Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Romário, notícia chata e impertinente

MÍDIA ESPORTIVA

Ricardo Wollmer (*)

O noticiário esportivo, em boa parte, está se tornando muito
chato, além de repetitivo, em relação ao caso Romário.
Os meios de comunicação fazem, na cara-dura, um lobby desnecessário
para que o jogador vá para a Copa do Mundo de Futebol deste ano.

Nos anúncios de convocação do técnico Luiz Felipe
Scolari, sempre algum jornalista encaixa o assunto Romário para que Felipão
comente o porquê de não incluir o baixinho na lista. Essa insistência,
que não é função do jornalismo, está cansando
o público-alvo, que quer saber apenas a notícia, o fato que ocorreu.

Ou seja, leitores/telespectadores/ouvintes/internautas são bombardeados
por matérias enfocando apenas o atacante do Vasco, e deixam de passar
a notícia em si ? a convocação dos jogadores estrangeiros
ou que jogam no Brasil. Os sites de notícia UOL, Terra e Globo.com enfocaram,
na semana passada, a não-convocação de Romário em
vez de noticiar quais foram os selecionados para o próximo amistoso da
Seleção. As manchetes dos três sempre trazia: "Fulano
é convocado e Felipão deixa Romário de fora", ou "Nem
lágrimas de Romário comoveram Felipão". Esse não
deveria ser o enfoque principal das matérias, pois o assunto não
era esse. O Globo.com foi mais longe: colocou no topo do site três ou
quatro imagens do Romário, numa fotomontagem, as reações
dele misturadas às lágrimas, para que o técnico se comovesse
com sua situação e o convocasse.

Ora, num momento em que crises internacionais se estabeleciam e a política
no Brasil "pegava fogo", o destaque do dia não deveria ter
sido esse. Além disso, as fotos que ilustravam as notícias quase
sempre traziam Romário. Isso mostra como a Globo ainda está preocupada
em eleger seus favoritos (e não só no esporte), deixando explícita
a ética praticada no jornalismo da emissora. Conta-se até que
a Globo entregou um megafone a torcedores que acompanhavam um treino da Seleção
para que ficassem gritando o nome do Romário. Uma matéria foi
"fabricada" para que o lobby aumentasse a favor do baixinho. Ele,
nesse tiroteio de desconstruções da imprensa, pode até
estar sendo prejudicado, pois fala-se tanto nele que seu filme pode estar sendo
queimado.

É a imposição da mídia, que elege e derruba seus
ídolos. Com os jornais impressos, a história foi a mesma. Ou seja,
a maior parte da imprensa embarcou na onda do "Romário na Seleção",
e parece não perceber seu papel (ou então não quer mesmo
cumpri-lo) de noticiar com (relativa) objetividade. Concordo em que o trabalho
da imprensa seja o de mostrar todos os lados, e não somente os oficiais,
mas agora já se trata de erro.

(*) Estudante de Jornalismo do Isca Faculdades,
Limeira, SP