FARSA DA FITA
"A voz do deputado estadual Mário Frota (PDT-AM) em uma gravação que comprometeria o presidente licenciado do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), é falsa.
Ontem o perito Ricardo Molina entregou laudo atestando a falsidade para o senador Romeu Tuma (PFL-SP). A fita foi divulgada pelo ex-assessor de Frota Nivaldo Marinho. O ex-assessor disse à Polícia Federal, em Manaus, que recebeu R$ 12 mil para imitar a voz do deputado.
No diálogo, publicado pela revista ?IstoÉ?, Frota informaria ao empresário David Benayon que Jader exigiria US$ 5 milhões para a liberação de um financiamento da extinta Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia). O empréstimo foi liberado para a empresa de Benayon, a Mazonbec, produzir artefatos de borracha.
Segundo o laudo do perito, ?há fortes indícios de que a voz é de Nivaldo Marinho?, imitando a voz de Frota. Foi feita uma reconstituição da situação em que a fita foi gravada e foram colhidas amostras de vozes e sons ambientes da casa de Frota, em Manaus.Marinho disse à PF que tramou a gravação da fita com o vice-líder do PFL na Câmara Federal, Pauderney Avelino (AM), e o secretário de Obras do Amazonas, João Coelho Braga.
Os dois, segundo Marinho, disseram que falavam em nome do governador do Amazonas, Amazonino Mendes (PFL), inimigo político de Frota e aliado de Jader. A divulgação da fita desencadeou investigações da PF e do Conselho de Ética do Senado.
Marinho disse que, pelo acordo firmado com Avelino e Braga, em abril, receberia duas casas populares para forjar a fita. Disse ainda que Avelino foi o revisor do texto da fala em que ele imitou Frota.
Segundo o perito Molina, é muito difícil fazer uma imitação de voz que não seja detectada por peritos. ?Em geral o que o imitador faz é uma caricatura. Pega alguns traços mais proeminentes e fica repetindo. Quando se faz uma comparação [com a voz original?, isso sempre aparece?, disse.
Entre as contradições encontradas na perícia, há o ruído de carros, que não poderiam aparecer devido à localização da casa de Frota e duas batidas de portas cujo som não corresponde ao que faria as portas da casa do deputado. Latidos de cachorro na fita também são diferentes dos latidos dos animais da casa. ?O cachorro que late na gravação é de pequeno porte, o que não corresponde aos cães que foram encontrados no local: um pit bull e um pastor alemão?, disse Molina.
Os peritos concluíram também que a gravação foi feita recentemente, e não em 1998, como disse Marinho. Eles conseguiram identificar a fraude por causa do número de série e do lote impressos na fita. Segundo Molina, foram compradas recentemente, em Manaus, diversas fitas cassete com numeração de lote semelhante à fita de Marinho.
Frota disse que vai ingressar com ação de danos morais contra a revista, exigindo uma indenização de R$ 10 milhões. Na sua opinião, a armação, além de prejudicá-lo, buscava favorecer Jader, que teria um argumento para desqualificar outras denúncias envolvendo o seu nome.
O presidente do PSB-AM, Serafim Corrêa, diz que a montagem visava a três alvos. ?Eles queriam detonar o Mário e o Jader, mas também atingir o senador Jefferson Péres (AM), que é o presidente regional do PDT?, disse."
***
"O senador Edison Lobão (PFL-MA), presidente interino do Senado, disse ontem que as denúncias contra o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) ficam ?comprometidas? com a comprovação de que foi uma armação a fita divulgada pela ?IstoÉ? envolvendo-o em cobrança de propina para liberação de recursos da extinta Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia).
?Isso não desmoraliza o restante [das denúncias], mas compromete o resto do trabalho. As denúncias compõem-se de um todo. Se uma parte é considerada falsa, isso compromete, em parte, o todo?, disse Lobão.
Segundo o pefelista, a confirmação de que a voz do deputado estadual do Amazonas Mário Frota (PDT-AM) foi imitada e a conversa gravada na fita montada ?significa que o senador Jader tem razão em pelo menos alguma coisa, já que tem dito que está sendo vítima de uma campanha?.
Comissão de três senadores criada pelo Conselho de Ética investiga três denúncias contra Jader, entre elas a de que ele teria cobrado propina de US$ 5 milhões para liberar recursos para projetos da Sudam. Essa acusação foi feita em conversa gravada e divulgada pela revista.
A comissão também apura se Jader mentiu ao se defender em plenário sobre duas acusações feitas contra ele: de ser beneficiário de desvios de recursos do Banpará e de não declarar a compra de uma fazenda do empresário José Osmar Borges, considerado o maior fraudador da Sudam.
Lobão encaminhou ontem para o Conselho de Ética os 20 volumes enviados ao Senado pelo ministro Pedro Malan (Fazenda), com os relatórios do Banco Central sobre os desvios do Banpará ocorridos quando Jader era governador.
Para o corregedor do Senado, Romeu Tuma (PFL-SP), que coordena a comissão do Conselho de Ética, Jader não pode usar a conclusão de hoje em sua defesa nos casos do Banpará (Banco do Estado do Pará), dos desvios de verbas da Sudam e da venda de TDAs (Títulos da Dívida Agrária) fraudulentas. ?Não tem nada a ver este caso com os outros?, afirmou o senador.
Tuma já comunicou o resultado do laudo aos senadores Jefferson Péres (PDT-AM) e João Alberto (PMDB-MA), que compõem com ele a comissão especial destacada para investigar as acusações contra Jader."