Wednesday, 18 de September de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1305

Sem medo de Narciso

MONITOR DA IMPRENSA


THE NATION

Em duas ocasiões recentes o New York Times prestou suas homenagens ao ombudsman do Washington Post. Na primeira delas, reconheceu o valor do atual ocupante do cargo, Michael Getler. Pouco depois, lembrou em seu obtuário do primeiro ombudsman do Post, Richerd Harwood, que "hoje existem 38 ombudsmans, cerca de metade em jornais com uma circulação superior a 110 mil exemplares". No entanto, notou Eric Alterman [The Nation, 2/5/01], nenhum deles tem o nome Times.

É inegável que o New York Times é o jornal mais importante da língua inglesa atualmente, disse Alterman. Contudo, têm ainda muitas fraquezas, e uma delas é praticamente não aceitar críticas. Isso é importante não só pelo fato de levar pautas para toda a mídia, mas também porque, em muitas matérias, suas reportagens são a única chance de milhares de pessoas terem acesso a determinadas informações. Nestes casos, fica ainda mais difícil a situação daqueles que, por uma razão qualquer, sentem-se injustiçados pelo jornal. Não seria um ombudsman, acredita Alterman, capaz de assegurar um tratamento justo aos dois lados? Uma coluna semanal como a Getler poderia também livrar os editores do Times da difícil tarefa de sempre ter que culpar a si ou a seus repórteres por um erro.

O diretor editorial, Bill Keller, explica que, para o jornal, "faz mais sentido ter problemas e reclamações revistos por pessoas com responsabilidade e autoridade para fazer alguma coisa a respeito, como editores, do que por um observador contratado". E seu chefe acrescenta: "Falando genericamente, não gostamos de cobrir a nós mesmos ? achamos isso auto-referencial demais", disse, Joe Lelyveld, editor executivo.


TIME NA CHINA

Na semana passada, o presidente da China, o ex-presidente dos EUA Bill Clinton e representantes de corporações-gigante se reuniram para uma conferência patrocinada pela revista Fortune. Para a AOL Time Warner, que publica a Fortune, tratou-se de mais uma conferência chinesa de elite desfigurada pela mordaça de seu carro-chefe, a revista Time.

Segundo Mark Landler [The New York Times, 6/5/01], Pequim proibiu a venda da revista nas bancas desde o começo de março, 10 dias depois de a Time publicar um artigo sobre a seita Falun Gong em Hong Kong.

Há dois anos, a China convidou a Fortune para organizar sua conferência em Xangai, em comemoração aos 50 anos da revolução chinesa. Ao mesmo tempo, proibiu a venda de uma edição da Time devotada ao aniversário por incluir ensaios de dois políticos dissidentes e do Dalai Lama, líder espiritual tibetano exilado. "Quando Jiang Zemin estava em Xangai para celebrar a abertura da China para o mundo, nossa revista foi proibida", disse Adi Ignatius, editor da Time na Ásia. "Agora, foi a Hong Kong festejar a entrada do país na Organização Mundial do Comércio e nossa revista é novamente proibida."

Ignatius acha que o problema pode ser mais sério agora. O monopólio estatal que entrega a Time às bancas disse à revista que não pretende retomar a distribuição. "Normalmente eles apenas bloqueiam uma única edição ou cortam um artigo ofensivo", disse, "mas já conversamos muito com eles sobre o assunto, sem êxito."


GUATEMALA

Ligue a TV na Guatemala e você assistirá a um canal de Angel González. Nascido no México e residente em Miami, González é dono das quatro principais estações de TV guatemaltecas e outros 20 canais espalhados pela América Latina.

De acordo com Tina Rosenberg [The New York Times, 7/5/01], o magnata usou essas estações para influir no resultado das eleições, promovendo interesses de políticos. O monopólio de González é exemplo extremo de um problema muito visto em diversas nações latino-americanas. A mídia é dominada por únicos donos ? um único ponto de vista político, portanto.

Em El Salvador, um só proprietário controla 90% do mercado televisivo. No Chile, há muitos donos na mídia, mas todos de um só lado da política, o conservador. Concentração é um problema nos EUA também, mas lá há maior separação entre notícias e opiniões.

O poder de González foi muito criticado pela Organização dos Estados Americanos (OAS) e pelo Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ). Ele doa espaço publicitário a vários presidenciáveis, mas reserva os melhores horários para seu favorito ? privilégio nas últimas eleições de Alfonso Portillo, atual presidente.


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