Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Segodnya à venda

MONITOR DA IMPRENSA

RÚSSIA

O jornal Segodnya, primeira aquisição de Vladimir Gusinsky antes de se tornar barão da mídia russa, foi duramente criticado por Dmitry Biryukov, presidente da editora Sem Dnei, que publica o jornal. Ele planeja riscar o veículo de sua lista de títulos em 1o de maio, segundo um editor do Segodnya. A maioria das ações da Sem Dnei pertence a Biryukov e ao principal credor e atual pedra no sapato de Gusinsky, a companhia estatal de gás natural Gazprom. De acordo com Oksana Yablokova [The Moscow Times, 13/3/01], juntos os dois têm 50% mais uma ação, enquanto Gusinsky controla 50% menos uma ação.

Anatoly Blinov, da diretoria do setor de mídia da Gazprom, afirmou que a decisão de se desfazer de Segodnya partiu do desejo de Biryukov de se livrar de uma publicação que não lucra. Apesar de reconhecer que Segodnya é um atraso de vida financeiramente, funcionários da Media-Most, o conglomerado de Gusinsky, culparam a Gazprom pela decisão da Sem Dnei, atribuindo ao gesto uma questão mais política que econômica.

Biryukov, que se recusou a comentar o ocorrido, é um antigo executivo associado de Gusinsky, que depôs a favor da Media-Most em dezembro. Gusinsky, que estava em prisão domiciliar na Espanha, foi para trás das grades novamente no dia 12 de março, depois que um juiz espanhol ordenou sua prisão até o início dos procedimentos de extradição, marcados para o dia 15, segundo a Reuters.

Grande parte da cobertura das editorias de negócios na mídia russa não passa de releases de companhias e, segundo The Economist (1o/3/01), isso fica claro para qualquer leitor. A prática, que envolve intensa troca de dinheiro entre o jornal e as empresas, é amplamente conhecida, mas difícil de provar.

Agora, uma ousada firma de relações públicas, a Promaco, trouxe às claras a prática de zakazukhi (artigos comprados), enviando às redações um release fictício para ver quanto custa sua publicação como artigo. A empresa inventou uma nova loja de eletrônicos, Svetofor, no centro de Moscou. Das 21 publicações testadas, uma publicou gratuitamente o release ? mas sem checar. Quatro pediram mais informações e não publicaram a matéria. Três disseram que divulgariam o material como propaganda. Mas 13 jornais e revistas se ofereceram para publicar o artigo mediante pagamento de taxa que variou de 135 a 2 mil dólares.

Os jornalistas ficaram mais furiosos do que envergonhados com as revelações. O editor de Noviye Izvestiya afirmou que, para o leitor, não faz a menor diferença se um artigo foi pago ou não. Outro jornal disse que imprimiu o artigo para doar uma TV colorida a um orfanato. Os editores do Nezavisimaya Gazeta, principal jornal oficial da Rússia, que cobrou a maior taxa, pediram desculpas, mas afirmaram que honestidade não dá lucro, fenômeno pelo qual relações públicas são culpados, não jornalistas.

Como no Brasil, informes publicitários devem ser rotulados na Rússia. A diferença está na clareza. Para os russos, basta colocar o artigo numa moldura e a questão está resolvida.

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