CASO ABRAVANEL
"Filha de Silvio Santos é libertada; polícia prende 2", copyright Folha de São Paulo, 29/08/01
"A estudante Patrícia Abravanel, 23, filha do empresário e apresentador Silvio Santos, voltou para a casa da família ontem, após sete dias de sequestro. Dois jovens foram presos e, segundo a polícia, confessaram atuação no crime.
As versões sobre o desfecho do sequestro são contraditórias. A polícia diz que o resgate -R$ 500 mil, segundo a Secretaria da Segurança Pública- foi pago, e Patrícia foi libertada na marginal Pinheiros. A estudante confirma ter sido libertada, mas nega o pagamento. Porta-vozes da família, por sua vez, dizem que Patrícia fugiu do cativeiro, sem o resgate.
A estudante chegou à casa da família, no Morumbi (zona oeste), às 2h50, dirigindo o próprio carro -um Passat azul, blindado, no qual ela havia sido levada. Após buzinar para que os seguranças abrissem o portão, ela saiu do carro e entrou gritando.
O silêncio que a família Abravanel manteve durante o sequestro só foi rompido pouco depois das 16h, quando o apresentador apareceu com a filha para uma entrevista, concedida da sacada.
Patrícia, sorridente, falou por 30 minutos. Deu poucos detalhes dos dias de cativeiro -a 3,5 km da casa da família- e, insistentemente, disse que foi salva por Deus. Há dois anos, ela acompanha a mãe, Íris, aos cultos evangélicos da Igreja Vida Nova.
O pai, Silvio Santos, é judeu, e o assunto foi alvo da fala de Patrícia, que disse que o apresentador ?precisa de Deus?. Ele rebateu, chamando a filha de pastora.
Patrícia havia sido levada de casa por volta das 8h de terça da semana passada, quando dois homens -um disfarçado de carteiro- renderam um segurança da casa. Foram seguidos por outras quatro pessoas, encapuzadas e armadas, que atravessaram um Corsa na frente do portão, renderam a estudante e fugiram no Passat dela e em um jipe da família.
As negociações foram feitas por um celular pré-pago deixado no Corsa, abandonado perto da casa. Durante a semana, familiares recolheram duas cartas de Patrícia em Pinheiros. Nelas, a estudante escrevia manchetes dos jornais do dia, como prova de vida.
A pedido de Silvio Santos, que manteve contato com várias autoridades, a polícia acompanhou o caso à distância. Recebeu mais de 500 ligações diárias com supostas pistas, inclusive de dez cativeiros."
"Entrevista levanta audiência da Globo", copyright Folha de São Paulo, 29/08/01
"A Globo foi a emissora que mais faturou com a transmissão ao vivo, ontem à tarde, da entrevista de Patrícia Abravanel e Silvio Santos.
Segundo dados preliminares, entre as 16h10 e as 16h45 (tempo que durou a entrevista), a audiência da Globo cresceu de 14 pontos na segunda-feira para 20 pontos ontem, um aumento de 43%. Os dados são da Grande São Paulo, onde cada ponto equivale a cerca de 80 mil telespectadores.
A Record também conseguiu aumentar seu ibope, de 4 pontos na segunda para 6 ontem. As demais emissoras -só a Cultura não transmitiu- não tiveram alteração nos seus índices. O SBT registrou ontem no horário os mesmos 12 pontos de anteontem.
O índice de televisores ligados na Grande São Paulo ontem, entre as 16h10 e 16h45, foi de 50,3%, contra 38,7% anteontem.
No momento da entrevista, havia quatro equipes de reportagem da Globo na frente da casa de Silvio Santos, totalizando 20 profissionais. Mais três equipes estavam de plantão em outros locais.
Decisões
Mesmo afastado do SBT para acompanhar as negociações do resgate da filha, Silvio Santos participou da tomada de decisões da emissora, apurou a Folha.
No sábado, o empresário decidiu não apresentar no domingo o ?Show do Milhão? e o ?Topa Tudo por Dinheiro?, já gravados.
Anteontem de manhã, Silvio Santos finalizou as discussões sobre mudanças que vão ocorrer na programação do SBT nos próximos sábado e domingo. A principal delas é a volta, domingo, do ?Qual É a Música??, apresentado por Silvio Santos. O programa está gravado há cerca de três meses.
Durante o sequestro, houve uma irônica coincidência na programação do SBT: o filme ?O Preço de Um Resgate? estava programado (uma semana antes) para ser exibido na noite de sexta. Foi substituído por ?Marte Ataca?.
O apresentador Silvio Santos deve voltar a gravar seus programas hoje. Um estúdio do SBT está desde ontem reservado para ele. O programa ?Show do Milhão? deve ir ao ar hoje à noite, mas pode ser uma edição gravada antes do sequestro."
"A animação de Silvio Santos parece ter contagiado a filha", copyright Folha de São Paulo, 29/08/01
"Falando aos jornalistas, depois do seqUestro, Patrícia Abravanel era a felicidade em pessoa. Nada do choro, do descontrole, do tom patético que fazem desses desfechos de sequestro coisas tão desagradáveis de ver. Patrícia falou o tempo todo de Deus, da sua fé, das orações, do arrependimento dos sequestradores e da bondade do povo.
Acho indelicado especular muito a respeito do episódio. A alegria e a religiosidade de Patrícia merecem, mais do que comentários, respeito e admiração. Não estarei ferindo ninguém, acredito, se fizer algumas observações de cunho pessoal; noto de que maneira, por exemplo, a constante euforia, o sorriso inabalável, a animação profissional de Silvio Santos parecem ter contagiado o rosto e as atitudes de sua filha.
Ela parece ter visto o sequestro como uma festa, como um motivo a mais de confiança em Deus e no povo brasileiro; citou ?A Vida É Bela?, o filme de Roberto Benigni. No filme, o protagonista era prisioneiro num campo de concentração nazista e fingia para o filho que estava tudo bem, que tudo o que ocorria no campo era só uma brincadeira, uma farsa. Um programa de televisão, quem sabe. De algum modo, o poder de recriar a realidade através do otimismo, do sorriso, da animação, é algo que Patrícia deve tanto à religião quanto a seu pai.
Melhor assim. É como se, para Patrícia, o próprio sequestro tivesse sido uma libertação. Apareceu diante das câmeras, foi uma ?pastora?, uma política, como disse Silvio Santos com habilidade e carinho.
Claro, um problema continua irresolvido, e transcende os inacreditáveis recursos de personalidade e simpatia da família Abravanel. Trata-se de saber como é possível, no Brasil de hoje, ser rico e viver em paz. No cativeiro, Patrícia jogou cartas com os sequestradores; orou junto com eles; perdoou-os; tal experiência de convívio amistoso, por incrível que pareça, deve ter surgido como uma resposta a essa questão."