AL-JAZIRA
Quando um dos terroristas entrevistados por Yosri Fouda foi preso logo após a exibição da matéria no canal al-Jazira, o repórter decidiu não voltar mais ao Paquistão. "Não agora. Não enquanto estou sendo chamado de tira e de traidor. Espero escapar com o menor dano possível", declarou Fouda. Conta Daniel Williams [The Washington Post, 16/9/02] que mensagens de internet coletadas por agências de notícias ligaram a transmissão da entrevista com a prisão de Ramzi Binalshibh, capturado pela polícia paquistanesa poucos dias depois. "Isto significa que houve um tipo de traição que fez com que o irmão Ramzi caísse nas mãos daqueles infiéis", dizia uma mensagem.
Fouda rejeitou a possibilidade de que agentes dos serviços de inteligência americano ou paquistanês o tivessem seguido no encontro clandestino com os dois integrantes da al-Qaida, em junho. "Não posso culpar as pessoas por pensarem isso. Eu mesmo tentei refletir se não haveria alguma ligação. Mas por que eles esperariam todo esse tempo para agir?", questiona.
Sobre a gravação da entrevista, que envolveu instruções de última hora e viagens de táxi de olhos vendados, o jornalista egípcio disse não ter ficado nervoso. "É importante que estas pessoas acreditem que você confia neles." Além disso, acha que não teria o mesmo destino de Daniel Pearl, pois os terroristas "não ganhariam pontos com seus fãs matando um muçulmano e uma personalidade de TV conhecida".
A entrevista foi gravada com equipamento da al-Qaida, que prometeu enviá-las mais tarde. Semanas depois, chegou uma mensagem pedindo US$ 1 milhão pelo material, alegando que "a luta estava numa situação difícil". O pagamento não era parte do acordo, respondeu Fouda, que deixou o Paquistão. Mais tarde, veio outra nota pedindo US$ 17 mil. "Um belo desconto", comentou o repórter. "Isto me pareceu um sintoma de que algo estava errado. Estas pessoas não pedem dinheiro."
SÍRIA
Os Repórteres Sem Fronteiras [16/9/02] e a Associação Síria de Direitos Humanos pediram ao ministro da Justiça da Síria, Nabil al-Khatib, que as acusações de publicação de material "ilegal" contra quatro ativistas da associação sejam imediatamente arquivadas. "O regime não está acima da lei, especialmente quando acordos de associação com a União Européia, que garantem liberdade de expressão, estão em questão", afirmou Robert Ménard, secretário-geral dos RSF.
O advogado Haissam Maleh, o empresário Farouk al-Homsi, e o vice-presidente da associação, Mohammed Kheir Beik, que devem estar fora do país, são acusados de "introduzir e distribuir publicação ilegal na Síria". Eles editam a Tayyarat, revista da entidade produzida no Líbano. O quarto homem a ser julgado é Ghassoud al-Malla, motorista da perua que transportava a revista para dentro do país. Há rumores de que estaria preso há quatro meses.
A associação foi fundada em julho de 2001 por diversos intelectuais e nunca ganhou autorização do governo para funcionar. A Tayyarat também aguarda licença de publicação. Como jurista, Maleh defendeu 10 oponentes do regime no ano passado e todos foram condenados. Al-Homsi é irmão do parlamentar oposicionista Maamoun al-Homsi, preso há cinco anos.