Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Saudações aftosas

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RBS E PT

Gilmar Antonio Crestani (*)

Difícil a vida de jornalista da RBS. Como se não bastasse a necessidade de produzir matéria para mais de um veículo do grupo, impõe-se-lhe a adaptação do texto segundo a região de cobertura do veículo para o qual estiver produzindo a matéria: Rio Grande do Sul ou Santa Catarina.

As chuvas deste final de outono mostraram-se um problema, não sóoacute; para os desabrigados, como também para os comunicadores. Ao cabo, até o leitor naufraga. A Zero Hora, do grupo RBS, produziu um sofisticado caderno sobre os alagamentos da capital, culpando a administração municipal do PT. Começa assim: "Bastam 15 minutos de chuva forte e Porto Alegre transforma-se em uma cidade submersa". Não ousou, porém, culpar o governo do estado, também administrado pelo PT, pelos alagamentos nas cidades do interior. O mesmo jornalista escreveu, na Zero Hora, que "a administração petista ainda não conseguiu resolver o problema crônico dos alagamentos, mesmo depois de 13 anos no comando da Prefeitura".

Mas, no Diário Catarinense, o "volume pluviométrico" foi o culpado por alagar Florianópolis. Nesse caso fez constar que foi um toró d?água, poucas vezes visto pelo casal Amim, Angela e Espiridião, prefeita e governador, de Florianópolis e de Santa Catarina. O PPB agradece com mais verbas publicitárias.

A mesma postura esquizofrênica agora está prejudicando enormemente a pecuária ? e, por que não, a economia riograndense. O ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, do PPB, claro, sempre com jornalistas dos veículos da RBS a tiracolo, foi rápido em acusar a administração petista e lento em resolver o problema da aftosa. Protelou tanto, mesmo sabendo que a Argentina e o Uruguai, que fazem fronteira seca com o Rio Grande, já tinham detectado vários focos em seus rebanhos, que, no sábado, 5/5, foi detectado o primeiro foco na cidade fronteiriça de Santana do Livramento. Basta dizer que o cinturão de vacinação ao longo da fronteira só veio a acontecer por intercessão do Executivo gaúcho junto ao chefe do Executivo federal.

Adjetivo partidário

A RBS não consegue se desvencilhar dos compromissos decorrentes das "facilidades" franqueadas pelo PMDB na aquisição da Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT). As mesmas "facilidades" que Fernando Henrique Cardoso teria caso fosse eleito Antônio Britto, como mandou publicar na capa do jornal Zero Hora na véspera do segundo turno das eleições para governador.

A Zero Hora havia publicado, na semana passada, quando a aftosa já chegara à província de Artigas, fronteira uruguaia com o Rio Grande, que Pratini de Moraes poria em prática o plano traçado desde o início. Segundo a matéria, o Ministério da Agricultura sempre estivera pronto para vacinar o gado. Na segunda-feira, 7/5/01, o Jornal do Comércio desmentiu o servilismo canhestro da RBS: "Cerca de 2 milhões de vacinas serão liberadas hoje pelo Ministério da Agricultura, vindas de São Paulo". E a própria Zero Hora, do mesmo dia, já não pôde esconder: "Aftosa ressurge e fronteira aguarda chegada de vacinas". E, no corpo da matéria, sintetiza: "Os produtores aguardam a chegada das vacinas para iniciar a campanha de imunização do rebanho na região da fronteira com a Argentina e o Uruguai".

A esquizofrenia facilmente percebida na província também encontra guarida nos jornais do centro do país. Tanto a Folha de S.Paulo como O Globo batem na tecla de que em Cuba impera o "regime comunista", mas, em se tratando do Brasil, ficam nos devendo qual é o regime. Seria capitalista? Dinheiro da CBF financiou vários deputados, mas só Carlos Santana, do PT do Rio de Janeiro, recebeu da imprensa o adjetivo partidário: petista. Os demais eram sem partido?

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