Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Terra

TERROR & HORROR

"Vídeo de palestinos divulgado pela CNN é verdadeiro", copyright Terra (www.terra.com.br), 17/09/01

"Nos últimos dias milhares – talvez milhões – de e-mails estão sendo enviadas, em português, inglês e espanhol, informando que as imagens de um grupo de palestinos comemorando o ataque terrorista ao World Trade Center teriam sido forjadas pela CNN.

Aparentemente a primeira informação sobre isso foi divulgada por um suposto aluno da Universidade de Campinas, chamado ?Marcio A. V. Carvalho?, cujo e-mail não é divulgado. Ele diz que tem ?um professor?, cujo nome também não é divulgado, que teria uma reportagem gravada de 1991, mostrando as mesmas cenas, quando da invasão do Kuait. Terra Informática também recebeu o e-mail, mas assinado por outra pessoa, dizendo que um professor da Unicamp teria as mesmas imagens em um vídeo de 1991.

Apesar de não aparecer nenhuma informação séria no e-mail, ele virou uma febre. Somente ontem, o Relatório Alfa recebeu mais de 180 versões dele, em três idiomas, enviados por leitores que se sentiram enganados pela CNN.

O Relatório Alfa teve acesso às imagens (enviadas em um dos e-emails) e separou a foto de uma criança usando uma camiseta da seleção brasileira. Parece que quem forjou a mensagem esqueceu disso. Ampliamos a foto (que você pode ver em detalhes em www.relatorioalfa.com.br) e imediatamente contatamos Elá Camarena, estilista de moda esportiva e professora da Faculdade de Moda Santa Marcelina, em São Paulo. Ela já trabalhou para as mais importantes marcas esportivas e nos deu o contato para verificar a data em que o Brasil passou a ter aquele modelo de camiseta.

Um dos textos de e-mail que está varrendo a rede afirma textualmente o seguinte:As imagens vendidas e veiculadas pela CNN como sendo de palestinos comemorando o ataque terrorista ao WTC, são na verdade imagens de uma comemoração de palestinos pela invasão do Kuwait pelo Iraque em 1991 !!! Sim, a CNN cometeu o crime de veicular uma imagem de dez anos atrás para provocar um estado de espírito pró-guerra em sua audiência! O meu professor, aqui no Brasil, tem fitas de video com gravações de 1991, com as mesmas imagens; ele esta mandando emails para a CNN, Globo (a maior rede de TV do Brasil) e jornais, denunciando o que eu mesmo classifico como um crime contra a opiniao publica.

O Relatório Alfa separou a foto do menino usando a camiseta do Brasil e comparou com todas as imagens dos uniformes da seleção brasileira até o ano de 1994. Nenhuma camiseta do Brasil tinha aquele modelo. Na verdade, segundo apuramos, a lista lateral colocada no ombro da camiseta foi inventada pela Nike, que passou a produzir a camiseta a partir de 94/95. Portanto, o vídeo da CNN não pode ser de 1991.

Ainda sobre o vídeo da CNN, é muito importante lembrar que não foram todos os palestinos que comemoraram. Na verdade, a grande maioria lamentou o acontecido. Foi somente um pequeno grupo que comemorou a morte de milhares de pessoas. E a CNN deixou isso claro. Diga-se de passagem que praticamente todas as imagens posteriores da emissora mostram que o país está unido e lamenta o acontecido nos Estados Unidos. (Relatório Alfa)"

 

"Mídia filtra tragédia e poupa Bush", copyright Folha de S. Paulo, 15/09/01

"O mesmo clima patriótico e de união nacional que brotou nos EUA depois do atentado terrorista da última terça-feira parece guiar o tratamento dado por jornais e por redes de TV norte-americanas ao presidente George W. Bush e às autoridades incumbidas da segurança nacional.

Desde os ataques ao World Trade Center, em Nova York, e ao Pentágono, em Washington, a prioridade dos meios de comunicação tem sido a de ?curar? feridas emocionais causadas pelo desastre na população.

Redes de TV maquiam deliberadamente os efeitos da destruição e expurgam imagens de cadáveres mutilados e de suicídios.

Com raras exceções, editores decidiram deixar para um próximo momento a discussão e a investigação de eventuais falhas que podem ter aberto brechas aos atentados. Dados oficiais sobre mortos e feridos são censurados, sem que ninguém proteste.

?É muito importante que a população compreenda e aceite o episódio emocionalmente?, disse ontem o presidente da cadeia de TV a cabo CNN, Walter Isaacson, ao justificar a opção feita por sua rede e pelas cadeias abertas de TV: ABC, CBS e NBC.

?Há centenas de lacunas e falta um fluxo saudável de informações?, afirmou à Folha Stephen Hess, especialista em mídia do Instituto Brookings, em Washington. ?Mas há um consenso de que esse não é o momento adequado para nos culparmos mutuamente. A cobertura reflete uma união nacional num momento em que fomos atacados e milhares de pessoas morreram. Estamos em guerra. Mais tarde, todas as outras questões serão levantadas, talvez até de forma destruidora. É o estilo da imprensa norte-americana.?

Na noite dos atentados, cerca de 80 milhões de telespectadores grudaram os olhos na TV para ver e rever dramas pessoais e imagens dos aviõotilde;es sequestrados atingindo as torres gêmeas do World Trade Center.

Dúvidas no ar

Poucos esclarecimentos foram dados e dúvidas básicas permanecem: os EUA dizem ter o melhor sistema de inteligência do mundo, mas não conseguiram evitar que terroristas ingressassem no país, realizassem cursos de pilotagem e praticassem o atentado mais espetacular da história; o governo norte-americano teve conhecimento dos sequestros ao menos vinte minutos antes de o Pentágono ser atingido, mas deixou que um Boeing lotado de combustível e pilotado por fanáticos explodisse parte do Departamento de Defesa do país, a poucas milhas da Casa Branca; outro Boeing, também sequestrado, caiu no Estado da Pensilvânia em circunstâncias estranhas, mas o governo não dá sinais de que se apressa em esclarecê-las.

Até ontem, a grande crítica feita ao governo foi o fato de Bush não ter retornado imediatamente a Washington depois do atentado, preferindo entregar sua agenda ao serviço secreto do país.

?A população quer apoiar Bush e está disposta a desculpar suas falhas. A mídia percebe isso. Essa não é a Guerra do Vietnã, ninguém discorda da necessidade de uma resposta militar?, disse Hess.

Durante a Guerra do Vietnã, os meios de comunicação desrespeitaram a orientação do Pentágono e expuseram imagens de soldados mortos, fortalecendo a posição dos que pediam o fim do conflito. Na guerra contra o terrorismo, trinta anos depois, a mídia segue a política oficial.

Acesso restrito

Os dados oficiais, no entanto, tem sido atualizados somente duas vezes ao dia. A imprensa também não tem tido acesso aos hospitais, cujas entradas estão cercadas por cordões de policiais para evitar o vazamento de informações. Os familiares das vítimas são os únicos dispostos a falar, aproveitando-se da ocasião para exibir fotos de parentes na tentativa de conseguir pistas sobre os desaparecidos.

Eles são os únicos com esperanças de ainda encontrar sobreviventes. Talvez por isso, assim como ocorreu de certa maneira na Guerra do Golfo, não há registro de imagens de cadáveres nas televisões e nos jornais.

?Elas estão proibidas e possivelmente muitos meios de comunicação também estejam praticando a autocensura?, disse a fotógrafa Rita Barros, em Nova York."

 

"Policiais controlam informações", copyright Folha de S. Paulo, 15/09/01

"As autoridades de Nova York impuseram controles rígidos sobre as informações à disposição da imprensa sobre os ataques e sobre as vítimas dos atentados.

Depois de um dia inicial de trabalho sem muitos filtros devido à rapidez com que se desencadearam os fatos, hoje o controle é máximo. ?Não nos deixam chegar mais perto e só podemos gravar passagens de um ponto estabelecido pelos policiais?, declarou Olatz Arrieta, correspondente de uma rede de televisão basca.

As redes de televisão têm feito imagens a partir de edifícios próximos da zona atingida.

Privilegiadas, as redes de televisão americanas são escoltadas ao cenário dos ataques quando a retirada dos escombros está em ritmo lento ou nos períodos de descanso dos trabalhadores.

Até agora os meios de comunicação utilizavam os bombeiros como as únicas fontes de informação com acesso às operações de resgate. Mas isso foi proibido, segundo o comando da corporação, devido à divulgação de informações incorretas."

 

"?Wall Street Journal? foi editado em meio ao caos de NY", copyright Folha de S. Paulo / The New York Times, 15/09/01

"O ?Wall Street Journal? chegou a 1,6 milhão de leitores na quarta-feira e hoje chegou a 1,7 milhão. Um pouco abaixo da norma para um jornal cuja circulação regular é de 1,8 milhão de cópias?

Acontece que a sede do jornal, no World Financial Center, em Liberty Street, em frente ao World Trade Center, foi evacuada antes das 9h15 na terça; a equipe se espalhou em meio aos escombros e à poeira; o sistema de produção teve de ser recriado nos escritórios conectados via satélite, a 80 quilômetros, e os editores tiveram de abrir caminho em meio aos escombros e aos restos humanos na rua para voltar ao trabalho.

Eles puseram o jornal na rua devido às decisões de Paul Steiger, editor-executivo e chefe da redação, pouco depois que o primeiro avião atingiu a torre norte. Trabalharam, também, consumidos pelo medo de que Steiger tivesse sido morto no colapso da torre sul.

Lawrence Ingrassia, editor do caderno Dinheiro e Investimentos, pegou uma balsa, recorda, ?enquanto pessoas pulavam das torres?. Ele diz que tentou ?bloquear isso?. Já em Nova Jersey, ?ouvia o rugido do outro lado do rio?. ?O prédio começara a cair?. Tudo que ele conseguia pensar, diz, era ?nos colegas que deixara para trás?. ?Pensei que estavam todos mortos. Fiquei imaginando se Steiger tinha morrido.?

James Pensiero, editor-executivo-assistente, em outra balsa, pensou da mesma forma. Fora uma das últimas pessoas a sair da redação, arrastado por um segurança no momento em que enviava um e-mail aos executivos informando que os editores se reuniriam em South Brunswick. Os repórteres trabalhariam de casa.

Pensiero pensava também na produção. Quantos cadernos haveria? Quantas páginas uma equipe desfalcada poderia produzir? Como os repórteres se comunicariam, com o serviço telefônico funcionando irregularmente?"

 

"TV ao vivo derruba máscaras", copyright O Estado de S. Paulo, 16/09/01

"A ocorrência de dois grandes fatos jornalísticos, um no País, outro no estrangeiro, em cerca de um mês, estabelece alguns parâmetros comparativos que são úteis à análise das transmissões de televisão ao vivo. Virou lugar comum, após o duplo seqüestro de Silvio Santos e Patrícia Abravanel, e agora após os ataques terroristas nos Estados Unidos, apontar na TV uma irresistível compulsão ao espetáculo e ao emocionalismo, em prejuízo da qualidade informativa de seus serviços. Mas é preciso indagar se, nas condições em que tais serviços são oferecidos, poderia ser diferente.

Cobra-se impiedosamente a TV, por exemplo, pelo ?monte de besteiras? que os narradores proferem, durante essas transmissões que se organizam em poucos minutos, para ficar várias horas no ar por tempo indefinido, no lugar da programação normal preparada com dias de antecedência. Como é possível evitar inverdades, imprecisões, exageros e outras inconveniências, se os telejornalistas estão diante de notícias que se enunciam simultaneamente aos fatos? A característica essencial da TV ao vivo é, justamente, a de abolir a barreira entre o fato e sua representação, ou entre acontecimento e notícia.

O homem que narra na TV não tem tempo, distanciamento e isenção suficientes para ordenar e ponderar o que ocorre, de forma a compor um relato claro e preciso. Faz jorrar as palavras ao ritmo do que vê ou escuta, ciente de que pode estar misturando fatos e boatos, mas prevenindo-se com ressalvas e condicionais. É só, ou é tudo, o que pode fazer nas circunstâncias.

Vimos de Nova York que os narradores da CNN, nas horas iniciais da cobertura, verteram tantos equívocos quanto os jornalistas brasileiros que transmitiram o caso de Silvio Santos. Chegaram a insistir na versão de uma explosão interna no World Trade Center, mesmo quando as suas próprias câmeras já mostravam ao mundo todo um jato chocando-se com a segunda torre.

Também falaram sobre mais quatro aviões que estariam voando com seqüestradores a bordo, sobre caças que os estariam perseguindo, uma infinidade de dados que não se confirmaram. E nem por isso erraram. Fizeram o que se esperava deles: puseram as informações disponíveis para circular.

De qualquer forma, os eventos norte-americanos demonstraram que uma cobertura espetacular não precisa ser, necessariamente, sensacionalista – e nisso oferecem uma lição à TV brasileira. Ainda não se viu, até o momento, nenhuma imagem grotesca de pessoas agonizando ou de corpos mutilados. As câmeras são mantidas à distância da área de resgate, exatamente para que não aumentem o choque dos telespectadores. Mesmo as dramáticas cenas de gente saltando dos prédios foram registradas em planos abertos, sem detalhes que amplificassem o seu horror.

A TV americana, finalmente, poupou-se do ridículo de angular a cobertura pelas impressões de ?gente famosa? que estava em Nova York, como fez aqui a Rede TV!, transformando uma tragédia de impacto planetário em fofoca de cabeleireiro. Escárnio e mau gosto dessa monta seguem sendo legítimo produto ?made in Brazil?."

 

"A propaganda da desumanização", copyright Jornal do Brasil, 16/09/01

"Os japoneses eram ?amarelos? para os americanos. Os judeus, os ?sujos? e ?corruptos? que deveriam ser excluídos do Terceiro Reich. Agora, parece ser a vez de os árabes verem sua imagem ser desconstruída no imaginário ocidental em meio a um ambiente de medo e terror. ?Quanto mais diferente você se sente do seu inimigo, mais você é capaz de odiá-lo?, ensinou Josef Goebbels, o gênio do mal da propaganda nazista. A tese, utilizada à exaustão a partir da Segunda Grande Guerra, volta, como um pesadelo, a ser atual.

Pois bastou o governo americano, ainda sem provas, apontar o saudita Osama Bin Laden como o responsável pelo maior atentado da história da humanidade, para, ato contínuo, os árabes conheceram a face mais cruel da discriminação. Mesquitas foram apedrejadas e ônibus escolares alvejados nos Estados Unidos. Em todo o mundo, inclusive no Brasil, colônias árabes passaram a ser investigadas como potenciais hospedeiras e financiadoras de terroristas. Uma mulher usando o xadar e com um bebê no colo foi detida na quinta-feira para interrogatório, na Alemanha. Seu crime? Talvez o fato de ser mulçumana.

?É como se todos os árabes do mundo de repente tivessem ganho as feições de um bin Laden. Estão tentando nos transformar nos culpados pelos males do mundo. O ser humano está cometendo os mesmos erros do passado?, alerta o vice-presidente da Sociedade Beneficente Palestina no Rio, Haidar Abutalib. O mundo conhece pouco do misterioso mundo árabe. Se falta informação, sobram estereótipos.

Segunda Guerra- A experiência da Segunda Guerra mostra que, como Goebbels ensinou, é mais fácil distorcer a imagem do que para nós é desconhecido. Essa máxima valeu tanto para os países aliados quanto para os do eixo, como mostra Anthony Rhodes no livro Propaganda- the art of persuasion: World War II (Magna Books, Londres).

Na maior parte das peças produzidas pela Alemanha nazista para atacar seu principal inimigo, a Grã Bretanha, não eram os ingleses que eram retratados, mas a monarquia britânica e o primeiro-ministro Winston Churchill em particular. Quando o alvo eram os Estados Unidos, o normal eram os soldados serem retratados como negros – bem diferente, portanto, do estereótipo ariano do ideário nazista.

A recíproca era verdadeira. Nas propagandas britânica e americana durante a Segunda Guerra, eram Hitler e seu poderoso ministro da Propaganda, Josef Goebbels, os alvos preferenciais. O mesmo vale para a Itália de Benito Mussolini, repetidamente retratado como um anão autoritário e servil ao führer alemão.

O mesmo não se pode dizer, entretanto, do tratamento dado pela propaganda nazista aos judeus; e pelos americanos aos seus inimigos japoneses. ?There will be no Adolph Hither nor Yellow Japs to fear? (Não haverá mais Adolph Hitler nem japoneses amarelos a temer)?, diz um pôster americano dos tempos de guerra, reproduzindo a letra de uma música popular à época. A desumanização do inimigo foi tão bem sucedida que os Estados Unidos não hesitaram em explodir a primeira bomba atômica da história sobre território japonês, matando milhares de inocentes e deixando seqüelas que perduram até os dias de hoje.

    
    
                     
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