BÓSNIA
A televisão privada da Bósnia está sendo ameaçada pela concorrência da pública. Financiada por países estrangeiros, a recém-criada rede nacional de emissoras estatais tem sido privilegiada de tal maneira que os pequenos canais locais, que produzem muitas reportagens agressivas de qualidade, correm o risco de falir.
O principal problema é uma lei criada pelo ex-alto-representante da comunidade internacional, Wolfgang Petritsch, que permite à TV estatal passar propaganda. Como esta não é sua única fonte de renda, acaba vendendo espaço a preço muito inferior ao comercialmente viável. Deste modo, os anunciantes deixam de comprar tempo nas emissoras regionais privadas.
Segundo The New York Times [1/6/02], Paddy Ashdown, novo alto-representante, quer fortalecer a agência que regula a televisão no país e deve derrubar a lei assim que possível. Contudo, dificilmente conseguirá fazê-lo antes das eleições de outubro, o que pode ser tarde para muitos canais.
Homenagem póstuma
A estrada que leva ao aeroporto de Sarajevo ganhou o nome de Kurt Schork, correspondente da Reuters que cobriu a guerra da Bósnia de 1992 a 1995 e morreu numa emboscada em Serra Leoa em maio de 2000.
O trecho era conhecido como "estrada para o inferno" na época de conflito, pois era repleta de atiradores e lançadores de morteiro que se esforçavam para atingir os poucos veículos que se arriscavam a trafegar por lá ? geralmente carros que levavam comida para a cidade ou equipes de jornalistas ou da ONU. O americano Schork deu significativa contribuição para que o mundo soubesse o que se passava na Bósnia nos anos de guerra, recorda a AP [28/5/02].
TURQUIA
Em maio, o presidente da Turquia, Ahmet Necdet Sezer, assinou, a contragosto, lei que dá à autoridade governamental de mídia amplos poderes para controlar a imprensa. Sezer, que já encaminhou a regulamentação para exame na Justiça, ficou impedido de vetá-la porque já o havia feito anteriormente. Por mais contraditório que possa parecer, o dono da maior corporação de mídia do país, Aydin Dogan, do grupo Dogan, ficou satisfeito. Isso se explica pelo fato de que foi aprovada também resolução que flexibiliza normas contra monopolização dos veículos de comunicação. Apesar de admitir que a parte restritiva da lei é falha, o empresário saiu ganhando. Em resumo, o suposto maior interessado na liberdade de imprensa ficou mais interessado na liberdade de dominar o mercado.
Na verdade, Dogan já controlava mais veículos de comunicação do que seria permitido pela antiga lei. Contudo, como revela a Time [3/6/02], o fazia através de diversas empresas, para disfarçar que se tratava tudo do mesmo grupo. "Tenho lutado desde 1995 pela mudança da lei. Ela levou os donos de emissoras de TV a atuar no subterrâneo", explica o empresário.
Críticos na Turquia avaliam que a medida aprovada, que serviria para fortalecer a autoridade governamental, foi feita para atender a Dogan. Sua corporação detém duas emissoras de televisão e dois dos maiores jornais ? Hurriyet e Milliyet ?, além de seis menores. Também tem negócios no ramo bancário, turístico e de distribuição de combustível. Ele recebe cerca de 40% de todo rendimento gerado por propaganda no país e acrescenta: "Controlo 80% de sua distribuição. Não vejo isso como monopólio".
A nova lei da Turquia vai contra os ajustes que precisam ser feitos para que a União Européia a aceite como novo membro. Jean-Cristophe Filori, porta-voz da UE para questões de ampliação do bloco, classifica a regulamentação como "incompatível com os critérios de Copenhague".