FRANÇA
O governo de centro-direita que assumiu na França deu início a um debate que pode acabar com uma tradição de quase duas décadas na televisão do país. Os filmes pornográficos que passam tarde da noite no sábado nunca causaram muita reclamação entre a população, que, em geral, é muito liberal com relação a sexo. Mas a delinqüência juvenil tem preocupado muito os pais e reguladores da televisão têm tentado pressionar canais para que suspendam voluntariamente o sexo explícito e feito lobby com congressistas para que lhes atribuam o poder de obrigar as emissoras a fazê-lo.
Uma das primeiras medidas do novo governo foi escalar o filósofo político Blandine Kriegel para estudar a violência na TV, incluindo a violência sexual. "Médicos, psicólogos, professores e educadores, advogados, juízes, jornalistas e, finalmente, os pais acham que as imagens violentas continuam de acesso fácil demais na TV. O governo não pode ficar indiferente a isso", disse o Ministro da Cultura Jean-Jacques Aillagon. O Conselho Superior do Audiovisual informa que há cinco canais ? entre abertos, a cabo e via satélite ? que exibem 103 programas pornográficos ao mês. Se forem contadas as atrações de pay-per-view, o número sobe para 943.
Opositores à idéia de suspensão dos filmes eróticos argumentam que os jovens continuarão tendo acesso a esse tipo de material na internet e em videocassete. Segundo a AP [1/9/02], a pornografia na TV começou em 1984, no Canal Plus, na época uma alternativa dinâmica aos antiquados canais franceses. A emissora foi a primeira de TV paga do país e acabou se tornando importante no meio cultural porque financia a produção de muitos filmes. Com relação à discussão sobre pornografia, o Canal Plus avisou que não tem intenção de mudar sua programação.
ESCÓCIA
Jornalistas escoceses estão alvoroçados com a sumária demissão do colunista John McLeod do Herald de Glasgow. Considerado um presbiteriano fundamentalista, ele escrevera artigo em que afirma que as meninas Holly Wells e Jessica Chapman, desaparecidas e encontradas mortas dias depois, não teriam tido esse destino se seguissem os mandamentos da religião. "Se os pais de Holly e Jessica guardassem o Dia do Senhor, suas filhas ainda estariam vivas. Teriam passado o dia descansando ou no culto privado ou público a Deus e não caminhando pelo campo, presas fáceis para o mal que finalmente lhes sobreveio".
A coluna, publicada numa segunda-feira, gerou inúmeras reclamações de leitores, e o editor Mark Douglas Home telefonou para McLeod dizendo que seu contrato fora suspenso pela falta de humanidade do texto. Seus colegas admitem que a opinião do jornalista foi "desgraçada" e "crassa", mas se irritaram com a demissão porque o artigo teve aprovação do vice-editor de domingo que, ainda por cima, decidiu dar-lhe chamada na primeira página. "Mesmo não concordando com o que ele escreveu, preocupa que um colunista tenha pago o preço pela desaprovação pública de algo a que editores deram luz verde", critica Paul Holleran, da União Nacional de Jornalistas na Escócia. "Há uma tradição de se manter fiel a decisões editoriais uma vez que tenham sido feitas. De repente, os jornalistas aqui se sentem muito inseguros. Devemos parar de escrever qualquer coisa que irrite as pessoas?", disse um jornalista do Herald, que não quis se identificar, a Stephen Kahn, do Observer [1/9/02].
O vice-editor que aprovou o texto de McLeod não quis comentar o incidente. Já o colunista nega a possibilidade de os pais se ofenderem. "Não acho que poderia dizer qualquer coisa que pudesse causar mais dor a eles."