Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

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MONITOR DA IMPRENSA

FURO DE REPORTAGEM

Na opinião de Howard Kurtz [The Washington Post, 26/2/01], a publicação mais quente do momento é o National Enquirer ? e ninguém da tropa de elite da imprensa americana está segurando o riso. Um mês após dar seu furo de reportagem memorável sobre o filho bastardo do reverendo Jesse Jackson, o jornal distribuído em supermercados repetiu a façanha há duas semanas, descobrindo que o irmão de Hillary Rodham Clinton recebeu grandes somas por ajudar a garantir o perdão presidencial concedido a um executivo acusado de fraude e perjúrio.

"Temos nos voltado pouco a pouco para a política nos últimos três anos, desde o caso Monica Lewinsky", afirma Steve Coz, editor do tablóide Enquirer. Para ele, é pouca a diferença entre Hollywood e Washington. "Os políticos são mais conhecidos hoje", diz. "O divórcio de Tom Cruise e Nicole Kidman pode gerar uma ótima reportagem, mas quando se desvela o escândalo do perdão de Bill Clinton haverá um impacto na vida das pessoas."

O Los Angeles Times e a Associated Press chegaram perto, mas foi o Enquirer que obteve a cópia da transferência de 200 mil dólares do banco canadense de Almon Braswell para a firma do advogado irmão de Hillary. Coz reconheceu ter utilizado seu talão de cheques tanto para a matéria de Jackson quanto para a de Rodham. Mas, diz, "as reportagens eram mais dependentes de jornalismo investigativo do que de qualquer outra coisa".

O que chama ainda mais a atenção é o poder de fogo do tablóide. Uma dúzia de repórteres estava caçando os 10 perdões mais questionáveis de Clinton. Tal como a matéria sobre Jackson, a apuração foi tão sólida que não houve muitas opções a não ser confirmar detalhes.

Formado em Harvard, Coz parece se orgulhar de trabalhar num veículo de 2,1 milhões de exemplares. "Clinton é o Tom Cruise da política, um personagem maior que si mesmo", diz. E o que acontece quando Clinton passa o cetro a Bush? "Essa é uma grande questão", afirma o editor. Mas, claro, sempre haverá Tom & Nicole…

PALESTRA DO EX

Coincidência ou não, logo depois que o Congresso, a Procuradoria da República e a mídia se aprofundarem nos perdões de última hora de Bill Clinton na Casa Branca, o ex-presidente pediu no dia 27 de fevereiro que a imprensa preste mais atenção aos assuntos estrangeiros.

A palestra, segundo Fred Kaplan [The Boston Globe, 28/2/01], foi uma aula no padrão Clinton, mais parecida com o que Al Gore deve passar a sua classe na Faculdade de Jornalismo da Universidade de Colúmbia. O discurso, como outro do começo de fevereiro, levantou controvérsias antes mesmo do início, devido à pouco razoável taxa de 100 mil dólares cobradas pelo ex-presidente, que enfrenta possível investigação criminal.

Para minimizar a chance de fazer notícias mesmo acidentalmente, câmeras e gravadores foram barrados na sala de convenções onde foi realizada a palestra. Voltando-se para executivos da mídia em particular, Clinton expressou compreensão em relação às pressões comerciais que os profissionais enfrentam na era da TV a cabo, da internet e das notícias 24 horas. "A verdadeira questão é se você pode lucrar com o serviço público e se pode transformar notícias dignas de publicação em entretenimento."

No ano passado, disse Clinton, foram publicadas mais de 24 mil reportagens sobre o programa Who wants to be a millionaire, e menos de 8.500 artigos sobre sua iniciativa de reduzir a dívida mundial. O ex-presidente também enalteceu algumas reportagens que mostraram a possibilidade de melhora dos principais problemas globais, citando em particular o artigo de Tina Rosenberg, da revista do New York Times, "sobre como o Brasil praticamente erradicou a Aids."

CLINTON & CBS

Parece que Bill Clinton é mesmo a bola da vez. Antes de deixar o governo, o então presidente estimulou de leve o líder da CBS a firmar acordo sobre uma disputa em que a emissora estava envolvida com dois amigos íntimos de Clinton, afirmou Leslie Moonves, executivo-chefe da CBS, no dia 27 de fevereiro. Moonves disse, no entanto, que a intervenção de Clinton em benefício dos produtores de TV Harry Thomason e Linda Bloodworth-Thomason não influenciou no fim da disputa.

As conversas, segundo Paul Farhi [The Washington Post, 28/2/01], deram-se meses antes dos perdões de Clinton. O ex-presidente falou com Moonves enquanto os Thomason negociavam uma "multa" com a CBS depois que a emissora decidiu não transmitir uma comédia produzida pelo casal na temporada de 1996/97. "Tive inúmeras conversas com Clinton nos últimos anos", afirmou Moonves. "Ele é meu amigo. Nenhuma decisão de negócios se baseou em conversas com ele."