CENA ABERTA
Alexander Goulart (*)
Em meio à horizontalidade da programação televisiva, nos deparamos com uma novidade: Cena Aberta, conjunto de cinco episódios exibidos pela Globo/RBS às terças-feiras. Além de ser um bom programa, é também produzido pela nossa Casa de Cinema de Porto Alegre, nicho de profissionais talentosos. O trio responsável pelo programa ? Jorge Furtado, Guel Arraes e Regina Case ? é muito especial.
Cena Aberta transporta para a televisão uma literatura de primeiro nível. Transformar livro em imagem não é tarefa fácil. Tudo pode dar errado, mas se bem conduzido pode ser um sucesso. É o caso de Cena Aberta, uma produção de excepcional qualidade narrativa. Mas como nada é perfeito, nem tudo saiu como esperado: a audiência.
Os números do IBOPE são a grande dor de cabeça dos autores, produtores e diretores. Por melhor que seja o programa, sem audiência não vai longe. Não adiante brigar. A audiência é fundamental. Uma televisão comercial não vive só de boas críticas, mas de anúncios publicitários que, por sua vez, estão condicionados à audiência. Um programa que possua uma audiência razoável e um público fiel pode emplacar alguns anunciantes de peso, mais interessados em qualidade do que em quantidade. Cena Aberta mantém uma média de 20 pontos no IBOPE, um índice relativamente bom para o horário, mas não satisfatório para a emissora.
Os mais radicais dirão que a massa não gosta de programas inteligentes, são muito complicados para a mediocridade da massa. Mentira. A tarefa educativa da televisão está justamente na mudança de atitude do telespectador-cidadão. Num país que não tem o hábito da leitura, Cena Aberta desperta para a literatura. Ainda assim, o processo educativo é lento, precisa conquistar a simpatia, quebrar resistências para então transformar. Infelizmente, a televisão nem sempre pode esperar esse tempo.
No Brasil, a única emissora comercial capaz de dar o tempo necessário para que programas como Cena Aberta se tornem mais populares é a Globo. Só ela tem know-how, dinheiro e um padrão de qualidade capaz de viver o tempo próprio da educação e da programação de qualidade. A globo deve e pode contribuir para uma televisão mais cidadã, para uma comunicação mais humanista e uma sociedade mais educada.
(*) Jornalista em Porto Alegre