Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Rodrigo Dionisio

REALITY SHOWS

“?Casa 2? atesta a ressaca das segundas edições, copyright Folha de S.Paulo, 22/5/02

“Mais do que demonstrar um possível fracasso do SBT, a final de ?Casa dos Artistas 2?, no domingo passado, confirma ?síndrome? que atinge as segundas versões dos ?reality shows?.

A atração da emissora de Silvio Santos registrou ibope decrescente a cada domingo, dia-chave da produção (veja quadro ao lado). Teve em seu último capítulo média inferior ao do primeiro programa da segunda versão.

Fato semelhante havia ocorrido com ?No Limite?, da Globo, cujas segunda e terceira versões registraram ibopes inferiores à primeira. ?Big Brother Brasil 2? marcou na estréia 20 pontos a menos do que o início do primeiro.

Para o sociólogo e professor da USP (Universidade de São Paulo) Laurindo Leal Filho, a explicação é ?óbvia?. ?Esses programas deixam de ser novidade muito depressa por terem fórmula pobre.?

Já patrocinar ?reality shows? parece se manter como um bom negócio. O SBT afirma até que parte da queda de audiência de ?Casa 2? foi causada pelo número maior de intervalos comerciais.

?As TVs testam de tudo. O que não dá certo é descartado. O mercado publicitário é caudatário desse processo, às vezes um ou outro anunciante ?saca? a coisa antes, como a Fiat [patrocinadora de ?Casa? e ?BBB’?, e se dá bem?, afirma Daniel Barbará, diretor comercial da agência DPZ.

Ainda assim, outra semelhança entre os diversos ?reality shows? tem sido a diminuição do quanto é cobrado pelos anúncios.

?A redução dos valores tem demonstrado que a proporção custo e benefício precisa ser mantida. Em razão da menor audiência projetada, é necessário diminuir o valor dos patrocínios?, diz o consultor Antonio Rosa Neto.

Segundo o diretor de programação do SBT, Mauro Lissoni, ?Casa 2? ?foi altamente rentável?. ?Além das cotas de patrocínio serem vendidas antecipadamente, tivemos grande demanda de anúncios avulsos.?

Quanto à duração reduzida de ?Casa 3? (que estréia em 2 de junho e fica 59 dias no ar, um mês a menos que a segunda), o diretor diz ser essa a forma de melhorar a receptividade da atração e aumentar a ?fidelidade? do público.

Outras alterações, como reunir seis famosos e seis fãs (as duas primeiras só tinham ?artistas?), visam claramente recuperar a audiência. ?Mas temos a consciência de que um desempenho idêntico ao da primeira edição é muito difícil, uma vez que o ?fator surpresa? inexiste?, diz Lissoni.”

“Formato sofre com esgotamento precoce”, copyright Folha de S.Paulo, 22/5/02

“Terminaria ontem a performance do ?Urban Dream Capsule?, o grupo australiano que passou 15 dias em exibição em uma vitrine da avenida Paulista, em São Paulo, como um museu vivo, uma tela animada.

Em semana marcada pelo encerramento da segunda edição de ?Casa dos Artistas? e pelo início da segunda versão do ?Big Brother Brasil?, a realização do grupo de atores australianos reforça a sensação de que o ?reality show? está por toda a parte.

A preocupação com a intervenção na vida cotidiana anima trabalhos em diversas áreas de manifestação artística, abarcando um espectro amplo que perpassa a ?alta? e a ?baixa? cultura. O artecidadezonaleste, a Bienal e exibições australianas são exemplos recentes no campo das artes plásticas com contribuições que fazem eco aos ?reality shows?, cuja carreira na TV brasileira, em ampla ascensão, parece ameaçada por um esgotamento precoce.

?Casa dos Artistas 2? terminou com pouco alarde no domingo, prometendo voltar juntando os dois lados da tela: fãs e artistas. ?BBB? voltou com efeito sonífero acentuado, namoricos, futricas irrelevantes entre e sobre pessoas que pouco interessam.

A novela, gênero ?proto-interativo?, herdeiro do folhetim do século 19 e precursor do ?reality?, também concorre nessa faixa. Benito de Paula cantando na Bar da Jura ou o discurso de salvação de ex-drogados são exemplos de ?janelas abertas para o mundo?.

O experimento australiano atraiu curiosos que se aglomeraram para se comunicar com aqueles seres carecas de língua inglesa que procuravam macaquear alguma graça do lado de lá da tela.

A movimentação estimulava o lado de cá, onde pessoas tentavam chamar a atenção dos estrangeiros com expressões corporais, coreografias baratas, qualquer gesto que pudesse causar distinção. O efeito gerado pela performance pouco se diferencia do banal estimulado pelo ?reality show?.

A disseminação de formatos que incorporam interlocuções diversas ao trabalho artístico gera ao mesmo tempo uma sensação de mesmice e o desafio de pensar critérios que permitam traçar distinções significativas. Videoinstalações, fotomontagens, performances e ?reality shows?, que só existem na medida em que inscrevem uma interlocução no próprio corpo do trabalho, apresentam graus diferentes de relevância.

Versões do desafio de reconhecer a relatividade e a efetividade da representação, ?reality shows? poderiam emplacar se reconhecessem no interlocutor um ser inteligente, capaz de ir além da lição de moral da novela ou do exibicionismo dos jogos eliminatórios.”

“O ridículo não tem limites na TV”, copyright O Estado de S.Paulo, 26/5/02

“A Casa dos Artistas 2, cujo modelo imaginou-se estar esgotado quando não deu tanto ibope quanto na primeira edição, para alegria de Silvio Santos, terminou com 40 pontos de média (na Grande São Paulo) na noite de domingo.

A primeira eliminatória do Big Brother Brasil 2 ? na noite de terça ? também foi bem na audiência, com média de 30 pontos no Ibope. Isso significa duas coisas: 1) a onda dos realities shows ainda vai perdurar e 2) o ridículo não tem limite quando se trata de TV.

O denominador comum entre os dois programas é, além da deslavada pieguice, a previsibilidade ?dramática?. Como esses programas já têm história, diretores, câmeras, produtores e participantes dispõem de um script que seguem à risca, cujas principais marcações devem ser: closes em cara de aflição, destaque para expressão de surpresa, muita conversa jogada fora e edição das falas que revelem melhor as fragilidades de cada um ou denunciem intrigas. E lágrimas, muitas lágrimas.

Domingo, o premiado da Casa dos Artistas, do SBT, Rafael, achou pouco as caretas, rezas e o choro, e pulou de roupa e tudo na piscina. Foi seguido pela mãe, a cantora Vanusa, que não se importou de borrar o rímel na água clorada para estar na cena que (deve ter imaginado ela) seria o emblema da vitória de Rafael. Em volta, os ex-inquilinos da Casa confraternizavam-se com uma taça de champanhe em punho (outro cacoete sacramentado), enquanto respondiam bobamente às tolas perguntas do ?repórter? Alexandre Frota.

A própria natureza do SBT faz com que a breguice seja escancarada. No reinado de SS não se doura a pílula, tudo é exposto como é. Na Globo, as coisas são um pouco diferentes. Existe a preocupação de dar um certo verniz, a começar pela criação do tal ?clima?. Uma repórter vai para a rua fazer enquete sobre quem deve ou não sair da casa.

A participação de Pedro Bial também é um esforço de sofisticação. Afinal, ele é amante da literatura e milita como entrevistador de autores consagrados na TV paga. A casa-gaiola é mais bem decorada e até o trivial do menu parece mais variado. Mas as diferenças ficam por aí.

É pura miopia achar que os moradores da Globo são mais bem equipados intelectualmente que Ricardo Macchi, Rafael, Tiazinha ou Syang. O nonsense dos diálogos da Casa 2 ? que incluíam ETs, discos voadores, malhação e altas filosofias (Macchi foi aconselhado por Lulo a usar sua sabedoria como ?marketing?) ? é parecido com o que ocorre no BBB2.

A aeromoça Cida foi poupada do cadafalso em detrimento da cartomante Rita. Nem por isso economizou lágrimas e análises sobre as qualidades e defeitos da humanidade, tentando explicar o que, de sua natureza, incomodou os colegas. Excluída, Rita pediu aos moradores que nunca mais se precipitassem nos julgamentos, lamentando não ter tido tempo para ser entendida.

Para convencer os internautas a salvá-la do desterro, Rita expôs mais sua intimidade: só foi para a casa da Globo porque precisa do dinheiro para pagar uma inseminação artificial. A câmera foca no marido, nos bastidores, enquanto Bial reforça: o maior sonho de Rita é ser mãe.

Do lado de fora, a choradeira da excluída. Dentro do estúdio, Thaís, a bonitinha comunicativa, desmanchava-se em prantos por causa dos conselhos da feiosa Tina para deixar de ser ?carinhosa? com a ala masculina. Os rapazes tomaram as dores dela com expressões solenes: ?Nada a ver essa de julgar as pessoas?. ?Ela estava com ciúme?, chegou mais perto da verdade um outro. ?Não sou corrimão e nem piranha?, defendia-se a ofendida.

Como se vê, as discussões dentro do BBB2 são passíveis de ser acompanhadas por qualquer artista que freqüentou as Casa 1 e 2, do SBT.”