Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Rodrigo Dionisio

PICA-PAU AMARELO

"Novo ?Sítio? consegue manter espírito original", copyright Folha de S. Paulo, 21/10/01

"Pedrinho, menino da cidade, chega ao interiorano sítio de sua avó. Como primeira providência, toma por parceira Narizinho e vai se divertir brincando de pega-pega e nadando em uma lagoa.

De presente para a prima, traz uma boneca moderna, que fala e anda. Mas não era preciso, já que há na casa Emília, boneca de pano que fala, anda e pensa. Mais divertido ainda é fazer, com as próprias mãos, um brinquedo novo, de sabugo de milho, e, assim, acabar criando o visconde de Sabugosa.

Essas são cenas dos primeiros capítulos do novo ?Sítio do Pica-Pau Amarelo?, no ar desde o dia 12. É divertidíssimo e inteligente.

Para quem teve medo do fato de dona Benta navegar na internet na versão atual e de possíveis modernices, topou com o melhor do espírito lobatiano. Os planos são abertos, com a natureza em destaque. Há as lendas, o bucolismo e a fantasia das versões anteriores.

Melhor ainda: o ?Sítio? vai bem no Ibope, negando a idéia de que, para atrair a criançada, é preciso de ação e violência. Se bem que parte da audiência deve ser formada por marmanjos, matando saudade…"

 

"Emília e sua turma vão fazer mágica na TV", copyright O Estado de S. Paulo, 20/10/01

"Faz 15 anos que a Emília e sua turma do Sítio do Pica-pau-amarelo estiveram na TV. Portanto, existe uma geração que cresceu sob o reinado das loirinhas, da bobagem e do consumo e que só está tomando contato com o universo de Monteiro Lobato pela primeira vez. Isso quer dizer que esse público está tendo acesso a um programa pensado especialmente para ele, por um escritor que conseguiu imprimir brasilidade (sem forçar a menor barra) no imaginário infantil.

A volta do Sítio à programação diária da TV (na Globo, às 11h30) não é a única boa notícia. A melhor delas é que essa platéia, mesmo criada no mundo falso das naves espaciais de isopor e purpurina, gostou das histórias e personagens criadas por Lobato. Desde que entrou no ar, O Sítio do Pica-pau-amarelo melhorou o ibope do programa Bambuluá, atração comandada por Angélica (cuja base da receita são os desenhos japoneses e novelinhas).

Na segunda, os números do Bambuluá pularam de 12 para 16 pontos de média no Ibope (na Grande São Paulo), no dia seguinte foi de 10 para 15 e, na quarta-feira, de 11 para 18 pontos, na hora em que o episódio No Reino das Águas Claras entrou no ar. A reclamação geral foi a duração dos capítulos: 15 minutinhos.

Houve várias versões do Sítio na TV. A primeira delas, em 1952, foi adaptada pela escritora Tatiana Belinky e seu marido Júlio Gouveia na Tupi. Em 1968, a história voltou pela Bandeirantes. Em 1977, a mais bem acabada das versões foi co-produzida pela Globo e TV Cultura e reprisada algumas vezes.

A novidade nesta última fase foi a escalação de uma criança para o papel da boneca Emília, tradicionalmente entregue a atrizes adultas. O desempenho de Isabelle Drummond, de 7 anos, é tão bom quanto do restante do elenco. Como os tempos são outros – de grandes avanços tecnológicos – deve ser mais fácil recriar o mundo inventado por Lobato, com cenas ambientadas no campo, no céu e até no fundo do mar. Os episódios de estréia tiveram uma produção requintada, mas, pode ter certeza, não foi isso o que segurou a audiência.

Ao contrário da concepção que corre nos gabinetes do poder das emissoras nos últimos anos, criança não é um espectador pouco exigente e incauto o suficiente para consumir qualquer coisa. Pelo contrário. Exposta ininterruptamente a um volume de informação nunca visto em tempo algum, a criança dos anos 2000 desenvolveu um senso crítico que lhe permite reconhecer, de imediato, o que é bom. Tese confirmada pela aceitação inicial do Sítio.

Mais do que a qualidade, a nova série infantil traz um alento para quem se preocupa com a programação oferecida à infância. Por causa do bom desempenho do Sítio do Pica-pau-amarelo nos monitores do Ibope é bem provável que o modelo seja expandido para outras emissoras que, certamente, deverão sair à caça desse público. (Leila Reis escreve aos sábados neste espaço. E-mail: leilareis@terra.com.br)"

    
    
                     
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