ÂNCORAS
Walland Silva (*)
Certa vez, o jornalista e apresentador de TV americano Bernard Shaw (um dos mais célebres e respeitados apresentadores da CNN, recentemente aposentado), em entrevista concedida a um veículo da imprensa brasileira, disse que "estranha a liberdade" dada no Brasil aos apresentadores de programas jornalísticos, ainda mais nos noticiários.
Bernard Shaw se referia ao festival de "caras e bocas" que apresentadores brasileiros, jornalistas ou não, fazem durante a leitura dos textos. Expressões faciais que acabam interferindo no sentido da mensagem. Afinal, o corpo também fala.
Uma pequena mostra disso foi o Jornal Nacional do dia 23 de junho. Ao ler o texto sobre a morte do jogador Clebson, a apresentadora Ana Paula Padrão abriu a notícia com o seu peculiar e belíssimo sorriso.
Das duas, uma: ou a apresentadora não fez a leitura prévia do texto, lei para qualquer apresentador, e daí foi pega de surpresa, ou quem sabe se julga mais importante que o fato, a ponto de se importar mais com o sorriso na tela do que com a credibilidade jornalística do programa.
Salvo raras e preciosas exceções, grande parte dos apresentadores no Brasil se considera tão ou mais superior que o fato em si. Uma postura explicada e permitida talvez pela doutrina da maioria dos veículos de imprensa, de tornar noticiários jornalísticos show, espetáculo, em vez de relatos objetivos dos acontecimentos que nos cercam.
(*) Jornalista, São Luís, MA