O POVO
"Caminho sem volta", copyright O Povo, 21/12/03
"A instituição do ombudsman no O Povo completou 10 anos quarta-feira, 17. Tenho sempre registrado a importância que a função assumiu não só para os leitores, mas para toda a sociedade. Não se trata de auto-elogio, mas do reconhecimento de quanto a autocrítica é necessária, de que a admissão do erro abre atalhos para o acerto e de que a celebração do acerto consolida a função social do jornalismo, selando um compromisso com a qualidade. No mais positivo dos sentidos, O Povo trilha um caminho no qual não pode recuar. Prova maior é o franco estímulo que a empresa tem assegurado à criação de ouvidorias nos setores público e privado. A Associação Brasileira de Ouvidores, seção do Ceará, foi fundada em 1996 com apoio do O Povo e teve como primeira presidente a jornalista Adísia Sá, primeira ombudsman do jornal.
E é a Adísia que recorro para ilustrar a coluna com três observações. Foram pinçadas do texto ?A ombudsman se apresenta?, que inaugurou a coluna pública do representante do leitor do O Povo, em 20 de dezembro de 1993. A primeira retrata a opção pelo jogo aberto: ?Ao assumir o ombudsman, este jornal se compromete e compromete quem passa a ocupar esta função perante o leitor ? ser transparente, não usar de ?artificialismo ilusório? para esconder ou omitir os próprios erros ou equívocos, falhas e defeitos?. A segunda define o cargo: ?O ombudsman se apresenta ao leitor como seu porta-voz, intérprete e arauto ? e, para desempenhar fielmente o seu mandato, é livre e independente e transita não na impunidade, mas na autonomia de uma atividade que não lhe permite ser demitido, advertido ou censurado pela empresa??. A última se refere ao papel do público nesse processo de crescimento: ?O leitor vai conviver, no seu dia-a-dia, com um produto que também está ao seu alcance para melhorar. O leitor terá, então, a certeza de que é co-responsável pelo que adquire e lê. O leitor vai se sentir não um ser passivo e plástico e à mercê do jornal ou do jornalista ? mas alguém que fala, recebe e responde?.
Casa de ferreiro
Ainda sobre ombudsman, o jornal publicou terça-feira matéria intitulada ?Reunião ? O Povo: dez anos de ombudsmato?. No texto, uma passagem que deve ter surpreendido ? ou pior, assustado ? os leitores: ?O atual ombudsman, Roberto Maciel, também destaca a função como uma ?pós-graduação? para o jornalista, que precisa deixar a Redação e ?ser condescendente com os erros e equívocos da Redação, para ver como o leitor está recebendo a informação??. Também fiquei surpreso. E assustado. Eu havia falado o contrário: a necessidade de o jornalista que deixa a Redação para ser ombudsman não ser condescendente com o erro e impor o máximo de rigor à análise. Com isso, poderá contribuir com a qualidade de um produto que, com características peculiares, tem profundas influências no pensar da sociedade. Aliás, nem eu nem os seis ombudsmen que me antecederam nem o jornalista Gualter George, que em 2004 exercerá a função, fomos indicados porque achamos que se deve ?ser condescendente? com ?erros e equívocos?.
Tentou-se corrigir o espeto de pau na casa do ferreiro na quarta-feira, em ?Erramos?. Na verdade, um arremedo: ?A matéria ?Reunião ? O Povo: dez anos de ombudsmato? da edição de ontem (Fortaleza, página 4) saiu com um erro na fala do ombudsman Roberto Maciel. O correto é: ?o atual ombudsman, Roberto Maciel, também destaca a função como uma ?pós-graduação? para o jornalista, que precisa deixar a Redação e ?de ser condescendente com os erros e equívocos da Redação, para ver como o leitor está recebendo a informação??. Além de mal escrita, a nota não deu ao leitor o direito de comparar o erro com o reparo.
Mal traçadas linhas
Um José Genoíno demoníaco, trazendo espetadas em um tridente as cabeças da senadora Heloísa Helena e dos deputados João Batista Oliveira, o ?Babá?, e Luciana Genro, compunha a charge do O Povo na terça-feira. Registrei para a Redação um erro de análise, por certo contaminado por um erro de informação. Mesmo Genoíno, presidente do PT, tendo trabalhado e votado pelo expurgo daqueles parlamentares do partido, não se pode atribuir a ele a imagem do mal. A decisão foi de 83 integrantes do Diretório Nacional do PT ? coletiva, portanto ? que, muito além de uma solução passional para punir dissidentes, basearam-se no Estatuto da sigla.
O Povo, na segunda, reproduzira trechos da norma petista que trata de indisciplina e de punições a filiados. Na frieza das regras, a expulsão era o desfecho previsível. É possível que se analise o caso como uma contradição política, considerando que os dissidentes não foram além das deliberações históricas do PT, mas não é tão simplório assim. Afinal, há hoje um outro cenário, subordinado a decisões e diretrizes diferentes. Por isso, contradição seria não expulsá-los. Mas, em nome de um humor duvidoso, ignorou-se a informação para satanizar Genoino.
Pesos e medidas
Domingo, nota na página 3 noticiava a prisão de um empresário por estelionato, tornando público o nome do acusado. Só que o jornal não fundamentava a acusação. Nem que tipo de estelionato teria sido praticado. Não ouviu o empresário, não ouviu o advogado dele e nem o delegado que o prendeu. A única fonte era um inspetor de Polícia. E veja, leitor, que imprecisão: ?As informações foram dadas pelo inspetor da Capturas identificado como Paulo. Ele acrescentou que as outras informações sobre o inquérito são sigilosas?.
No último dia 6, O Povo não citou o nome da dona de uma loja no Centro, na qual a Polícia apreendeu 2,3 mil DVDs piratas, alegando que não tinha conseguido ouvi-la. Certamente não patinaria na ética se revelasse como ela se chama ? estaria respaldado pelos 2,3 mil DVDs fajutos, que não devem ter ido parar na loja num milagre de Natal. Por que os dois pesos e as duas medidas?
Voando
A Editoria de Esportes informava, quinta-feira, que o jogador Iarley ?desembarca hoje no aeroporto Pinto Magalhães, em Fortaleza?. Que o leitor não se aperreie: o aeroporto de Fortaleza continua denominado Pinto Martins. ?Pinto Magalhães? é obra e graça de uma agência de notícias, com a devida cumplicidade de quem editou a matéria no O Povo. No mesmo dia, pedi verbalmente à Chefia da Redação que reparasse a falha, mas isso não foi feito."