TERROR & HORROR
"Internet conquista audiência e respeito do usuário", copyright O Estado de S. Paulo, 13/09/01
"Aqueles que duvidavam do poder da Internet terão de rever boa parte dos seus argumentos. Dois acontecimentos recentes – o seqüestro da filha do apresentador Silvio Santos e os ataques terroristas em Nova York e em Washington – colocaram a Internet ao lado da TV como fonte básica de informação em tempo real. As emissoras que transmitiram ao vivo os dois episódios e os seus desdobramentos bateram recordes de audiência, o mesmo ocorrendo com os principais sites de notícias do País.
E isso não ocorre apenas quando se tratam de catástrofes. Pouco a pouco, a Internet também consolida uma audiência cativa e específica no dia a dia – esta sim, sem concorrência com nenhum outro meio de comunicação, pelo menos enquanto não chegar por aqui a terceira geração de celulares ou a chamada banda larga. Exemplo desse predomínio ocorre na oferta de serviços bancários.
Todos os meses, cerca de 4,7 milhões de pessoas maiores de 18 anos, a grande maioria situada nas escalas A e B da pirâmide social, acessam, a partir de suas casas, algo em torno de 2 bilhões de páginas diferentes na Internet.
Talvez cause surpresa, mas uma em cada seis dessas páginas está localizada em um site de banco.
É isso mesmo: Itaú, CEF, Banco do Brasil, Bradesco, Real e Unibanco, em uma relação liderada pela Receita Federal, tiveram em conjunto 293 milhões de páginas diferentes acessadas em julho. Se tivessem em um mesmo endereço, a audiência desses sites seria a segunda maior da Internet brasileira, o que demonstra bem o poderio do setor financeiro também no mundo www.
Sob os mais variados pontos de vista, o setor bancário brasileiro ostenta números expressivos na Internet, não apenas por aqui, mas também se comparados com os EUA, o berço do capitalismo e da própria Web. Um levantamento divulgado recentemente pelo The New York Times concluiu que entre 22% e 25% dos clientes dos dois maiores bancos privados brasileiros – Bradesco e Itaú – realizam regularmente operações financeiras on-line – uma participação relativa bem maior do que os 15% do Wells Fargo, líder no mercado americano de transações bancárias pela rede.
O curioso nessa história é que a desconfiança do usuário brasileiro, que o impede de digitar o número do seu cartão de crédito na Internet e que tem sido apontada como o grande entrave para a expansão do comércio eletrônico no País, parece não prosperar no site do seu banco – assim como já não funcionava em postos de gasolina, restaurantes ou parques de diversão.
Mensagens do tipo ?fique tranqüilo, pois você está em ambiente seguro? é aceita como garantia e logo você estará digitando não apenas os números de sua conta bancária, mas também – pasme! – a sua senha ?pessoal e intransferível?. A partir daí, é como se estivesse na própria agência, utilizando de praticamente todos os serviços disponíveis no mundo real, com a vantagem de não precisar enfrentar filas torturantes – ou seguranças sempre prontos a duvidar de um inofensivo telefone celular.
Talvez seja essa a receita para o sucesso na Internet: sites que facilitem as nossas vidas – seja informando e explicando o que está acontecendo agora do outro lado do Atlântico, seja encurtando caminhos entre você, a agência bancária ou a bilheteria do cinema. Infelizmente, por mais simples que possa parecer, a fórmula ainda é ignorada por um bom número de endereços na Internet.
Correio eletrônico para todos A série de ataques terroristas sobre Nova York e Washington certamente vai tirar o brilho de uma importante medida adotada pelas autoridades de Houston, também nos Estados Unidos. No início da semana, o governo local deu um passo importante contra a chamada exclusão digital, ao oferecer, de uma só vez, a todos os seus 2 milhões de habitantes, contas gratuitas de e-mail e acesso a um software que reúne processador de texto, planilha de cálculos, agenda e outros aplicativos úteis no dia-a-dia. A iniciativa, inédita nos EUA e provavelmente no mundo, foi possível graças a um convênio entre o governo local e a Internet Access Technologies, a empresa que desenvolveu o software, que recebeu o sugestivo nome SimHouston (www.simdesk.com).
A diferença básica de outros sistemas de disseminação do uso da Internet está no fato de que o software é instalado em servidores centrais e não nos computadores pessoais, o que reduz consideravelmente os custos e permite o acesso a partir de qualquer máquina conectada à Internet. Jornais norte-americanos especulam que outras cidades devem adotar providências semelhantes nas próximas semanas. O último levantamento da Nielsen/NetRatings revela que três em cada cinco norte-americanos têm acesso a um computador conectado à Internet em casa ou no local de trabalho.
Sons para celulares Cansado de ouvir sempre o mesmo tom de chamada do seu telefone celular? Que tal personalizá-lo com um trecho da trilha sonora de Os Flinstones, de A Pantera Cor de Rosa, Missão Impossível ou até mesmo do hino do seu clube de futebol? Embora de utilidade e gosto discutíveis, centenas de endereços na Internet estão oferecendo o serviço, em um leque de opções que agrada a alguns, diverte a outros e irrita a muita gente. Alguns sites chegam ao requinte de oferecer softwares de edição, que permitem ao usuário ?compor? o som que quer ouvir ao atender uma ligação, usando como notas musicais as próprias teclas do aparelho celular.
Para quem estiver interessado – ou apenas quiser se divertir um pouco testando as opções disponíveis – aqui vai uma dica e uma advertência. A dica: utilize como palavras-chave em um site de buscas ?ring tones?, ?toques de campainha? ou ?som para celular?. A advertência: de cada dez endereços que vão aparecer na sua tela, pelo menos sete oferecerão o serviço gratuitamente de forma, digamos, ?informal?. Segundo a Envisional, uma empresa inglesa especializada em identificar conteúdos piratas na Internet, essa ?informalidade? causa um prejuízo diário de US$ 1,5 milhão às empresas detentoras dos direitos autorais dos tais ring tones."
"Canais americanos não levaram ao ar as ?piores? imagens", copyright O Estado de S. Paulo, 13/09/01
"As emissoras americanas se censuraram durante a cobertura do atentado ao World Trade Center, em Nova YorK e Washington.
CNN, ABC, FOX, NBC e CBS evitaram exibir todas as imagens de feridos, de cadáveres e corpos caindo das torres gêmeas. A CNN, por exemplo, durante sua ininterrupta transmissão ao vivo, mostrou só por um instante a imagem de vítimas que pulavam das torres e isso pouco depois de advertir os telespectadores sobre o que iriam ver, uma imagem que viria a ser reproduzida pela mídia mundial. Em seu lugar, as redes americanas repetiam, sob os mais diversos ângulos, as cenas do avião colidindo com o edifício.
A histórica natureza dos acontecimentos levou as redes de TV a entrar em acordo para repartir as gravações, tomadas ao vivo e informações obtidas, removendo o fator ?competição? de seu trabalho.
Centenas de vezes as emissoras reproduziram a imagem do jato se chocando contra a Torre Sul enquanto a Norte estava envolta em chamas. À noite, surgiu um filme com as cenas do primeiro Boeing se espatifando contra a Torre Norte. Eram imagens de um câmera que estava fazendo um filme para treinamento da corporação dos bombeiros numa rua perto do World Trade Center. Quando ele ouviu o barulho de um jato voando baixo, posicionou o equipamento na direção da torre e captou o impacto, explicou o editor da agência Gamma Press, J. P. Pappis, que comprou o clip por um valor não revelado e depois vendeu os direitos para a CNN e a Associated Press Television News.
Cerca de 60,5 milhões de pessoas acompanharam a cobertura do ataque no telejornal Prime Time da NBC na noite de terça-feira, 17,6 milhões na ABC, 14,4 milhões na CBS e 6,1 milhões na Fox, de acordo com o instituto de pesquisas Nielsen. A empresa não divulgou levantamentos sobre as emissoras a cabo.
?O que nós acabamos de ver é o mais chocante videoteipe que eu já vi?, disse Matt Lauer, da NBC, após presenciar ao vivo o avião se espatigando contra a Torre Sul.
A mais impressionante imagem daquele segundo ataque não foi feita por nenhum dos poderosos meios de comunicação do país que cobriam o ataque, mas pelos produtores de um seriado de TV sobre um médico, que estava com uma equipe em Manhattan naquele dia. Ela mostrou o Boeing entrando no prédio e, depois, seu nariz saindo do outro lado do edifício.
Filmes – As emissoras foram rápidas ainda em tirar do ar filmes de ação repletos de efeitos especiais, programados para o fim de semana. A Fox ia exibir no domingo Independence Day, que mostra alieníginas explodindo alvos em Nova York, Washington e Los Angeles e, na sexta-feira, um episódio do Arquivo X em que Murder e Scully investigam a explosão de um prédio em Dallas.
A ABC cancelou O Pacificador, com George Clooney e Nicole Kidman interpretando agentes do governo que vão atrás de terroristas que estão de posse de armas nucleares."
"TV brasileira teve audiênica recorde e mostrou sua força", copyright O Estado de S. Paulo, 13/09/01
"O terrorismo nos Estados Unidos representou um marco para a TV brasileira. Antes de tudo, a cobertura dos atentados ao World Trade Center foi um marco de audiência. Garantiu só ao Jornal Nacional de terça-feira o maior ibope do programa no ano. Com meia hora a mais que o habitual, invadindo o horário em geral destinado à novela Porto dos Milagres, o jornalístico mais visto da TV teve 52 pontos de média, e 60 de pico na Grande São Paulo.
O atentado deixou para trás tanto a cobertura do JN sobre o seqüestro de Silvio Santos (em 28 de agosto) quanto a da morte de Jorge Amado (6 de agosto), ambas com 45 pontos de média. A cobertura da morte de Mário Covas (6 de março) vem logo em seguida, com 41 pontos.
O desempenho do JN expressou o da programação dos canais abertos durante todo o dia, em que 45% das residências paulistanas ficaram sintonizadas no caso entre as 9h30 e 16h30. A média no horário é de 39%. Cada ponto no ibope representa 46 mil casas com TV na Grande São Paulo.
Superioridade – O saldo da terça-feira, no entanto, foi mais amplo que o da audiência. Com o atentado, a TV evidenciou sua força como veículo em tempo real, status que parecia ameaçado com a concorrência da Internet. Na terça, os grandes sites internacionais de notícias ficaram travados, congestionados ou reduziram o uso de áudio e vídeo, para não sobrecarregar a navegação. O site de pesquisas Google chegou a recomendar aos usuários que buscassem fatos novos na TV.
Ontem, só a TV paga (GloboNews, CNN, BBC e Band News) manteve a cobertura em tempo integral iniciada no dia anterior. A televisão aberta voltou ontem à sua programação normal e, quando retratou o fato, centrou-se em reconstituições, no resgate de feridos, nos depoimentos de sobreviventes e na caça aos suspeitos. Band e Record fizeram de seus programas de entretenimento uma extensão de seu jornalismo.
O tratamento de show do atentato fez com que alguns dos problemas da cobertura do dia anterior se repetissem. Na falta de fatos novos, predominou a criatividade do show. No Melhor da Tarde (Band), Astrid Fontenelle transformou a cobertura num misto de entrevistas e enquetes pueris (?O atentado vai afetar sua vida??). O Note & Anote (Record) revidou com o relato de um sobrevivente do incêndio do Joelma, na São Paulo dos anos 70.
Opções – No Brasil, Cultura e GloboNews privilegiaram o debate com historiadores e cientistas políticos, com análises e projeções, enquanto no exterior CNN e BBC de Londres centraram-se no relato factual do ?day after? americano. O diferencial da CNN de ontem foi uma pesquisa feita em parceria com o jornal USA e o instituto de pesquisas Gallup, em que nove em cada dez norte-americanos acreditam que os atentados são um ato de guerra."
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"Cobertura da TV reproduziu a perplexidade do grande público", copyright O Estado de S. Paulo, 12/09/01
"O que você estava fazendo quando soube dos atentados terroristas nos Estados Unidos? A pergunta, nervosa, emocionada, feita ontem pela apresentadora Soninha a um grupo de adolescentes na Cultura, repetia a que ficou no imaginário americano após a morte de John Kennedy. Se fosse dirigida a pelo menos metade das casas paulistanas, a resposta seria simples: todos ficaram com os olhos vidrados em um televisor.
Entre 9h30 e 16h30, 45,2% das casas com televisor da Grande São Paulo estiveram sintonizadas. A média habitual do horário é 39%. Pela primeira vez na história, um marco do terrorismo mundial foi visto ao vivo, amplificando as emoções em torno do caso.
A TV dos EUA reproduzia a perplexidade do público a que se dirigia. Ancorada nas imagens de redes como CNN e ABC, a TV brasileira sentiu os limites da cobertura norte-americana. Muito apelo emocional e informações desencontradas marcaram o dia.
A Globo retirou-se da transmissão direta às 14 horas, quando passou a exibir flashes. À tarde, quando as informações até então desencontradas já se consolidavam, RedeTV! e Band chegaram a apelar para videntes para falar do caso. Foi nesse momento que a Record começou a virar o diferencial da cobertura.
Pela primeira vez, José Luiz Datena dividiu o palco do Cidade Alerta com Boris Casoy e Rodolfo Gamberini. A superioridade da Record viu-se traduzida numa eficiente edição de imagens, a selecionar o principal de cenas, informações e entrevistas com testemunhas, que outros repetiam, desordenamente.
O aumento geral de ibope não mudou os índices habituais da TV aberta. A média da Globo foi de 19,9 pontos. O SBT, que se limitou a flashes, cravou 11,6. A Record ficou com 4,7. RedeTV! e Band tiveram pouco mais de 1 ponto (1,9 e 1,3 respectivamente), Gazeta e Cultura com 0,7 cada. Cada ponto equivale a 46 mil casas na Grande São Paulo.
O atentado mudou a programação. Até a musical MTV entrou no assunto, com um debate no Contato. Nos EUA, o Emmy Awards, 2001, o Oscar da TV americana, que iria ao ar no domingo pelo canal Sony, foi adiado indefinidamente."