Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Sílvia Lisboa

INFORMAÇÃO & MANIPULAÇÃO

"Para Ramonet o discurso jornalístico da mídia é infantilizante", copyright Ciranda da Informação Independente (www.forumsocial.org), 30/01/01

"?Os meios não sabem dizer ‘eu não sei’ e essa é a primeira manipulação?. Foi com essa frase que o editor do Le Monde Diplomatique, Ignácio Ramonet, iniciou suas reflexões sobre os desafios da globalização e comunicação cidadã no segundo dia da oficina ?Comunicação e Cidadania?, promovida pela ALAI e outras organizações independentes que trabalham com a informação.

Para Ramonet, os meios de comunicação de massa não reconhecem que ?sabem pouco de muito pouco? e, acabam confundindo os indivíduos com um bombardeio de informações vazias e superficiais. Essa confusão ocorre, principalmente, por causa da mescla das três esferas que compõem o universo da comunicação e que, antes, eram autônomas. São elas: a esfera da informação, a da comunicação institucional (publicidade) e a da cultura de massa. A introdução de novas tecnologias, por outro lado, ocasionou o uso simultâneo de texto, imagem e som nas transmissões jornalísticas, o que fornece a comunicação um caráter de espetáculo. ?Hoje o esporte não tem interesse esportivo, ele é um espetáculo?, frisou o jornalista.

A globalização tem na mídia o seu aparto ideológico principal centralizado nas mãos de meia dúzia de empresas. E isso faz com que a informação não seja mais um discurso com compromisso ético e sim uma mercadoria, uma mercadoria que deve circular com a mesma agilidade das ações na bolsa. Segundo Ramonet, a espetacularização, a mercantilização e o imediatismo da informação são os responsáveis por infantilizar o discurso jornalístico.

E onde ficam os jornalistas neste contexto? ?Os jornalistas de fato estão cada vez mais escassos. A informação não é uma ciência, mas não se faz informação sem ciência e automaticamente?, enfatizou Ramonet que também leciona em uma universidade.

As brechas

Para não desanimar a platéia composta por dezenas de jornalistas e afins, Ramonet usou exemplo do próprio Le Monde – que passou por crises e, hoje, vem aumentando sua tiragem a cada dia – para reiterar que os leitores estão, aos poucos, sabendo distinguir as publicações que os respeitam. ?O nível educacional dos cidadãos está aumentando em contrapartida ao nível midiático cada vez mais vulgarizado. Com certeza vão surgir grupos e organizações que não concordam com isso?, completou Ramonet.

O parecer de Ramonet soou como uma premonição. Logo em seguida, na segunda parte da oficina, cerca de 10 organizações e entidades, que estão buscando alternativas independentes de se fazer comunicação, contaram suas experiências e discutiram projetos de ação futura."

"Oficina jurídica debate monopólio na Internet e direito à informação", copyright Ciranda da Informação Independente (www.forumsocial.org), 30/01/01

"A questão da privacidade na Internet e do monopólio dos grandes provedores e das companhias telefônicas na rede foi debatida na sede da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris), nas oficinas da área jurídica, dentro do Fórum Social Mundial. A conclusão dos expositores foi de que não existe privacidade na Internet e que tornou-se um grande negócio armazenar e negociar digitalmente informações e dados pessoais.

Os participantes da mesa – a professora Andrea Loparic, o jornalista Carlos Castilho e o administrador de empresas Gildásio Cosenza – também concordaram que, enquanto a tecnologia avança rapidamente, as leis demoram muito para serem elaboradas e aprovadas. Defendendo a proibição do spam, Andrea Loparic disse eu ainda não há legislação eficaz contra essa distribuição indiscriminada de mensagens via e-mail, assim como também não há nada que regule o avanço das grandes empresas de telefonia na rede. ?Temos que batalhar por uma Internet responsável, que não esteja nas mãos desses monopólios?, afirmou ela.

Carlos Castilho comentou que o espaço na Internet está sendo cada vez mais invadido pelo comércio eletrônico e que, assim, as empresas que negociam mercadorias na rede são, hoje, grandes bancos de dados. ?A mercadoria de maior valor por elas negociada é o banco de dados?, acrescentou ele. Gildásio Cosenza defendeu a ?informática pública?, ou seja, sistemas democráticos de divulgação de informações sobre gestão dos governos via Internet. ?A sociedade deve exigir que cada vez mais as informações sobre os serviços prestados pelo poder público sejam disponibilizadas na rede?, disse ele. Para Cosenza, esta é uma das maneiras de se combater a exclusão social."

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