TURMA DA MÔNICA
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As incorreções factuais flagradas em "Quadrinhos também é imprensa", de Cláudio Weber Abramo, já foram devidamente retificadas pelo cartunista Spacca, no ótimo artigo "Clítica, implensa e quadlinhos" [veja remissões abaixo]. Tomo a liberdade, portanto, de expor contra-argumentos quanto à classificação de "profunda idiotice", feita por Abramo, em relação às historinhas da Turma da Mônica.
O secretário-geral da ONG Transparência Brasil comparou os personagens de Maurício de Sousa com Snoopy, Calvin e Mafalda, e disse que as historinhas do brasileiro são vazias. Tal comparação não é muito sensata. As criações estrangeiras realmente adotam um estilo em que representam tipos humanos comuns, e através deles fazem críticas sócioculturais sutis e divertidas. Definitiva e assumidamente, não é o caso de Mônica & cia. Basta ler suas historinhas.
Os tipos criados de Maurício de Sousa sugam características facilmente encontradas em qualquer conhecido nosso. Claro que há algumas hipérboles ? a menina comilona, a garota mais forte do mundo, o menino que nunca tomou banho, o garoto que fala errado ? mas nada que não possa ser perdoado pela licença criativa. Outros personagens, se são mais comuns, diferem-se mais pelo ambiente do que pelos atributos físico-psicológicos, como o Piteco, pré-histórico, e o Astronauta, que viaja pelo espaço. Sem falar nos animais que, embora humanizados, encarnam suas características naturais ? como o cão Bidu, o dinossauro Horácio, o elefante Jotalhão e muitos outros.
A salada com que se misturam os personagens e, mais ainda, suas especificidades, resulta em historinhas despretensiosas, ingênuas e com a intenção apenas de fazer crianças rirem, sem compromissos com reflexões críticas. O gato Garfield, de Jim Davis, a despeito das diferenças claras de traços e características dos personagens, tem objetivo idêntico: apenas diverte e faz rir.
Claro que sempre vai haver histórias sem graça, vazias e fracas. Mas sempre haverá, também, aventuras interessantes, divertidas e inteligentes. Inclusive, em alguns casos, com uma pitada sutil de crítica a certos padrões comportamentais do brasileiro. Um exemplo mais óbvio e mais fácil de ser encontrado é qualquer revistinha do Chico Bento ou qualquer historinha do índio Papa-Capim: lá sempre há fábulas em defesa do meio ambiente. Entretanto, existem histórias com questionamentos mais sutis, mas não menos relevantes. Só para ficar dentro dos campos dos quais trata este Observatório, cito aqui dois endereços-exemplo para que o leitor visite e tire suas próprias conclusões quanto à idiotice das histórias da Turma da Mônica:
<http://www.monica.com.br/comics/tv/welcome.htm>
<http://www.monica.com.br/cookpage/cookpage.cgi?!pag=comics/tabloide/tab239>
Enfim, Cláudio Weber Abramo tem todo direito de criticar a Turma. Cabe-lhe escolher o que é melhor ou não para seus filhos. Sem dúvida, há defeitos nos traços e em muitas histórias de Mônica, Cebolinha, Cascão etc. Mas, ao apresentar sua ojeriza contra os personagens de Maurício de Sousa num veículo midiático (e sintetizar sua crença de que este é o melhor meio de explicitar suas opiniões acerca de Mônica & cia. numa afirmação "irrefletida", conforme bem classificou Spacca), é conveniente que exponha argumentos mais convincentes do que simplesmente dizer que convive com o bom gosto. E, ainda, reconhecer que não "estava a fim" de explicar isso melhor.
Quadrinhos
também é imprensa ?
Cláudio Weber Abramo
Bolachas
fagueiras ? C.W.A.
Clítica,
implensa e quadlinhos ? Spacca