Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Tablóide dá lição

MONITOR DA IMPRENSA

ÉTICA NA TIME

O dilema ético de revelar ou não o rosto e o nome de vítimas de escândalos ou crimes parece estar fadado a pairar eternamente sobre redações e estúdios de rádio e TV. No dia 11 de junho do ano passado, durante a parada Nacional Porto-Riquenha, no Central Park, jovens foram sexualmente molestadas por um grupo de homens que já havia violentado no mínimo 50 mulheres nas proximidades. As cenas de um vídeo amador flagrando o episódio tornaram-se batata quente nas mãos dos editores.

Agora, nova batata quente queima as mãos da mídia americana e de seus indecisos agentes. O reverendo Jesse Jackson reconheceu no dia 18 de janeiro ser pai de uma menina em relação extraconjugal com Karin L. Stanford, sua antiga funcionária. O caso foi publicado na edição do dia 30 de janeiro do Nacional Enquirer. Uma foto da garota, tirada por um paparazzo, ilustrava a história, mas seu rosto foi obscurecido e seu nome omitido.

A atitude da revista surpreendeu a mídia em geral. Embaçar a imagem não atrai tantos leitores quanto se espera de um tablóide como o Enquirer, que vive de escândalos. Segundo Alex Kuczynski [The New York Times, 29/1/01], algumas companhias midiáticas não cobriram o rosto da criança. A revista Time, por exemplo, não apenas publicou foto de Karin Stanford com a menina junto a um cartão de Natal em sua edição de 29 de janeiro, como fez questão de pôr holofotes sobre seu nome, destacando-o em caixa alta.

James Kelly, diretor de redação da Time, disse que sempre analisa minuciosamente cada caso que envolve publicação de imagem de crianças. Segundo ele, só se escondem rostos de vítimas de atos obscenos, e não seria justo que esta criança crescesse pensando estar envolvida em situação vergonhosa.

Steve Coz, editor do Enquirer, se disse chocado com o mau uso que a Time fez do cartão de Natal. Para ele, o material não é digno de publicação. "A garota é inocente na história", afirmou. "Não veiculamos fotos de crianças a menos que pais famosos empurrem-nas aos holofotes."

DEMISSÕES

O New York Post, como outros jornais, cobriu o anúncio feito pela CNN no final de janeiro, de que haveria 400 demissões na emissora [ver remissões abaixo]. Mas, em 23 de janeiro, artigo sobre demissões foi ilustrado com um logo debochado da CNN, "Cheap News Network", em vez de "Cable News Network". No dia seguinte, aprimorado, o logo zombeteiro dizia "Cruel News Network."

Segundo reportagem de Corey Kilgannon [The New York Times, 29/1/01], o logo do dia 24 estava acompanhando coluna de opinião na seção de negócios condenando a maneira como as demissões foram feitas. Procurar em artigos do Post provocações a Ted Turner, fundador da CNN, tornou-se quase um jogo de salão. A News Corporation, dona do Post, é controlada por Rupert Murdoch, que, além de concorrente de Turner, parece ter rixa de longa data com ele.

Jon Elsen, editor de negócios do Post, disse que a cobertura sobre a CNN do jornal "não tem a ver" com a rixa. "Decidimos nos divertir um pouco", afirmou, referindo-se ao logo. "Chamamos de Cheap (barata) News Network por causa das demissões, depois descobrimos a brutalidade com que todo o processo de reestruturação estava sendo feito e mudamos para Cruel News Network."


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