CARGOS NO GOVERNO
Chico Bruno (*)
Para a quase totalidade da mídia brasileira, há uma série de questões sempre tratadas da mesma maneira, independentemente da coloração do governo. Reforma, não importa qual, é uma delas. Grande parcela da mídia lhes está sempre favorável, seja a da Previdência, a tributária ou a trabalhista. Existe uma definição, cujas razões ninguém consegue descobrir, de que são necessárias. Tanto faz se o governo é tucano ou petista.
Outra questão que faz essa mesma parcela da mídia brasileira babar é o funcionalismo público. Começam argüindo o inchaço da máquina administrativa, federal, estadual ou municipal. Se esse argumento não for consistente, alegam que é uma categoria composta de privilegiados, preguiçosos e corruptos. Na atual reforma da Previdência isso ficou muito claro. A leitura das opiniões emanadas pela mídia sobre o assunto é insofismável. O mote usado desta vez foram as aposentadorias privilegiadas.
Essa visão míope talvez sirva de impedimento para que um grande contingente da imprensa não enxergue que desde de o governo Collor a máquina administrativa brasileira está debilitada. Foi substituída pelo fenômeno da terceirização, uma invenção colocada em prática com o desmonte da estrutura burocrática governamental.
De Collor a Fernando Henrique surgiram centenas, quem sabe milhares, de empresas de locação de mão-de-obra. Essas máquinas de alugar gente surgiram sob o olhar conivente da imprensa, talvez em função da ojeriza que parte da mídia sempre cultivou pelos servidores públicos.
Fisiologismo de aluguel
Agora mesmo a imprensa aborda com ímpeto a questão do loteamento dos cargos de confiança pelo governo do PT, denominado jocosamente de nepetismo. Em artigo na edição anterior deste Observatório, cobrei análise pela ótica da qualificação ou competência do indicado para determinada função. A Veja desta semana transportou o assunto para a capa, mas tratou-o da maneira já aqui condenada.
Assim como a Veja, nenhum veículo de comunicação tratou o tema pelo viés da terceirização. O episódio da exoneração da secretária-executiva do Ministério do Trabalho, Sandra Starling, por se opor à locação de mão-de-obra, foi uma oportunidade desperdiçada pela mídia para tratar o assunto.
Não se pode imaginar que os jornalistas políticos desconheçam o tema. Afinal, convivem com ele diariamente nos gabinetes do Congresso Nacional e dos ministérios. Não é possível que se desconheça um problema escancarado no dia-a-dia. Não é possível que os jornalistas que trabalham em Brasília ignorem que grande parte do se denomina servidor público é na verdade um grande exército de mão-de-obra alugada, que vem enriquecendo grande grupo de empresários.
A mídia sabe que as tais agências reguladoras, por exemplo, só funcionam porque existe o instituto da mão-de-obra alugada, essa, sim, facilmente aparelhada pelo fisiologismo: basta que os governantes de plantão assim o queiram. E, quem sabe, não tenha sido essa a causa da exoneração de Sandra Starling do Ministério do Trabalho. Infelizmente, a mídia comeu mosca na ocasião e continua comendo: pelo visto, não quer acertar o alvo.
(*) Jornalista
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