EXCLUSÃO DIGITAL
Maria Carolina Nomura, de Huesca, Espanha (*)
Na internet, a liberdade de expressão é absoluta: qualquer pessoa pode montar um site e despejar nele o conteúdo que quiser. A possibilidade de omissão de autoria e a habilidade dos hackers em mudar rapidamente seus endereços digitais, somadas à precariedade das leis, fazem do mundo digital apenas o primeiro degrau da era da informação.
Essas são as principais conclusões do 5? Congresso de Jornalismo Digital, que aconteceu nos dias 15 e 16 de janeiro, na cidade de Huesca, nordeste da Espanha.
No entanto, se a emissão de mensagens pode ser algo infinito e erga omnes (para todos), a recepção não é recíproca: pode-se dizer que a sociedade da informação tropeça num segundo degrau, o da exclusão digital.
Necessidades básicas
O termo surgiu em meados dos anos 90 para referir-se às desigualdades sociais que surgiram com a internet. Desde então organizações como a Fundação Auna <www.fundacionauna.org>, a Fundação Getúlio Vargas <www.fgv.br>, o Observatório de Políticas Públicas de Infoinclusão <www.infoinclusao.org.br>, entre outras, se dedicam a estudar o impacto das tecnologias de comunicação na sociedade e desenvolvem programas de inclusão digital.
O professor catedrático de Economia Aplicada da Universidade Complutense de Madrid, José B. Terceiro, estabelece seis níveis de exclusão: a) geracional, que trata da facilidade com que os jovens manejam os programas de computador em comparação aos mais velhos; b) lingüística, na qual o domínio do idioma inglês, língua materna da internet, se faz cada vez mais imprescindível; c) de conteúdo, no qual os primeiros a desfrutar de novos programas são os cidadãos das classes alta e média; d) segmentação de gênero e qualidade informática; e) democrática, pois alguns países ainda não têm acesso à internet; e, f) segmentação cultural, na qual a consulta a algumas páginas é ainda proibida seja pela religião ou pelo governo.
Na visão do professor de Jornalismo da Universidade do Texas (EUA) Rosental Calmon Alves, a exclusão não é apenas digital, é geral. Segundo ele, no Brasil, há mais gente com televisor do que com geladeira. Isso significa que, mesmo que a pessoa tenha acesso à informação por outros meios de comunicação que não a internet, a fome, a saúde, a educação e as necessidades básicas para a sobrevivência ainda não foram supridas.
Risco de esquecimento
O diretor de comunicação da ONG Médicos sem Fronteiras, Jordi Passola, alertou, em entrevista a El País de 7/1: "As condições de acesso aos serviços de telecomunicações são um instrumento que permite determinar quem pode participar completamente na vida social, cultural, política e econômica de una sociedade" (texto extraído do jornal espanhol".
Ciente disso, a Organização das Nações Unidas organizou entre 10 e 12 de dezembro de 2003 a primeira fase da Cúpula da Sociedade da Informação, em Genebra, Suíça, na qual a principal conclusão foi a necessidade de se criar um fundo de solidariedade para que a tecnologia de informação ajude no desenvolvimento dos povos excluídos. A segunda fase da cúpula ocorrerá em 2005, em Túnis, capital da Tunísia (Norte da África).
O plano de ação, em espanhol, está em no seguinte endereço: <http://www.itu.int/dms_pub/itu-s/md/03/wsis/doc/S03-WSIS-DOC-0005!!MSW-S.doc>
O desenvolvimento diário de novas tecnologias se torna cada vez mais o passaporte não apenas da sociedade da informação, mas da sociedade em geral. Fazer parte do universo digital é estar, pertencer ao mundo.
Quem não tem acesso a ele não pode reivindicar porque não tem meios, não pode gritar porque não tem voz, não pode pedir socorro porque está ilhado. Quem não tem acesso às redes de comunicação corre o risco de ser esquecido ou, simplesmente, deixar de existir.
(*) Jornalista
Leia também