, os procuradores Oscar Costa Filho e Gerim Cavalcante manifestaram-se preocupados com a possibilidade de divergências entre integrantes do Ministério Público Federal serem vistas pela sociedade como mero confronto de vaidades. Referiam-se à matéria ?Forte e dividido ? A guerra dos procuradores?, publicada segunda-feira. Segundo eles, egos exacerbados não são o centro das querelas que se verificam na Procuradoria Geral da República no Ceará. Em primeira análise, não percebi na matéria ênfase em uma suposta disputa de egos, embora haja no texto referência a isso. Mesmo considerando legítima a preocupação de Oscar e Gerim, destaco aqui uma observação feita pelo editor-executivo do Núcleo de Conjuntura, Gualter George: ?Estamos mais preocupados com a imagem e a eficiência do Ministério Público?.
Na Unifor
Estive quinta-feira com alunos do curso de Comunicação Social da Universidade de Fortaleza. Conversamos sobre a atividade do ombudsman e sobre os direitos do leitor à informação de qualidade. Destaque-se a mais perfeita compreensão e aceitação, entre os estudantes, da função de ombudsman no jornalismo."