O POVO
"Há remédio para isso?", copyright O Povo, 7/9/03
"Os preços de 150 medicamentos serão reduzidos. O Povo publicou isso na última quinta-feira, em manchete. A mesma opção foi adotada pelo ?Diário do Nordeste? e por jornais de outras capitais, como o ?Jornal da Tarde? (?150 remédios mais baratos?) e o ?Agora São Paulo? (?Remédios sofrem redução de até 55% no preço?), ambos de São Paulo, ?A Crítica?, de Manaus (?Diminuição de até 55% ? Cai preço de 150 remédios?), e o porto-alegrense ?Zero Hora? (?Divulgada lista dos 150 remédios que terão o preço reduzido?). O que poderia ser uma notícia auspiciosa, no entanto, tende a não ter repercussão expressiva para o consumidor. O problema é que a grande maioria daqueles produtos, incluídos pelo Governo Federal entre outros cujos preços tiveram aumentos indevidos, não está à venda nas farmácias, não é dirigida à pessoa física. São, sim, medicamentos usados em hospitais ? coisas como solução de glicose e cloreto de sódio, solução de glicerina e vacina meningocócica.
Eis um caso típico da notícia que, se não receber o devido tratamento de quem a repassa ao público, corre o risco de confundir em vez de informar. Nenhum dos jornais citados acima se preocupou em observar que a diminuição do custos dos remédios relacionados pouco provavelmente chegará aos consumidores, já que os hospitais privados não deverão recuar no que cobram pelos procedimentos em função da medida governamental. Todos ficaram limitados às informações enviadas pelas agências de notícias. O Povo, inclusive, publicou a lista completa dos 150 medicamentos. Restou para o leitor uma imagem otimista e realizadora do Governo Federal. Uma imagem, por sinal, muito adequada para uma administração que tenta aprovar reformas na Câmara Federal, bambeando entre a contradição do presente e o discurso do passado.
Um ioiô chamado leitor
Demitido do emprego de contínuo que tinha no Ministério dos Transportes, o motorista Eriberto França ? sem dúvida uma peça-chave na elucidação da intrincada cadeia de corrupção do governo Collor de Melo ? foi tema de duas notas no O Povo de terça-feira passada. Em Últimas (página 2), no alto da página, havia um texto com o seguinte título: ?Motorista Eriberto é recontratado?. Nele, se informava que ?Depois da repercussão sobre a demissão do motorista Eriberto França, do Ministério dos Transportes, uma nova decisão foi anunciada ontem à noite: a contratação do ex-motorista do Planalto durante o governo Collor pelo Dnit. O ministério informou em Brasília que ele deverá ter contrato por empresa terceirizada?. A outra nota saiu no alto da página 10, na Editoria Brasil. O texto era o seguinte: ?Francisco Eriberto Freire de França perdeu o cargo de contínuo do Ministério dos Transportes. Ex-motorista do Planalto, em 1992 ele ganhou fama ao revelar detalhes do esquema de corrupção do governo?.
Embora seja absolutamente óbvio, vale repetir: a página Últimas se destina às últimas notícias chegadas à Redação antes do fechamento da edição. E, por assim ser, exige dos editores extrema atenção com a contextualização dos fatos. Quando um texto contido na página 2 aponta alguma modificação em outro publicado nas demais editorias, ou acrescenta a notícia já editada dados novos, O Povo explica ao leitor que a nova informação foi recebida após ter sido encerrada a página em que o assunto foi inicialmente incluído. Isso não foi feito na terça-feira. Outro ponto: abaixo da nota da Últimas havia um ?leia mais na 10?, como se o leitor pudesse encontrar detalhes nas parcas três linhas que couberam ao caso na página 10. No episódio, o ?leia mais? bem que poderia ser substituído por um ?leia menos?.
Mãos leves, palavras amenas
A seguinte nota foi publicada na coluna Vertical, edição de quarta-feira passada: ?Um sujeito, bem vestido, levou ontem da Livraria La Selva, do Aeroporto, uma coleção completa Cavalo de Tróia, no valor de R$ 200,00?. Sob o título ?Acelerado?, o pequeno texto não observou um dos fundamentos do jornalismo: a clareza. A primeira impressão do leitor poderia até ser de espanto. Afinal, o que há de extraordinário no fato de ?um sujeito bem vestido? levar de uma livraria uma coleção que custa R$ 200,00? Nada. Mas levar sem pagar é outra coisa, é furto. Foi o que aconteceu, mas não foi o que se escreveu com a indispensável e já mencionada clareza. Trocar ?furtar? por ?levar? não é o mesmo que trocar seis por meia dúzia.
Diário do nordeste ganha prêmio
O leitor do jornal de hoje não é necessariamente o do jornal de amanhã. É por isso que devem ser contextualizados os fatos relacionados às informações publicadas, apresentado ao leitor um histórico do que se passou. Terça-feira, O Povo publicou como manchete da página 5 (Editoria Fortaleza) matéria informando que as repórteres Rita Célia Faheina e Manoela Monteiro ficaram com o primeiro e o terceiro lugar, respectivamente, do prêmio jornalístico ?Povos do Mar ? Sustentabilidade Sócio-Ambiental na Zona Costeira do Ceará?, promovido pela organização não-governamental Instituto Terramar. E o segundo lugar, quem ganhou? O texto não diz, mas foi o repórter Antônio Simões, do ?Diário do Nordeste?. Essa informação, na verdade, foi publicada no dia 29 de agosto, sexta. Mas isso, em nome da contextualização, não justifica a omissão do fato na edição posterior.
Comunicação em pauta
Questões como direitos do leitor, ouvidoria e ética na imprensa estiveram na pauta em dois eventos dos quais participei como ombudsman do O Povo nas duas últimas semanas: o curso Ouvidoria para uma Cultura de Cidadania, promovido pela Associação Brasileira de Ouvidores, seção do Ceará, e o seminário Justiça, Ética e Democracia, promovido pela comissão de Cultura e Comunicação da Ordem dos Advogados do Brasil, seção do Ceará. O primeiro evento foi realizado no dia 26 de agosto, reunindo ouvidores de diferentes setores, sobretudo de órgãos públicos. O segundo, na sexta-feira passada, com um público composto por advogados, jornalistas e estudantes.
Casa de ferreiro
Por algumas semanas, e por razões ainda não sabidas, o número do fax da sala do ombudsman, informado ao pé desta Coluna, foi publicado com erro. O correto ? espero que esteja devidamente corrigido na edição de hoje ? é (85) 255 6162.