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TFP NA WEB
"A volta do perigo vermelho", copyright no. (www.no.com.br), 20/05/01
"Por fora, a casa grande na rua Torre Sobrinho, no Méier, não chama atenção. Só tem de extraordinário a imagem de Nossa Senhora de Fátima e seu filho Jesus Cristo no jardim. Ninguém diria que ali funciona a sede da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), organização político-religiosa que surgiu no auge do movimento anti-comunista, em 1959 e hoje tenta se renovar trocando o perigo comunista pela ameaça dos sem-terra e dos homossexuais. Nas suas páginas na Internet, as mesmas idéias que eram escritas em faixas nas passeatas que contribuíram para criar o clima político que conduziu ao movimento militar de 1964. No. fez uma visita à uma das suas filiais, no Rio de Janeiro, e descobriu que, em pleno século 21, a organização _ que garante ter 41 mil seguidores – simpatiza com a monarquia e combate o desarmamento e o feminismo.
A TFP mantém um site na Internet e uma revista mensal. Mas, no Rio, funciona em uma casa doada por um militante, no subúrbio. Depois do ?blin-blon? da campainha, um homem com seus 40 anos vem atender. Apesar do calor, não dispensa a calça cáqui e a blusa branca de manga comprida bem alinhados, a gravata e ainda um casaco forrado, no tom da calça. Perguntas e mais perguntas até destrancar o cadeado. Desconfiado, permite que seja conhecida apenas a sala daquela casa de dois andares. Um rápido passar de olhos permite notar as pinturas nas paredes em verde pastel. Nas molduras da TFP estão a família real de Petro Leopoldo, o Vaticano e a cidade de Florença. Sofás largos em couro, móveis antigos em madeira trabalhada, porcelanas, tapetes finos em piso de tábua corrida e um livro com ilustrações do Rio Imperial.
Cada objeto tem um significado especial na linguagem tefepista. No centro da sala está o tradicional estandarte vermelho, com o símbolo da TFP, um leão de patas dianteiras levantadas. Abaixo dele, de novo, a imagem de Nossa Senhora de Fátima, que segundo a tradição católica, previu tudo o que a TFP considera desastroso ou maravilhoso no século XX: as duas guerras, o regime comunista na Rússia, a ascensão e queda do nazismo e do fascismo, o advento da era atômica, a chegada do homem à lua, a descoberta da penicilina e até a invenção dos computadores. A santa é o estandarte que a TFP usa para penetrar na casa dos católicos. Junto, leva o doutrina do seu santo particular _ o fundador Plínio Corrêa de Oliveira, que continua mais presente do que nunca, apesar de morto em 1995.
Em um canto da espaçosa sala, um poster mostrando uma senhora de cabelos brancos embalados para trás, envolta em uma manta fina. É dona Lucília, mãe de Plínio Oliveira. Símbolo da família, da tradição e da moralidade, foi o colo que embalou o fundador da TFP e representa o programa urbano da TFP _ o SOS Família. No site da entidade e em campanhas de preservação dos valores da famílias é contra novidades demoníacas como a lei que poderá permitir o casamento de homossexuais. Os voluntários do SOS Família ensina as ?verdades que feministas não gostam de ouvir?. As conquistas de independência profissional a TFP chama de ?rebaixamento para condição inferior?. O divórcio é a porteira para o ?instinto animal, permitindo ao homem a variedade libidinosa, cuja vítima será sobretudo a mulher?.
Uma conversa que afasta muitas católicas praticantes, como a professora aposentada Glória Abalo, 68 anos. ?Eles são muito tradicionais, não aceitam abertura, pregam que a missa tem que ser em latim?, estranha. A moradora do Méier já tinha visto um grupo com estandartes vermelhos pelas ruas do bairro, mas se surpreendeu quando os tefepistas encontrou dentro de sua casa. ?Eu cheguei em casa e eles estavam tentando convencer o meu marido a colaborar com eles.? A idéia de substituir a calça comprida por saias e adotar o véu fez dona Glória se afastar do grupo, que segundo ela ?é uma elite e tem muitas pessoas de curso superior?.
A TFP tem sua própria versão sobre a História A tortura praticada durante o regime militar é minimizada. Segundo o diretor de imprensa da entidade, Paulo Corrêa de Brito Filho, os ?abusos – sem dúvida menos numerosos do que certa mídia esquerdista alardeia? existiram, mas foram ?inflados e generalizados pela mídia numa tentativa de desmoralizar os militares e policiais?. Nos 500 anos do Brasil, a TFP comemorou a evangelização dos índios e a civilização do país pelas mãos de Portugal. A entidade não diz com todas as letras que é favorável à monarquia, mas tem laços firmes com a família real. Os príncipes Dom Luiz e Dom Bertrand de Orleans e Bragança compõem o Conselho Nacional da TFP.
As idéias de Plínio já foram exportadas para mais de vinte países em que a doutrina de Plínio de Oliveira tem representantes. Nos Estados Unidos, a TFP integra principalmente as passeatas contra o aborto; na França, a entidade andou dando dor de cabeça ao primeiro ministro Lionel Jospin e trabalho para o serviço de contra-espionagem francês que culpou a ?seita brasileira? de promover cruzadas moralistas como a campanha contra o Contrato de União Civil, que permite, para fins legais, a união de duas pessoas independente de sexo. Lá, a TFP ostenta um império econômico com direito até ao Castelo de Jaglu.
Na Venezuela, chegou a ser posta em ilegalidade em 1984 e apelidada de ?seita de extrema direita que destorce a mente dos jovens tornando seus membros fanáticos?. Quando o Muro de Berlim ruiu, a TFP pulou os escombros e tratou de conquistar as almas recém-abandonadas pelo comunismo na Polônia, Estônia, Ucrânia, Hungria, além de Romênia, Croácia e Bósnia.
Por aqui, a defensora da moral e dos bons costumes até dá sinais de decadência, deixando sua sede em um bairro tradicional como o Cosme Velho por uma casa doada e suburbana. Os dados sobre a entidade são mantidos em segredo. A TFP faz questão de não aparecer nos jornais e mantém em segredo orçamento, lista de propriedades e a origem do pagamento de seus funcionários.
Mas os sinais de que o cofrinho deve ser farto estão por aí. A revista Catolicismo é editada há meio século. O mensário de quase 50 páginas é o porta voz da TFP. Traz notícias sobre suas atividades no mundo e sobre temas políticos e culturais envoltos sempre no manto da religiosidade. Na seção de cartas, os leitores são escondidos atrás de iniciais. Segundo Paulo Brito, não é intenção da entidade ?entregar a lista dos simpatizantes à máfia comuno-progressista, que tudo faz para difamar e caluniar a TFP?.
Uma edição típica, como a de março, teve como reportagem de capa o round entre o Fórum de Davos e de Porto Alegre. O segundo foi chamado de ?berço da subversão? inspirada em Che Guevara e Fidel Castro. Na edição de abril, seguindo exemplo de norte-americanos e adotando a luta do procurador de Anápolis, Carlos Vilhena, em favor do ensino em casa, a Catolicismo se engaja na campanha pela educação fora da escola: ?Com tantos problemas – drogas, violência, más companhias e em muitos casos professores que ensinam doutrinas errôneas e costumes pervertidos – por que não adotar essa forma de ensino??, sugere a reportagem.
Jorge Haider, o chefe do Partido da Liberdade na Áustria, também mereceu páginas da revista, que assumiu o papel de defensora do líder . Tido como racista xenófobo por, entre outras coisas, ter declarado que Hitler acabou com o desemprego, Haider foi o pivô da sanção que a Europa prometeu dar de troco diante do crescimento do partido no país. Para TFP, tudo não passou de ?histeria anti-haideriana?, explicada pelo medo de socialistas e social-democratas de perder o poder. ?O povo austríaco está cansado da mediocridade socialista, querendo dar rumo novo ao país?.
Pelo exemplar de Catolicismo, o leitor paga R$ 7, no avulso. Mas se quiser, pode contribuir com até R$ 240 por ano e ganhar o status de ?benfeitor?. Os empreendimentos não terminam por aqui. Além da revista, a TFP distribui panfletos e manifestos, vende livros e tem até programas de rádio. ?A Voz de Fátima? é transmitido por mais de 250 emissoras. Faz parte da campanha religiosa ?Vinde Nossa Senhora de Fátima, não tardeis?, que conta até com plantão de atendimento telefônico. Quem liga para lá, dificilmente escapa da telefonista, que pede nome, endereço, telefone antes de responder a qualquer informação. ?Não gostaria de colaborar para divulgar a mensagem de Fátima??, pergunta do outro lado a moça. O ouvinte logo recebe uma correspondência pedindo, no mínimo, R$ 10 mensais. Em troca, uma medalha milagrosa e um diploma de seguidor da santa. De brinde, depois de seis meses de contribuição, a revista Catolicismo.
As artes também costumam entrar na mira das campanhas da TFP. O filme Dogma, de Kevin Smith, foi um dos últimos alvos. Nesse caso, o movimento foi feito pela Internet, através de e-mails – um recurso cada vez mais utilizado pela organização. Às vesperas da votação do projeto de lei 1195/95, que legaliza a união de homossexuais, a TFP espalhou pela rede e-mails convocando simpatizantes e não simpatizantes a enviar mensagens para os deputados. Os cerca de 30 mil e-mails da TFP colaboraram para que a votação fosse adiada duas vezes, nos dias 9 e 17 de maio. O deputado Lael Varela (PFL/MG) contribuiu com a entidade pedindo a inclusão da carta da TFP, enviada no dia anterior, nos anais da Câmara de Deputados. Segundo o site da entidade, o líder do PFL, Inocêncio de Oliveira, e o líder do PTB, Odelmo Leão, já prometeram votar contra o projeto.
Outro tema que mobiliza a TFP é o desarmamento. O trabalho de conquista dos deputados é feito dia-a-dia por militantes que atuam no escritório da TFP em Brasília. A organização está preparando um manifesto em favor da Legítima Defesa – batizado de ?cartão-trabuco? para enviar ao presidente da Comissão de Constituição e Justiça, deputado Ronaldo Cezar Coelho. A TFP considera imoral o projeto de lei do senador Renan Calheiros, que proíbe a comercialização e o uso de armas de fogo no país. Segundo a entidade, trata-se de uma violação do quinto Mandamento que, proíbe matar mas também obriga a preservar a vida. Em texto na Internet, o argumento se resume em questão de instinto: ?Se todos os animais atacados se defendem, porque não os homens?.
As diversas páginas plantadas na web são a melhor fonte de novos seguidores da TFP. O número de seguidores da entidade cresceu bastante desde que ela passou a atuar no mundo virtual. Segundo a TFP, de 2 mil, em 1970, saltou para 23 mil em 1990 e 41 mil em 2000. Apesar de mais visível nos anos 60, é na entrada do século XXI que alcança mais simpatizantes para suas campanhas em favor da pena de morte, contra a legalização do aborto e contra a programação da TV. ?É um discurso que atrai setores da sociedade descontentes com a inversão de valores. Seus opositores vão mudando com o tempo. É impressionante como estão sempre prontos para perceber aonde podem agir. Eles fazem esse trabalho com competência?, admite a socióloga Regina Novaes, do Iser.
Muitos dos seus entusiastas hoje são jovens, como é o caso da Frente Universitária Lepanto, que conta com estudantes de universidades como USP, UFRJ, UNB e PUC. O grupo encara como sua a missão de preservar o mundo da ?desordem, do caos e da anarquia? e sonha restaurar a Civilização Cristã sob os preceitos da TFP. Por trás do desenho moderno das páginas de Internet, estão os mesmos ideais do filho dona Lucília."
A RODA
"A internet e a roda", copyright Pensata (www.pensata.com.br), 14/05/01
"Continuo indeciso diante do universo virtual, notadamente do tipo de comunicação instantânea e barata que a Internet nos dá. Evidente que dela me beneficio, tal como me beneficiei do computador.
Passei mais de 20 anos sem escrever ficção porque não mais suportava a máquina de escrever, mesmo aquelas que se diziam eletrônicas. O computador abriu um mundo para mim – se é que o meu umbigo é a coisa mais importante do universo.
Embora me utilize da Internet diariamente, continuo achando que ela é poluidora, não no sentido ecológico, mas espiritual. Dá informações demais, repetitivas, excessivas e inúteis. Mesmo a comunicação por e-mail, a correspondência comercial, cultural e afetiva, é exagerada, massiva e nem sempre sincera, refletida e consciente.
A facilidade dos desabafos, das confissões, até mesmo da expressão dos sentimentos, protegidos por códigos secretos e relativo anomimato, cria um universo que pode ser duplamente virtual, na forma tecnológica da expressão eletrônica, e no conteúdo que desagua na virtualidade do faz-de-conta.
Não há segurança, nem moral nem material no universo eletrônico. Ele é, sem dúvida, a ferramenta mais importante inventada pelo homem depois da roda. Mas é um instrumento, nada mais do que isso.
Os problemas com o painel do Senado Federal e os das eleições nos Estados Unidos, fatos relacionados com a ?verdade? virtual, são manifestações da movediça segurança que os chips podem nos dar.
Como a roda, a informática está gerando uma nova civilização. É o início de nova era, além e acima do admirável mundo novo que já está defasado
Como a roda, ela apenas nos facilita o caminho. Mas não chega a ser um destino."
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