Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Tecnologia em uniforme de campanha

VIDEOFONE

As imagens têm chuvisco, o som lembra conversa embaixo d?água. Por pior que seja, porém, o videofone virou a ferramenta high-tech favorita dos repórteres de TV em locais remotos. Antes de ser expulso de Cabul pelo Talibã, em setembro, o correspondente da CNN Nic Robertson usou o videofone para transmitir imagens da capital afegã ? inclusive uma tomada ao vivo de um ataque da guerrilha de oposição. Segundo Paul Farhi, em matéria do dia 8/10 para o Washington Post, todas as grandes redes agora usam o videofone, inclusive a BBC e a TV da Associated Press, de países como Afeganistão, Paquistão, Usbequistão e Tajiquistão.

Pequeno, portátil e relativamente barato ? custa US$ 7.500, fora os US$ 8 mil do telefone conectado ao satélite ?, o videofone envia imagens à razão de 20 quadros por segundo através das linhas normalmente usadas para transmitir áudio. Com isso, pode mudar a forma pela qual os americanos vêem a guerra ou o terrorismo. Ele já mudou o jeito de trabalhar dos repórteres de TV. "O principal avanço é que agora podemos mandar matéria de onde estamos, sem precisar sair e procurar um lugar para enviar a reportagem", diz David Verdi, diretor de noticiário da NBC News. "Ele cortou os grilhões que prendiam nossos pés na busca da matéria."

O videofone permitiu ao repórter da NBC Tom Aspell transmitir ao vivo ao longo de toda a viagem de 370 quilômetros que fez pelo norte do Afeganistão acompanhando guerrilheiros da Aliança do Norte, coalizão de oposição ao Talibã. Algo impossível pelos meios convencionais: equipamentos de satélite, incluindo geradores, pesam uma tonelada. O videofone e sua parafernália cabem em quatro maletas de executivo. Pode ser montado e desmontado em minutos, por uma pessoa. Tem sua própria bateria, e pode usar qualquer fonte de energia. Nic Robertson conecta o seu à bateria do carro, no isqueiro. A marca de videofone mais conhecida é o Talking Head (cabeça falante), da fábrica britânica 7E Communications.

O videofone é silencioso e discreto ? vantagem decisiva nos lugares em que o repórter quer passar despercebido. "O equipamento não chama atenção das pessoas", diz Robertson, falando a Paul Farhi de Islamabad, no Paquistão. "Você pode levá-lo numa mochila", acrescenta. "Acredito piamente que este equipamento é o futuro." Robertson compara o uso do videofone à sua experiência como técnico de vídeo nas lendárias transmissões ao vivo de Bagdá no início da Guerra do Golfo, em 1991. Aquelas transmissões foram possíveis porque Robertson conseguiu passar seus equipamentos de satélite pela fronteira escondendo-os em objetos de aparência inócua. Um videofone, diz, não atrai tanta atenção.

Aparentemente, segundo Paul Farhi, Robertson foi o primeiro correspondente a usar o videofone: em dezembro de 1999, ele transmitiu com exclusividade um seqüestro em Kandahar, Afeganistão, usando uma versão anterior do aparelho. Mas a tecnologia conquistou seus louros no início deste ano, quando a CNN transmitiu ao vivo de Hainan, na China, quando da captura de um avião-espião dos EUA pelos chineses. Apesar dos protestos de Pequim, um videofone mostrou imagens de americanos libertados embarcando num avião. Depois disso, as redes rivais da CNN correram a comprar seus videofones, conta o Washington Post.

Pressa demais

Embora as imagens sejam pobres, segundo os padrões de qualidade, o videofone produz imagens ? razão de ser da TV. "O telespectador vai perdoar a má qualidade", diz Sharri Berg, vice-presidente da Fox News. Nas futuras versões do videofone, as imagens devem melhorar. De fato, a tecnologia progride tão rapidamente que as forças armadas americanas terão pela frente o desafio de poder restringir informes ao vivo de ações militares. Afinal, um repórter pode transmitir, sem ser percebido, de qualquer lugar no teatro de guerra.

"Estamos terrivelmente próximos do campo de batalha, criando uma verdadeira TV de guerra", comenta Stephen Hess, pesquisador da Brookings Institution, em Washington. "Com as bombas estourando, o governo quer manter o controle." Eason Jordan, chefe de reportagem da CNN, diz que a tecnologia não altera as responsabilidades éticas do repórter. "Não somos espies, somos jornalistas profissionais", afirma. "Temos compromisso com a ética, com ou sem videofone, e ainda temos que ser prudentes e responsáveis." Para Hess, cada guerra parece trazer uma nova, mais rápida tecnologia de cobertura jornalística. Na Guerra Civil americana, foram o telégrafo e a fotografia. Na Primeira Grande Guerra, o cinejornal. Radiorepórteres cobriram a Segunda Guerra Mundial. Na Era Vietnã, a população viu os combates pela TV pela primeira vez, embora a distância.

"Demorávamos uns três dias para pôr os vídeos do Vietnã no ar", conta Hess. "Isso porque um velho provérbio diz: metade do que se sabe numa crise é falso, e você nunca sabe qual metade", ressalva. "Estamos acelerando a informação; e reluto em afirmar que aumentamos nosso conhecimento e nossa compreensão a respeito."

    
    
                

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