Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Roberto Maciel

O POVO

"A informação afogada em letras", copyright O Povo, 14/9/03

"Na manhã de domingo passado, nos festejos do 7 de setembro na avenida Beira Mar, quatro dos pára-quedistas que se apresentavam no show aéreo caíram no mar. Um deles enfrentou problemas sérios: desmaiou ao ir de encontro à água, se afogou e acabou resgatado por salva-vidas, que tiveram o apoio de bombeiros em jet skis e do helicóptero do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer), órgão da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Foi levado a um hospital e escapou. Nome, sobrenome e atividade da vítima: Manuel Duca da Silveira Neto, deputado estadual pelo PMDB. Ou, simplesmente, Duquinha. O Povo, que destacara repórter e repórter-fotográfico para o evento, não publicou nada do assunto. Já o ?Diário do Nordeste? abordou o acidente. Alertada sobre a lacuna no comentário que enviei na manhã de segunda-feira, a Editoria Fortaleza me informou que os profissionais que cobriam a festa estavam, no momento do afogamento, acompanhando a parada naval promovida paralelamente e não tiveram conhecimento do caso.

O mais grave para o leitor, porém, tem outra origem. Segundo o editor-adjunto Cláudio Ribeiro, como se faz diariamente, o boletim do Centro Integrado de Operações Policiais (Ciops), também vinculado à SSPDS, foi conferido várias vezes no domingo, na página da Internet http://www.seguranca.ce.gov.br/mis/relatorios/
Ciops/Ocorrencias_portal.asp. Nada havia que indicasse o acidente com o deputado. Pelo contrário. A única informação do gênero, no quadro III (referente ao Ciopaer), era essa: ?Afogamento não fatal – Local: Av. Beira Mar, Meireles. Vítima: E.D.S.N. Vítima de afogamento na Praia do Náutico foi socorrido com dispnéia para o Hospital São Matheus?. Note bem as iniciais: E.D.S.N. em vez de M.D.S.N. Ressalte-se que todas as notificações no boletim omitem o nome completo dos envolvidos. No entanto, adivinhar que E.D.S.N. era fruto da digitação errada das iniciais de Manuel Duca da Silveira Neto está longe da atribuição de qualquer jornalista. Quanto à falha do Ciops, não há como provar se foi voluntária ou não, mas é evidente que impediu o trabalho da imprensa.

Uma greve sem números

Qual é, afinal, o índice de adesão dos professores à greve nas escolas municipais? Se depender do que informam os representantes do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sindiute) e os gestores públicos, o leitor não terá a mais pálida idéia do tamanho do movimento. Nenhum dos jornais locais, emissoras de TV ou rádios se deu ao trabalho de ir além dos números fornecidos pelos dois lados da questão. O Sindiute informa que 80% da categoria está sem trabalhar. A Prefeitura de Fortaleza diz que 90% retornou às aulas. No meio dos percentuais, a imprensa não parece se incomodar com a divergência. E também não parece disposta a fazer o dever de casa: ir às escolas conferir o que publica. A propósito, a imprensa tem apresentado o movimento como algo isolado, como se não interferisse na vida da comunidade. E, inexplicavelmente, ainda não informou o que pais e alunos acham da greve.

Sob nossas barbas

A sintonia com as causas regionais é um dos fundamentos do O Povo. O item ?Regionalidade?, da Carta de Princípios do jornal, expressa o seguinte: ?A defesa das aspirações e dos valores da Região, prolongamento do conceito maior de nacionalidade, incorporou-se às tradições do O Povo, desde os tempos do seu Fundador. A defesa dos interesses regionais e o combate ao subdesenvolvimento constituem a projeção natural das expectativas dirigidas para a consolidação de um pacto federativo justo e harmonioso?. Compromissos como esse, porém, nem sempre são observados. Terça-feira última, a coluna Política informava que a Sudene pode estar sendo novamente condenada à morte pela reengenharia financeira que se maquina nos bastidores de Brasília. Tida como instrumento político e técnico fundamental para o desenvolvimento do Nordeste, a Sudene foi recentemente recriada pelo Governo Federal. Mesmo com a importância social do órgão, reconhecida ao longo de anos pelo O Povo, nenhuma matéria que aprofundasse as informações da coluna foi feita até agora. Aliás, não ter suas próprias colunas como fonte de pautas é um mal do qual o jornal padece. O engraçado é que informações contidas no O Povo se tornam matérias em outros jornais. Pensando bem: o que tem de engraçado nisso?

Há remédio, sim

O primeiro tópico da Coluna da semana passada analisava, sob o título ?Há remédio para isso??, a divulgação de uma lista de 150 medicamentos cujos preços foram reduzidos pelo Governo Federal. No texto, citei jornais que elegeram o assunto como manchete do dia 4, entre os quais O Povo e o ?Diário do Nordeste?, e observei que um ponto essencial, o de que a maioria dos produtos destinava-se ao uso hospitalar, não foi notado. E fiz a seguinte constatação: ?Nenhum (…) se preocupou em observar que a diminuição dos custos dos remédios relacionados pouco provavelmente chegará aos consumidores, já que os hospitais privados não deverão recuar no que cobram pelos procedimentos em função da medida governamental. Todos ficaram limitados às informações enviadas pelas agências de notícias?.

Nas edições seguintes, O Povo, mesmo tendo a Redação sido alertada para a omissão no comentário que enviei na manhã do dia 4, não levou aquele dado ao leitor. Mas a justiça deve vingar: O Povo e o ?Diário do Nordeste? o fizeram. Sexta-feira, dia 5, informaram que as novas tabelas de preços até então não haviam chegado às farmácias e que o impacto da redução não chegaria ao consumidor.

E o pouso?

Apelar para expressões populares às vezes tem sentido positivo. Aproxima-se, assim, o leitor de cenários que nem sempre estão muito próximos a ele. Mas só às vezes, já que o coloquialismo corre o risco de gerar situações inusitadas. Como este título, publicado sexta-feira, em Economia: ?Investimentos – Siderúrgica pode decolar em 2004?."