Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Stalimir Vieira

PROPAGANDA

“O Conar Errou”, copyright Propaganda e Marketing, 26/5/02

“Semana passada, recebi um longo e-mail que me fez parar o que eu estava fazendo e me dedicar apenas a compreendê-lo completamente, inclusive, porque trazia, anexados, diversos documentos.

Como já cansei de repetir aqui, o meu tempo é escasso. Eu diria mais: escassíssimo. Mas não adianta, está no código genético: ao pressentir uma injustiça, a busca da justiça passa a ser minha ocupação principal. Por conta disso, já perdi avião, emprego, cliente. A verdade, amigos, é que o CNA ?chupou?, intencionalmente ou não, a campanha do Just in Time, em que aparece um sujeito careca e narigudo, com uma tecla ?sap? na cabeça. Não há nada para discutir, para debater, não há necessidade de se perder tempo, o caso é de uma simplicidade humilhante.

Basta pegar as duas peças e perguntar qual foi veiculada primeiro. Não faz falta que se gaste tanto tempo, saliva, papel e energia (além, inclusive, de nos expormos, publicamente, através de redações de uma profunda anemia lingüística) para sustentar uma posição que não precisa nada mais do que um lampejo de bom senso para ser derrubada. Portanto, minhas senhoras e meus senhores, companheiros do Conar, declaro, antecipadamente, que, se um dia, eu fizer um anúncio para um curso de inglês, utilizando um careca narigudo com uma tecla ?sap? na cabeça, eu estarei chupando o anúncio da Just in Time. Assim, não percam tempo em me defender.

Ao arquivar o caso e absolver o CNA e sua agência, o Conar errou. O que está muito longe de significar que o Conar é um erro. O Conar é um acerto, é resultado da luta aguerrida de muita gente séria, é uma prova de civilidade e de cidadania, que tem servido de modelo para muitos outros países. A existência do Conar é a mais séria tentativa de livrar, pelo menos uma parcela da sociedade, da necessidade do tráfico de influências de lobistas políticos, da intermediação dos bandidos profissionais que infestam Brasília, levando e trazendo decisões remuneradas com dinheiro sujo. Sim, porque a auto-regulamentação significa que a nação amadurece e dispensa o paternalismo e o oportunismo do Poder.

No entanto, não pode o Conar, por comodismo, ir, aos poucos, se transformando numa espécie de TJD (Tribunal de Justiça Desportiva), cujas decisões, quase sempre, carregam o ranço do corporativismo, além de demonstrar uma hipersensibilidade a alternativa do cidadão de recorrer a outras instâncias de justiça.Concordo que o Conar estará em muito melhores condições de julgar as sutilezas e as subjetividades da criação publicitária do que a justiça comum. No entanto, quando o Conar não cumpre, apropriadamente, o seu papel, num caso tão óbvio como o CNA x Just in Time, quem sabe a própria obviedade não será um facilitador para um julgamento adequado por parte de ?leigos??

O condicionamento da burocracia, a rotina dos procedimentos, o tédio da linguagem, são circunstâncias extremamente ?emburrecedoras?. Em qualquer atividade, às vezes, é preciso sair e respirar ares renovados.

A causa do Conar merece essa atenção, esse gesto de responsabilidade.

Idealistas como o Gilberto e o Edney são dignos de um Conar respeitável e atual. (Stalimir Vieira é publicitário, professor da ESPM, membro do Conselho de Ética do Conar e colunista do Jornal Propaganda e Marketing)”

 

PROGRAMAÇÃO LOCAL

“Senado aprova cota para programas locais”, copyright Folha de S.Paulo, 23/5/02

“A Comissão de Educação do Senado aprovou anteontem, por unanimidade, projeto de lei que obriga as emissoras de TV a cederem pelo menos 30% do horário das 18h às 22h para programação sobre culturas regionais. Se não for apresentado nenhum recurso para votação do projeto em plenário (todos os senadores), a proposta seguirá diretamente para a Câmara dos Deputados.

Na prática, o projeto obriga as redes de TV a abrirem mão de 72 minutos do horário nobre. Seria uma catástrofe, por exemplo, para a TV Globo, que tem uma grade fixa há décadas. Na faixa das 18h às 22h, a emissora dispõe de apenas 15 minutos para telejornais locais _o que não é necessariamente ?cultura local?. Teria que sacrificar uma telenovela.

As emissoras de TV vão tentar modificar o projeto de lei _que regulamenta dispositivo da Constituição de 1988_ na Câmara dos Deputados, onde há outras propostas semelhantes. Vão pressionar deputados a baixar o limite de 30% para 5% e tentar derrubar a imposição das 18h às 22h.

Todas as redes de TV destinam faixas da programação para atrações locais, mas nenhuma delas em horário nobre. Na Globo, além dos telejornais regionais, as afiliadas só podem usar horários nas tardes de sábado e manhãs e finais de noite de domingo. A RBS (RS e SC) é a afiliada da Globo que mais investe em programação local.

OUTRO CANAL

Barraco 1 ? Pressionado por telespectadores, o Ministério da Justiça reclassificou o programa ?Canal Aberto?, da Rede TV!, até então livre, como impróprio para menores de 14 anos, inadequado para exibição antes das 21h. O programa vai ao ar das 16h às 18h e mostra reconstituições de brigas familiares.

Barraco 2 ? A Rede TV!, segundo seu departamento jurídico, irá ?readequar o programa ao horário e coibir abusos?. Poderá até mudar seu formato. Já a Globo se comprometeu a não exibir ?qualquer desvio de comportamento ou cenas constrangedoras? e conseguiu, no ?Diário Oficial? de ontem, reclassificar ?Big Brother Brasil 2? como livre _antes era impróprio para menores de 14.

Profeta ? A novela ?O Clone? atingiu nesta semana média de 46 pontos na soma de todos os 199 primeiros capítulos. É o recorde absoluto dos últimos cinco anos. Superou ?Laços de Família? (45 pontos) e ?Terra Nostra? (44).

Minhoca ? Ainda repercute, e mal, nos bastidores da Globo, o ?Hipertensão? com famosos. Tem diretor achando que a emissora foi longe demais ao expor seus artistas em provas com insetos.

Renovação ? A Gazeta vai exibir durante a Copa o ?Mesa-Redonda Nova Geração?. Roberto Avallone e Chico Lang estão fora.”