Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Sobre fins e meios

SAN JOSE MERCURY NEWS

"Quando é permitido a um jornalista enganar sua fonte?", pergunta Dan Fost, em matéria para o San Francisco Chronicle (8/8/01). O assunto veio à tona após a demissão do repórter Jim Dyer, do San Jose Mercury News, que escreveu uma série de reportagens em junho sobre um experimento na Universidade da Iowa nos anos 30, na qual pesquisadores induziram crianças de um orfanato estatal a gaguejar. Aparentemente, Dyer obteve a informação em arquivos estatais aos quais teve acesso por ser formado pela universidade, e havia se comprometido a usar os dados apenas para pesquisa escolar.

Após a publicação da história, Dyer foi repreendido publicamente por seu editor por não ter se apresentado como jornalista, e foi despedido. Dan Fost lembra que outros repórteres colheram informações sem revelar sua profissão, e ainda assim receberam prêmios jornalísticos. Charlie LeDuff, por exemplo, ajudou o New York Times a conquistar o Pulitzer no ano passado após trabalhar num matadouro na Carolina do Norte e escrever sobre as relações raciais entre os funcionários. Em momento algum LeDuff se identificou.

Trata-se de um território perigoso: em 1992, a ABC News foi processada pela Food Lion por infiltrar jornalistas em seus supermercados e usar câmeras escondidas para filmar carne podre à venda. Embora o júri se tenha declarado a favor da Food Lion e determinado multa de US$ 5,5 milhões à ABC, um recurso reduziu o veredicto a quase nada ? US$ 2.

"É realmente uma área nebulosa do direito neste momento", diz o advogado Roger Myers, para quem a Justiça pode aceitar os "crimes de concessão" ? mentir para obter acesso ? em oposição aos "crimes de omissão", nos quais "repórteres não mentem, apenas não se identificam".

A diferença entre a conduta de LeDuff e de Dyer, no entanto, está no fato de que o primeiro revelou seus métodos aos editores e depois aos leitores do jornal. Segundo o editor-executivo do Mercury, David Yarnold, embora Dyer esteja de fato fazendo mestrado em Iowa, ele obteve acesso ao arquivo concordando que queria a informação para fins de escolares. "Há quem argumente que Dyer não fez nada incorreto ou que o resultado justifica os meios. Eu discordo."

Bob Steele, da escola de jornalistas Poynter Institute, acredita que os editores do jornal também têm responsabilidade no caso. E questiona: "Qual foi o nível de vigilância dos editores do Mercury? Eles observaram e contestaram Dyer a respeito de seus métodos de reportagem e conteúdo? Os editores do Mercury fizeram as perguntas certas na hora certa?"

COLÔMBIA

Quatro dias após o lançamento do tablóide Hoy, pela editora do tradicional jornal colombiano El Tiempo, toda a mídia noticiou o seqüestro de um ex-governador por guerrilheiros das Farc. A capa da Hoy, entretanto, trazia uma matéria sobre corrida de porcos, observa Mark Fitzgerald [Editor & Publisher, 7/8/01]. "Hoy é totalmente diferente do Tiempo. Não há fotos de políticos. Nem guerrilha. É um jornal positivo, com notícias boas, engraçadas. Notícias felizes", resume seu diretor, José Clopatofsky.

Inspirado no brasileiro Extra, o tablóide investe na fórmula de artigos curtos sobre temas "leves", e custa menos da metade do preço dos outros diários de Bogotá. Seu público-alvo é uma classe média baixa estimada em 4 milhões de pessoas, que não lêem nenhum veículo. Mas está ficando popular entre classes mais altas, vendendo atualmente 32 mil exemplares.

O mercado está aberto para Hoy ? Bogotá tem apenas um diário esportivo e outro tablóide, El Espacio. "Não há competição neste nicho", diz Clopatofsky. "Nosso objetivo é lucrar em pouquíssimo tempo ? seis meses ? com um mínimo de investimento e ser o segundo jornal de maior circulação da Colômbia dentro de um ano."

    
    
                     

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