O POVO
"Quem são os radicais do PT?" copyright O Povo, 9/2/03
Na última quarta-feira, O Povo abordou a crise instalada no PT com a recusa de alguns parlamentares de apoiar determinadas decisões do governo Lula. O estopim foi a postura da senadora Heloísa Helena (AL), que se negou a votar em José Sarney (PMDB-AP) para a presidência do Senado. Ela alegou que se contradiria e contrariaria deliberações partidárias se votasse em Sarney. A matéria enfocava as ameaças de enquadramento dos descontentes feitas pela cúpula do PT e tratava também das alas petistas, relacionando as principais em um quadro. Algumas tinham um perfil ideológico esboçado. Outras não.
A matéria incomodou o arquiteto Joaquim Cartaxo, integrante do Diretório Estadual do PT. Por e-mail, ele manifestou ‘perplexidade quanto à forma e ao conteúdo da matéria’, reclamando da classificação de ‘radicais’ dada a ‘parlamentares que têm outras idéias quanto a ações que estão sendo desenvolvidas tanto no executivo como no congresso nacional’. ‘Este tipo de classificação reduz, sobremaneira, a riqueza de uma característica primaz do PT como um sujeito político que participa intensa e organicamente da construção da sociedade brasileira: promover o debate interno de modo democrático e público, associado a ações concretas de contribuir com a organização da sociedade, a ampliação da cidadania e a radicalização da democracia’.
Segundo Cartaxo, as deliberações do PT expressam a vontade da maioria, mas a minoria não fica impedida de expor suas posições. Por isso, diz, os ‘que deixam de cumprir as decisões não podem ser nominados de radicais, mas de praticarem a infidelidade partidária’. O arquiteto apontou uma falha: ‘Quanto às correntes do partido, a matéria não informa ao leitor quem foi o classificador que emitiu os atestados das que eram de esquerda ou de direita (…). A editoria de política deveria esclarecer ao público (…) o que considera posições políticas de esquerda e de direita, bem como estudar as teses de cada corrente para identificar as que se aproximam e se afastam de seu enquadramento ideológico’.
O editor-executivo do Núcleo de Conjuntura, Gualter George, e o editor-adjunto Erick Guimarães discordam do leitor. E expõem a seguir seus pontos de vista, recorrendo até ao ‘bom e velho Aurélio’. ‘Radicalismo – 1. Doutrina ou comportamento dos que visam a combater pela raiz as anomalias sociais mediante a implantação de reformas absolutas. 2. Qualquer doutrina ou comportamento que, sendo politicamente inflexível, provoca antagonismos (Cf. nesta acepção, jacobinismo). 3. Comportamento ou opinião inflexível’. Não nos parece que os radicais do PT tenham qualquer objeção ao primeiro significado. Da mesma forma, parece-nos adequado o uso da segunda acepção diante de uma situação em que estão sendo postos em conflito as diretrizes normativas do partido e os compromissos de campanha (…). Não custa lembrar que, no começo desta semana, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, falou dos radicais do partido’.
É fato que nos debates internos do PT o termo ‘radical’ aparece com freqüência, sempre para demarcar posições. É importante destacar ainda que radicalizar em certas posturas é atitude legítima no convívio democrático, seja no meio progressista ou no conservador, o que não foi lembrado por Cartaxo nem por Gualter e Erick. Os jornalistas apontam esse viés, citando considerações curiosas: ‘O deputado João Alfredo, por exemplo, se definiu como um radical moderado’. O deputado Chico Alencar (RJ) se definiu como radical de centro’. Quanto à classificação das alas do PT, os editores admitem a falha: ‘O quadro deveria informar a fonte’. Eles dizem que a base foi a revista Primeira Leitura. ‘É bem verdade que os rótulos de direita e esquerda não são conceitos absolutos (…). Antes, trata-se de um posicionamento no espectro ideológico. Definir um partido como de direita ou de esquerda atende, claro, um determinado grau de subjetividade’. Segundo eles, ‘O Povo (…) não se utilizou aleatoriamente dos conceitos direita-esquerda. Para perceber isso não é necessário consultar as teses defendidas pelas tendências nos congressos do PT. O melhor é partir para uma constatação fática, cujo melhor laboratório foi a campanha eleitoral do ano passado’.
Tiros, pânicoe visões diferentes
Também na quarta-feira, um choque no noticiário. Um aluno do Curso de Mestrado em Economia da Universidade Federal do Ceará havia sido morto na sala de aula, na terça, por três supostos assaltantes. O Povo e Diário do Nordeste trilharam caminhos diferentes. ‘Assalto na UFC – Universitário assassinado na sala de aula’ foi a manchete do O Povo. ‘Arrastão no campus – Policial morto durante tiroteio em sala de aula’ foi a opção do Diário. Ambos acertaram, mas é de se considerar a angulação diversa. O aluno, José Francisco Pinto Soares, era policial federal, mas não cumpria ali nenhuma missão. Era um universitário, como os demais, com a diferença de estar armado. O Povo avaliou a situação de forma adequada ao identificá-lo assim.
Uma constrangida correção
A notícia mal apurada gera, inapelavelmente, constrangimentos. A seguir, um exemplo extraído da coluna Reportagem, assinada pelo jornalista Lúcio Brasileiro. Sábado, 1? de fevereiro, foi publicada a seguinte nota: ‘No La Boh?me da rua Tabajaras, matriarca Marilac Fiúza pilotando nada menos que seis dos gerados de Roberto’. Na última sexta-feira, a correção: ‘Marilac Fiúza adoraria ter jantado com os filhos, como esta coluna noticiou, mas não pôde, por dez motivos, principal, ela já morreu’. Sem comentários.