Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Terceiro Setor tropeça nos vícios dos demais

PRÊMIOS & GALARDÕES

Alberto Dines

Supõe-se que as entidades da sociedade civil, públicas, independentes do setor privado e do setor estatal, além das tarefas específicas tenham como objetivo alterar posturas, mentalidades e procedimentos gerais da comunidade a que se propõem servir.

Supõe-se também que seu relacionamento com a mídia deva obedecer aos mesmos propósitos reformistas e modernizadores de modo a estender a todos os cantos da comunidade os padrões de transparência, ética e responsabilidade social.

As pequenas entidades do Terceiro Setor aparentemente criaram uma rede própria por intermédio de ações afirmativas autocomunicáveis que, de certa forma, dispensa o uso dos meios de comunicação de massa. Ou quando os usam, escapam de suas armadilhas e seduções.

Grandes instituições, no entanto, impulsionadas pela compulsão do gigantismo, estão adotando estratégias que só reforçam os vícios do sistema midiático dos quais, pelo menos, deveriam fugir já que não ousam condenar.

É uma visão caolha ? a sociedade só poderá ser reformada e melhorada quando a mídia que a serve também sofrer algum tipo de reforma e melhoramento.

Veículos de comunicação precisam ser tratados criticamente, com reservas e ceticismo. Só assim serão estimulados a cumprir o seu dever crítico, cético e fiscalizador. Massagear o ego da mídia e dos mediadores é o pior serviço que instituições sérias e socialmente responsáveis podem prestar à imprensa.

O recurso barato de promover uma entidade através de concursos de reportagem e prêmios de jornalismo ? apelação fácil adotada por qualquer empresa de terceira categoria que precisa chamar a atenção da mídia ? já foi incorporada por alguns institutos do Terceiro Setor.

Agora, um deles ? cujo trabalho junto a crianças e adolescentes é meritório ? foi adiante e criou duas novas categorias no seu prêmio de jornalismo: vai escolher o melhor jornalista político e o melhor jornalista econômico.

Distribuiu para 300 "formadores de opinião" um luxuoso estojo com uma cédula contendo cinco candidatos para cada categoria. O que nos leva a formular as seguintes perguntas:

** Qual o fórum ou critérios usados para selecionar estes esplêndidos e impecáveis candidatos?

** Que atributos técnicos tem o colégio eleitoral dos formadores de opinião para escolher entre eles o melhor do setor?

** Por que estes e não outros?

** Por que outros e não estes?

** Por que política e economia e não meio-ambiente e educação?

** Por que vedetes e não os iniciantes?

Prêmios e galardões são legítimos quando:

* A instituição patrocinadora não tem interesses comerciais ou promocionais;

* Os juízes foram escolhidos de forma legítima e não representam veículos, corporações e grupos de interesse;

* Não há candidatos, isto é, todos são candidatos.

No Brasil, nenhuma premiação conhecida preenche tais exigências.

Este Observador sempre manifestou-se contra as premiações jornalísticas que seguem interesses promocionais, mercadológicos e desvirtuam os verdadeiros níveis de aferição da qualidade do jornalismo brasileiro.

Quem confere excelência em jornalismo são os destinatários ? leitores, telespectadores, internautas e ouvintes. E o prêmio que distribuem é o da credibilidade e confiança. O resto é pura badalação.


Considerando importância das finalidades e alguns resultados na atividade principal dessas instituições, prefere-se não nomeá-las para evitar que sua razão de ser seja prejudicada por eventuais desvios apelativos.