MÍDIA E FAVELAS
Mário Augusto Jakobskind (*) e Rumba Gabriel (**)
O semanário Brasil de Fato promove com a Associação Brasileira de Imprensa e o Movimento Popular das Favelas o Seminário Mídia e Favelas, a ser realizado em 26 de agosto no auditório do 9? andar da ABI, na rua Araújo Porto Alegre, 71, no Rio, a partir das 13 horas.
A imprensa brasileira tem dado grande cobertura ao cenário de violência que se abate sobre as grandes cidades do país nos últimos meses, com ênfase para o Rio de Janeiro. Quem tiver a oportunidade de analisar essa cobertura verificará que solta aos olhos a visão preconceituosa do noticiário em relação às favelas desta cidade, que ainda é considerada pela maioria dos analistas como uma espécie de caixa de ressonância do Brasil. Prova concreta disso é que a maioria dos correspondentes estrangeiros acreditados no país estão sediados no Rio de Janeiro, mesmo sendo Brasília a capital federal.
O Conselho Político do jornal Brasil de Fato, em contato com a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e o Movimento Popular das Favelas, achou relevante e de interesse para toda a sociedade a realização de discussões amplas sobre o tema como forma concreta de colaborar para a superação do preconceito em relação às favelas e os seus moradores. Hoje, quando se fala em favelas, em função do noticiário estereotipado, remete-se ao narcotráfico ? uma deformação gritante que envolve uma série de questões ?, o que na prática leva à exclusão de amplas parcelas dos cariocas, cujo um terço da população reside em favelas. Daí a importância da realização deste Seminário Mídia e Favelas.
Para citar um exemplo: caso em algum bairro nobre carioca fosse descoberto que narcotraficantes residissem em apartamento ou casa de luxo, nem por isso os moradores destes bairros seriam considerados narcotraficantes. A mídia não repetiria tais estereótipos. E qual o motivo, portanto, de a mesma mídia considerar a todo o momento que em uma favela narcotraficantes estão em ação (uma minoria absoluta), remetendo a pecha para todos os moradores? Em outros termos: por que estigmatizar um local onde a maioria dos moradores nada tem a ver com essa atividade ilegal? Por que se utilizar dois pesos e duas medidas, ou seja, conceder um tratamento diferenciado para bairros de maior poder aquisitivo e áreas bolsões de pobreza?
Tais fatos merecem reflexão e devem ser objeto de discussões. É necessário que se ponha fim essa forma de preconceito, que traz prejuízos para toda a comunidade ? seja em áreas de baixo poder aquisitivo ou não.
Os debates do seminário reunirão personalidades dos mais diversos segmentos culturais, políticos e religiosos, como o professor e jornalista Marco Morel, a professora Cecilia Coimbra, do Grupo Tortura Nunca Mais e especialista em temas sobre a violência urbana, o compositor Zeca Pagodinho, o jornalista Hector Escobar, correspondente a Agência Venezuelana de Notícias, Venpress, entre outros. Estamos convencidos que esse seminário resultará em valiosa contribuição para romper a barreira do preconceito, o que, acreditamos, é de utilidade para o desenvolvimento deste Pais.
(*) Do Conselho Político do jornal Brasil de Fato e da Comissão de Direitos Humanos e Liberdade de Imprensa da Associação Brasileira de Imprensa
(**) Do Movimento Popular das Favelas