COLUNISMO SOCIAL
Rodrigo James (*)
Li atentamente o texto "Desfile (vulgar) de chiques e famosos" [de Nelson Hoineff, veja remissão abaixo], e gostaria de fazer alguns comentários.
Há quase 10 anos trabalho numa empresa que, entre outras atividades, produz duas colunas ditas "sociais" na imprensa belorizontina. Quando comecei, o objeto destas colunas era a classe rica, dominante e fútil. A exaltação desta futilidade era o nosso ganha-pão diário, e não nos preocupávamos muito com o poder, o alcance, a necessidade e o significado.
O tempo passou e o colunismo social mudou. Ibrahim Sued se foi, e com ele este tipo de exaltação à futilidade. Hoje, as colunas sociais, em sua maioria, se dedicam ao jornalismo informativo, investigativo, muitas vezes pautando o próprio jornal a que pertencem. Como não poderíamos nem queríamos perder o trem da história (mesmo porque somos mineiros), fomos nos adequando aos novos tempos e, hoje, as duas colunas são bem mais espelhadas em Ricardos Boechats do que em Ibrahims Sueds.
Acontece que, no caminho desta carruagem, surgiu um obstáculo chamado revista Caras. Ela veio para herdar o público que antes integrava e lia estas colunas, com o upgrade de ser centrada em imagens, não mais em textos. Nos vimos então numa encruzilhada.
Nosso público, que até há bem pouco tempo se saciava ao ler notas fúteis em nossa coluna, se viu seduzido pelo estilo Caras, ao passo que o outro público ? o que, teoricamente, encontraria em nossas linhas algo mais para se ler ? jamais aceitou que aquele espaço fosse algo mais que futilidade. Como fazer?
Questão Tostines
A solução encontrada foi mesclar as duas coisas e dividir as duas colunas em temas. De um modo geral, podemos dizer que uma delas fala de futilidades, a outra, não. Quase sempre.
Ao ler o texto e perceber que a preocupação é também esta, não pude deixar de escrever para talvez me solidarizar. A verdade é que a preocupação vai mais fundo. Chega a tocar no verdadeiro X da questão, a meu ver, que é a alienação do povo brasileiro. Às vezes me pergunto se o povo brasileiro realmente quer ser informado sobre questões relativas à sua vida em geral, ou quer apenas fugir disso tudo, se refugiando nas revistas caras da vida. Concordo quando o autor diz que o povo brasileiro "quer saber, sim, quais os interesses de há por trás de cada candidato que pede o seu voto; quer saber se os seus filhos terão acesso ao mercado de trabalho e segurança para andar nas ruas".
Mas tenho a nítida impressão de que ele está cada vez mais se afastando disso, por cansaço do negativismo que tomou conta do nosso país e de seu noticiário. O brasileiro médio prefere chegar em casa à noite e discutir se o ator fulano está namorando a atriz beltrana do que se o seu salário vai mudar daqui em diante. Ele já deu esta segunda opção como causa perdida, está desiludido com a nação e, se tivesse a chance, mudaria para um outro país, para tentar a sorte.
As revistas "caras" hoje são utilizadas pelo povo brasileiro como terapia. São o alento de que ele precisa para conseguir colocar sua cabeça na cama e tentar dormir um pouco à noite. Não as estou legitimando, mas justificando. Respondendo à velha "questão Tostines": existem porque o povo quer, e não porque lhes é oferecido.
(*) Jornalista