TV CÂMARA
Marta Ferreira (*)
Enquanto a imprensa brasileira tratava de fazer trocadilhos com o racionamento de energia, apagão, corte programado ou o que quer que seja que vem por aí, o traficante Fernandinho Beira Mar estrelou, na terça-feira [15/5], mais um episódio vexatório para os ilustres parlamentares brasileiros. Devedor da lei, integrante de uma indústria que corrompe, mata e banaliza a violência no mundo todo, Luís Fernando Costa deixou os deputados como crianças brincando de mocinho e bandido. Domesticou seus interrogadores durante as três horas em que falou só o que quis, sem ouvir o que não queria e sem ao menos dizer algo relevante. Na audiência pública organizada só para "interpelar" o homem mais procurado do Brasil até poucas semanas atrás, o traficante abusou da ironia e chegou a trocar reminiscências do seu tempo do Exército com o costumeiramente incisivo deputado Jair Bolsonaro, aquele que defende a pena de morte como a sua própria vida. Bolsonaro, exemplo da paspalhice demonstrada pelos parlamentares, desperdiçou cinco minutos da audiência. Não concluiu raciocínio, nada perguntou. Deu apenas a oportunidade de o traficante dizer o que muitos brasileiros pensam: tem muito deputado bandido ou ex-bandido na Câmara Federal. A reação dos nobres colegas foi manifestada apenas em risos vergonhosos, como aqueles de alunos pegos em flagrante pelo professor.
Ao final de tudo, restou para o presidente da Comissão Especial de Combate à Violência, Marcondes Gadelha, o papel de reconhecer o pouco efeito do tão esperado encontro. E para o defensor da descriminalização da maconha, Fernando Gabeira, sobrou talvez a declaração mais sincera e verídica: assim como Fernandinho Beira-Mar riu, várias vezes, da cara dos deputados, o espectador de tal evento também deve ter ficado com um ar de quem estava vendo comédia. Um filme malfeito, com atores péssimos, sem graça nenhuma. Era melhor que o apagão já tivesse começado. E pela Câmara.
(*) Jornalista em Campo Grande (MS)
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