AVALIAÇÃO IMPLODIDA
Marcio Rogério Flizikowski (*)
O universo acadêmico brasileiro ficou em polvorosa com a notícia do fim do Provão como sistema de avaliação dos cursos superiores. Em substituição ao provão, o MEC e a Sesu propõem o retorno das comissões de avaliação. As duas propostas têm seus pontos positivos e negativos.
O Provão é muito pontual e originou a indústria de preparação para a avaliação. Além de outros problemas indiretos como, no caso específico de Jornalismo, o provão ser "teórico". Ao definir o Provão como teórico, pede-se que o aluno, ao realizar o exercício, apenas simule a produção de um texto ou de uma atividade jornalística; ele não faz de fato uma entrevista ou algo parecido.
Em síntese, o problema do Provão é exatamente o mesmo das avaliações teóricas de disciplinas consideradas práticas: cobra o conteúdo, apenas o saber do aluno. Numa perspectiva pedagógica mais atual e holística de educação, deve-se pressupor que o aluno não desenvolva apenas o saber, mas também o fazer e o ser. Por falar em pedagogia, voltam-se os olhos para os professores e, principalmente, os integrantes das comissões de avaliação dos cursos superiores.
Participei de um processo de reconhecimento de curso superior (Publicidade e Propaganda) e dois processos de autorização de cursos (Web Design e Comunicação Audiovisual ? os dois cursos superiores em tecnologia).
Indústria do diploma
Nessas avaliações de que participei e em outras de que recebi informaçccedil;ões, algumas situações foram constrangedoras: avaliadores que não pertenciam à área do curso que estavam avaliando, desconhecimento de práticas pedagógicas e, algumas vezes, comissões de avaliação sem bom senso.
Falta de bom senso é a expressão correta para caracterizar determinadas atitudes de algumas comissões. Como nos casos em que a comissão, para verificar o comprometimento do corpo docente, marcava uma reunião-surpresa em horários inviáveis ? algumas vezes de madrugada.
As visitas das comissões transcorriam de forma extremamente técnica: há um questionário objetivo em que são preenchidos alguns itens, que são pontuados. Observa-se tamanho de laboratórios, titulação docente etc. Não existe um ponto em que se verifique a produção acadêmica dos discentes, apenas dos docentes.
Parece claro que o diploma de mestre ou doutor e uma grande produção científica não atestam a qualidade de um professor. Comprova seu conhecimento sobre o assunto e sua capacidade como pesquisador. Ao entrar em sala de aula, esse "professor" é didático? Motivado? Pode ser chamado de professor? Não sei a resposta, mas o professor "titulado" marca muitos pontos na avaliação do MEC, o que acabou originando a chamada indústria do diploma, com o sucateamento de cursos de mestrado, convalidação de diplomas de cursos no exterior que se pode considerar no mínimo duvidosos.
As preparadas sobreviverão
Ao observar o Provão e as comissões de avaliação percebe-se facilmente que os dois têm problemas, mas também pontos positivos. O que se torna claro é que tanto um quanto outro não solucionarão a questão da qualidade do ensino superior: são apenas mais algumas ferramentas que, num formato o ideal, deviam ser aplicadas juntas.
Existe uma última forma de avaliação que devemos considerar como a mais importante: o conceito da sociedade. Quando falo em sociedade não estou me referindo apenas ao mercado, pois este é outro problema dos cursos superiores ? em especial na área de Jornalismo ? que se baseiam apenas no mercado. A sociedade é o principal regulador da qualidade dos cursos, mas para que isso funcione é preciso que a sociedade esteja madura e consciente. Estamos apenas dando os primeiros passos nessa direção, e sistemas de controle e avaliação dos cursos são essenciais para alcançarmos esse amadurecimento.
Para encerrar, ao ministro Cristovam Buarque uma pequena mensagem: o governo não precisa se preocupar em fechar cursos desqualificados. As avaliações conjuntas do Provão e das comissões especiais atribuíram aos cursos desqualificados sua posição e, como estamos chegando a um momento de afunilamento da demanda de estudantes, apenas as mais preparadas poderão sobreviver.
(*) Coordenador do curso de Comunicação Social da Faculdade Opet de Curitiba e professor de Jornalismo da Universidade Federal do Paraná
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