Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Supermercados da educação sob suspeita

ROLO NO MEC

Ruben Dargã Holdorf (*)

Não são recentes as revelações em torno da venda e da falsificação de diplomas de graduação. Em Dallas, EUA, quadrilhas hispânicas fabricam até diplomas de titulação em mestrado, doutorado etc. Em meados deste ano, o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, cancelou por tempo indeterminado as autorizações para abertura de novos cursos superiores. A portaria não chamaria a atenção se não fosse pelo motivo de suspeitas de corrupção dentro do próprio Ministério da Educação e Cultura (MEC).

Um dos secretários executivos autorizou que sua mulher abrisse o curso de Engenharia Civil, mesmo após a fiscalização tê-la impedido por falta de garantias e qualidade. O ministro o demitiu e nomeou Raul Christiano Sánchez para o cargo de confiança. Na metade do semestre passado, a revista Veja denunciou a venda de autorizações para ex- sócios da Universidade Paulista (Unip), cujo proprietário é João Carlos Di Genio, do poderoso Grupo Objetivo, que trabalhou arduamente em prol de Fernando Collor cedendo jatinhos para a campanha presidencial. O assunto foi abafado.

Entretanto, dois ex-professores da Unicamp, um livre-docente e outro doutor, revelaram o lado podre das instituições superiores particulares. Aposentados, os dois receberam proposta para trabalhar em um centro universitário da capital paulista, com vencimentos de R$ 15 mil cada. Usando sua credibilidade perante o MEC e experiência dos tempos da Unicamp, apenas precisavam forjar documentos, camuflando aspectos relacionados ao cumprimento das exigências legais. Além disso, manteriam aparências lecionando algumas disciplinas na graduação. Revoltados com as falcatruas da diretoria, pediram demissão e se incorporaram a outro centro universitário do interior, onde solicitaram sigilo por temerem os antigos empregadores.

Estudantes, desconfiem

Dirigir curso superior no Brasil se transformou em lucrativo negócio. Só que nem todos têm competência e habilitação para gerenciar essa atividade. Então, surgem os picaretas, interessados única e exclusivamente na rentabilidade. Hoje, há empresas, ilegais, que vendem projetos pedagógicos e currículos, alugam móveis, equipamentos e laboratórios completos, tirando-os das instalações após a verificação dos fiscais do MEC.

Apresentando o que há de melhor no mercado em tecnologia, conseguem enganar sem problemas as autoridades e receber autorização para abertura de qualquer curso. Os interessados em cursar faculdade cuja aparência ostente boa impressão podem ser enganados. Além de exigir qualidade, os acadêmicos devem cobrar currículo moderno e coerente com o mercado de trabalho, titulação e experiência prática de professores, observando a tradição educacional da instituição na praça.

Desconfie dos cursos novos, mesmo em universidades privadas.

(*) Jornalista e professor em São Paulo, mestrando em Educação; e-mail: <dargan_holdorf@hotmail.com>