Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Rodrigo Rainho e Fernanda Dannemann

TELEJORNAIS DA NOITE

“Por volta da meia-noite”, copyright Folha de S. Paulo, 25/05/03

“CAMPEÃO de audiência em seu horário -oficialmente às 23h30-, o ?Jornal da Globo?, apresentado pela jornalista e ex-correspondente de guerra Ana Paula Padrão, 37, acaba de ganhar mais dois concorrentes de olho em um público que é, majoritariamente, formado por mulheres.

O ?Jornal da Record – 2? Edição? e o ?Jornal da Noite? (Band), apresentados por Paulo Henrique Amorim, 60, e Roberto Cabrini, 42, respectivamente, querem o segundo lugar no ranking do Ibope, que hoje pertence ao ?Jornal do SBT?, capitaneado por Hermano Henning, 57.

Na bagagem, os concorrentes de Ana Paula chegam com experiência similar -todos já passaram pela TV Globo e cobriram guerras. Agora, tentam fazer da inovação do formato sua maior arma em busca da audiência.

Na Globo, manter a audiência significa se preocupar com todos os tipos de público, oferecer informações exclusivas e, sobretudo, dar ao jornal um perfil analítico ?para que não caia na solução fácil de ser um repeteco das notícias do dia?, diz Padrão.

Séries de reportagens sobre assuntos de grande interesse no Brasil também são o foco do ?Jornal da Globo?, que, em breve, vai orientar os empreendendores sobre questões ligadas à micro-empresa.

Crescente no horário, o público feminino não pode ser esquecido. ?Eu mesma pretendo realizar uma série sobre a nova mulher brasileira: o que ela quer, que caminhos trilhou no mercado de trabalho, e por que muitas ainda estão infelizes e com dificuldades no universo emocional?, diz a jornalista.

A preocupação com as mulheres é flagrante no horário. Na última terça-feira, por exemplo, o ?Jornal da Noite? exibiu reportagem sobre métodos anticoncepcionais. No ?Jornal da Record?, o assunto foi a violência contra a mulher. No informativo do SBT, o tema feminino foi a cartunista argentina Maitena Burundena, que concluiu que todas as mulheres são iguais. A julgar pelas pautas, talvez…

Para o editor-chefe do ?Jornal da Noite?, João Beltrão, ?a concorrência dos telejornais virou briga de cachorro grande?. ?Hegemonia não é bom para ninguém. A Globo terá que mexer em seu jornal para não perder público?, avisa, dizendo que sua atração também se direciona às mulheres. Para elas, serão feitas reportagens ?sobre consumo e variedades?.

Enquanto Cabrini começa o ?Jornal da Noite? caminhando rumo à câmera e o apresenta andando pelo estúdio, Amorim investe na Internet e dá notícias em tempo real, tiradas da tela do seu laptop, que fica em primeiro plano. ?É formidável que os outros não se importem com a interatividade. A TV está muito amarrada ao padrão Globo, mas eu me permito inovar?, diz o jornalista, que elevou o número médio de telespectadores da atração de 176, 9 mil para 210,6 mil desde que assumiu o posto, em 10 de abril.

O editor-executivo do ?Jornal da Record?, Vander Pereira, optou pelo que chama de ?informação suave?. ?Queremos que as pessoas durmam com a cabeça leve e sem dor de estômago?, diz. ?As interferências do Amorim trazem bom humor à nossa estratégia de notícias curtas e temas variados?, afirma Pereira, dizendo que as seções temáticas dão agilidade ao telejornal. Na opinião de Henning, ?sorrir e mostrar que está contente em dar a notícia? é essencial. Dividir os temas por seções também. Segundo ele, a audiência sobe com reportagens sobre saúde e com as seções ?Tolerância Zero?, sobre ações de policiais americanos, e ?Aconteceu no Mundo?, que mostra imagens trágicas ou pitorescas do exterior. ?São alternativas ao formato da Globo. Imagino que o Silvio [Santos] sugeriu esses dois quadros por sentir necessidade de mostrar o combate ao crime com rigor?, afirma o jornalista. Satisfeito com seu novo programa -que privilegia reportagens de comportamento e de polícia-, Cabrini, que deixou o vespertino ?Brasil Urgente? nas mãos de José Luiz Datena, diz ser fundamental que o âncora tenha ampla experiência como repórter, e vem conciliando as duas funções. Na estréia, ele mesmo reportou a denúncia contra um oficial da Polícia Militar do Rio envolvido com o narcotráfico. Com direito até a câmera escondida. Para Cabrini, a nova função é mais coerente com sua carreira. ?O jornalismo do fim da noite não é apelativo. A pressão pelo ibope é menor?, diz.

Guerra

Primeiro jornalista brasileiro a fazer uma reportagem na Antártida, Hermano Henning, que cobriu a morte de Charles Chaplin (1889-1977) e a guerra Irã-Iraque (1980-1988), sempre desejou ancorar um telejornal e diz ter saído da Globo justamente por não ter tido este espaço.

?A tranquilidade de quem apresenta um telejornal é aparente, porque a responsabilidade é muito maior. A vida do correspondente é glamourosa, mas sou muito mais reconhecido agora?, diz.

Para Amorim, que até hoje tem pesadelos com a guerra civil de Angola e com a Rebelião Zapatista [México], o reconhecimento atual não é maior do que quando trabalhava na Globo e, de Nova York, participava do ?Fantástico?.

?Se eu recebesse uma proposta para voltar a ser correspondente, aceitaria. Minha rotina era divertida. Eu falava com Pelé e com Madonna ao mesmo tempo?, relembra.

Apaixonado pela reportagem, Cabrini, que encontrou PC Farias escondido na Tailândia em 1993, e já chegou perto de ser executado pelo exército talebã ao lado de um cinegrafista, já cobriu cinco guerras e diz que jamais deixará o trabalho de repórter. ?Apenas me tornei mais seletivo?, diz.

Ana Paula Padrão, que também enfrentou o perigo e se arriscou em Kosovo, sintetiza o espírito dos âncoras que saíram dos campos de guerra: ?Persigo a informação exclusiva, o furo, missão de todo repórter, que é o que eu me orgulho de ser?.”

 

IBOPE vs. DATANEXUS

“No ar, a dança dos números”, copyright Folha de S. Paulo, 25/05/03

“A PARTIR da próxima quarta-feira, o Ibope deixa de ser o único monitorador de audiência da TV brasileira. O Instituto Datanexus, criado a partir de tecnologia desenvolvida pelo SBT, inicia a medição de telespectadores numa amostragem de 250 domicílios da Grande São Paulo.

Segundo o cientista político Carlos Novaes, presidente do Datanexus, a informação on-line definitiva dos números é exclusiva. ?O Ibope demora para reunir dados e fazer os cálculos de porcentagem, nós não teremos esse problema?, diz, referindo-se a eventuais distorções nos dados instantâneos aferidos pelo concorrente corrigidas em relatórios com dados consolidados divulgados no dia seguinte à exibição dos programas. ?Com a nossa tecnologia, a conversão é feita de modo simples, é uma divisão.?

A tecnologia do Datanexus, resultado de um investimento de R$ 4 milhões, segundo o instituto, é diferente.

Seu aparelho, batizado como ?Medidor Datanexus?, possui um controle remoto com oito botões de identificação, um para cada telespectador, e teclas de avaliação qualitativa dos programas (de péssimo a ótimo), que não serão divulgadas na amostra de audiência.

Quando o espectador se identifica ou muda o canal, um telefone celular instalado no aparelho envia o sinal à central do instituto, que reúne os dados, faz os cálculos dos percentuais de audiência e de público e os envia aos clientes, já consolidados, em tempo real.

O ?Peoplemeter?, do Ibope, envia os dados por rádiofrequência à central, através de antenas posicionadas na Grande SP. Mas os clientes só recebem os dados consolidados após 24 horas.

Para Novaes, a mais significativa vantagem da nova medição é o critério de seleção dos domicílios. ?O Ibope fez 20 mil entrevistas em todo o Brasil [para selecionar os 750 domicílios de sua medição instantânea]. Nós fizemos 10 mil só na Grande São Paulo, com base no Censo de 2000 do IBGE, dados mais recentes?, diz.

Na busca por clientes, o Datanexus oferecerá serviços gratuitos, para ?degustação?, e preços menores. ?É uma tendência típica do fim do monopólio, que incentivava a negligência no atendimento e os preços altos?, diz o cientista.

O presidente do Datanexus diz que a medição estará aberta a auditorias e acredita em um mercado mais ?transparente?. ?As pessoas poderão acompanhar os dados da metodologia, pouco divulgados?.”

***

“Ibope diz que nunca houve monopólio no setor”, copyright Folha de S. Paulo, 25/05/03

“O Ibope Mídia refuta as acusações de monopólio feitas pelo seu novo concorrente, o Datanexus.

?No que se refere à medição de audiência de TV, o Ibope é o único fornecedor, mas isso não caracteriza monopólio, já que não existiu qualquer impedimento para a entrada de concorrentes?, diz o diretor-executivo do instituto, Flávio Ferrari.

Segundo o Ibope, existem ?uma série de controles e tratamentos a que os dados precisam ser submetidos, que não podem ser feitos em tempo real?.

?Embora as diferenças numéricas entre os relatórios on-line e do dia seguinte sejam pequenas, a experiência mostra que esse cuidado é indispensável?, diz Ferrari.

O instituto informa que os dados chegam aos clientes ?em menos de um minuto?, após passar por processo de controle de qualidade, que inclui a ponderação e a checagem.

Ferrari não concorda com a afirmação de que o início da concorrência dará mais transparência e eficiência aos serviços. ?Não dependemos de um eventual concorrente local para estarmos motivados em busca de soluções de melhor qualidade ou preço?, diz o diretor-executivo.

?A transparência não é determinada pela existência da concorrência. Os institutos têm a obrigação de comunicar as questões metodológicas, tecnológicas e processuais dos serviços e esclarecer dúvidas.?

Sobre as entrevistas para a seleção dos 750 domicílios na Grande São Paulo, o Ibope rebate. ?O instituto faz o ?Levantamento Sócioeconômico? [LE], de três em três anos, para atualizar as informações censitárias?, diz Ferrari. ?O último foi feito em 2000 e um novo está em curso.?”

 

CHOCOLATE COM PIMENTA

“?Durval? deixa seus velhos discos e vai fazer novela na TV Globo”, copyright Folha de S. Paulo, 25/05/03

“DURVAL, quem diria, foi parar no Projac! O ator Ary França, 45, protagonista do filme ?Durval Discos?, ao lado de Etty Fraser, está se preparando para seu maior papel numa novela: em agosto estréia como o vilão Epaminondas, ao lado de Elisabeth Savalla -que será Jezebel, sua patroa-, em ?Chocolate com Pimenta?, de Walcyr Carrasco, que substituirá ?Agora É que São Elas?.

?Vamos fazer muitas maldades na cidadezinha serrana dos anos 20?, diz ele, animado. ?Começamos a gravar em julho, e a novela vai de agosto a abril. Estou ansioso, porque na TV fui subaproveitado e ainda não fiz nada de grande nota?, afirma.

Só agora, depois de ?Durval Discos?, França está se tornando mais conhecido do público, mas ele participou dos longas ?Ed Mort?, ?O Xangô de Backer Street? e ?Amor e Cia.?.

Na TV, seu rosto não é novo: já fez mais de cem comerciais. ?Quando comecei, não precisava ser famoso, bastava o talento para vender alguma coisa?. A única novela da qual participou foi ?Andando nas Nuvens? (Globo), em 1999, com um personagem esquizofrênico do qual nem lembra o nome. ?Entrei no fim, não deu nem para sentir o gosto?, diz.

Ainda na Globo, participou de ?Comédia da Vida Privada? -?mas foi justamente do último episódio?. Depois, integrou quadros de ?Domingo Legal?, nos primórdios das pegadinhas. ?Eu fazia umas brincadeiras legais e inocentes com as pessoas nas ruas?, afirma.

Mas o forte de França é o teatro, que faz há mais de 20 anos, e que o levou a participar do grupo Onintorrinco, de Cacá Rosset.

Nessas duas décadas, fez mais de 20 peças, dirigiu cinco, fundou uma companhia teatral na sala de casa, viajou o país com Marco Nanini no sucesso ?O Burguês Ridículo? e atualmente dirige ?Ao Incêndio Sob a Chuva Rala?, no teatro João Caetano, em São Paulo.

Sua última experiência televisiva foi no SBT, no infantil ?Disney Cruj?, onde interpretou o pasteleiro Aracleto durante dois anos. ?Eu adorava trabalhar lá, aprendi muito com as crianças. Mas as quedas no investimento cortaram o programa. Desde dezembro eu estava sem emprego, com o fundo de garantia se esvaindo e a máfia e a Yakuza no meu calcanhar. Então, o convite da Globo me salvou?, brinca.

Satisfeito com o vilão ?com toques cômicos? que vai interpretar, ele, que diz não ter preferências pela comédia, também não está preocupado com possíveis estereótipos. ?Se criar um tremendo estigma e ficar na cabeça das pessoas, vou ficar contente. Se eu virar mania, depois saberei acabar com isso, porque não nasci ontem?, diz.

Enquanto não chega a hora de ficar na ponte aérea -porque ele não pretende se mudar para o Rio-, França relaxa viajando com ?Durval?, a que já assistiu mais de dez vezes, e termina o longa ?Por um Fio?, ao lado de Chico Anysio.”