Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Soluções para a crise no telejornalismo

NEWSWORLD DUBLIN 2002

Antônio Brasil

O Newsworld 2002, principal encontro de jornalistas de TV de todo o mundo, terminou na quinta-feira [28/11], em Dublin, na Irlanda, e foi considerado um grande sucesso pelos organizadores. Cerca de 450 jornalistas, executivos e empresários do setor viajaram grandes distâncias e pagaram caro para discutir os problemas presentes e futuros do mundo das notícias na TV. Jornalistas importantes como o presidente da CNN International, Chris Cramer, sir David Frost, da ITV, Martin Bell, da BBC, e tantos outros participaram dos diversos painéis sobre temas atuais, como a banalização dos telejornais, a segurança dos jornalistas e a relação entre mídia, governos e eleitores. Tinha gente do mundo inteiro, até mesmo de países distantes com nomes estranhos, como o Burundi, na África. Mas o Brasil e o continente latino-americano continuam quase que totalmente ignorados pela mídia internacional.

Por incrível que pareça, a exceção ficou por conta do telejornalismo universitário brasileiro na internet. Convidados pelos organizadores para o painel "The Next Generation", que procura apontar soluções para a crise no telejornalismo, coube ao TJ Uerj Online, o primeiro telejornal universitário brasileiro diário e ao vivo na internet, produzido pelos alunos da Uerj, representar solitariamente nosso país.

Para surpresa de muitos jornalistas internacionais que participaram do NW 2002, não havia ninguém da poderosa Rede Globo ou das demais emissoras de TV brasileiras. Depois não sabem por que estão com tantos problemas. Pelo jeito, preferem continuar isoladas do mundo, lamentando a falta de recursos. Em tempos de crise financeira, mas com nova legislação que abre o mercado interno televisivo brasileiro para o capital estrangeiro, perdeu-se mais uma grande oportunidade para mostrar o que está sendo feito de bom no nosso telejornalismo.

O Newsworld não é só mais um encontro para discussão temática de problemas do meio televisivo que não leva a nada. Muito pelo contrário. O encontro é voltado para as soluções. É, principalmente, uma excelente ocasião para a busca de parcerias internacionais em novos projetos e para a realização de bons negócios. Agora, esperar que os investidores estrangeiros do setor televisivo internacional simplesmente venham colocar milhões de dólares em empresas brasileiras em crise é no mínimo irresponsável e ingênuo. Buscar boas parcerias internacionais não é necessariamente vender a nossa TV a preço de banana a qualquer empresário estrangeiro ou perder nossa autonomia editorial e política. Negociar parcerias subentende conhecer novas propostas e oferecer boas idéias. E é para isso que existe encontros internacionais como o Newsworld.

Alternativa para a crise

Dentro desse espírito, a apresentação do telejornal Uerj Online procurou convencer as TVs e universidades estrangeiras de que é possível ensinar e produzir um telejornalismo de boa qualidade com poucos recursos em países pobres como o Brasil. Os telejornais universitários brasileiros podem ser jovens, independentes e criativos num meio ainda tão novo como a internet. Televisão na internet. A tecnologia da rede avança diariamente e já possibilita uma boa qualidade de som e imagem, além de oferecer a oportunidade de desenvolver novas linguagens para um novo "jornalismo de guerrilha".

Este novo conceito de jornalismo está surgindo num trabalho experimental por iniciativa de uma nova geração de futuros jornalistas. Muitos profissionais e professores de Jornalismo presentes confessaram-se surpresos com a ousadia e o pioneirismo da proposta. Ficaram ainda mais surpresos pelo fato de o projeto ser tão simples e estar sendo desenvolvido numa universidade de um país tão distante, ignorado pela mídia e pelas grandes universidades. O comentário geral era: por que não pensamos nisso antes? Com algum apoio, o modesto telejornal dos alunos brasileiros pode indicar uma alternativa para o futuro das notícias na TV.

Em quase todos os painéis, os participantes do Newsworld demonstraram grande preocupação com o afastamento do público jovem dos telejornais. A BBC apresentou algumas propostas bem criativas. Todas têm em comum a utilização de apresentadores âncoras bem mais jovens, que se parecem muito com os VJs da MTV. Eles falam uma linguagem mais coloquial e descontraída e apresentam novos formatos visuais, que se assemelham muito à internet, e muita interatividade com o público-alvo. Não adianta mais esperar que o público jovem vá se limitar a ficar na frente da TV assistindo às notícias. O segredo agora é tentar fazer com que eles participem dos programas de notícias.

É um novo conceito de telejornalismo, pelo qual o público tem acesso a novas idéias, novo uso de câmeras e às transmissões de baixo custo via internet. Esta é uma boa alternativa para a crise no telejornalismo mundial, que aponta um envelhecimento do meio e um desinteresse cada vez maior dos jovens pelos telejornais e pela própria democracia.

(*) Jornalista, coordenador do Laboratório de TV, professor de Telejornalismo da Uerj e doutorando em Ciência da Informação pelo convênio IBICT/UFRJ