DESASTRE EM ALCÂNTARA
Jorge Pereira da Silva (*)
Ao longo dos últimos 20 anos, o Brasil e os demais países latino-americanos têm debatido com freqüência o papel do jornalista ligado à cobertura de assuntos sobre Ciência e Tecnologia, seja ele assessor de imprensa, divulgador científico ou profissional vinculado aos meios de comunicação. Estudiosos do tema lembram da importância de informar, ensinar, sensibilizar e contribuir para a criação de uma consciência pública sobre o valor da Ciência e Tecnologia e que as transformações por elas provocadas podem ser integradas positivamente pela sociedade. Não há dúvida de que se trata de uma difícil e importante tarefa.
E pode ser definida mais árdua ainda, se considerarmos a opinião da ex-assessora de imprensa da Agência Espacial Brasileira, Regina C. França, segundo carta enviada com cópia para o meu correio eletrônico no dia 3 de setembro [e publicada no OI; ver remissão abaixo]. Para ela, não basta interpretar, divulgar e acompanhar as informações. Caberia, também, ao assessor de imprensa, antever acontecimentos, passeando pela linha tênue que separa presente e futuro, num exercício diário de premonição de fatos relevantes.
Regina pergunta em sua carta: “(…) Como se explica o fato de os jornalistas receberem a informação sobre o acidente (com o VLS, na Base de Alcântara) antes do Bevilacqua (presidente da AEB), se naquele momento estavam todos no mesmo local, e pior, na própria sede da instituição?”.
Alguém na praia
Ela faz referência ao fato de a presidência da Agência Espacial Brasileira e uma comitiva de autoridades da Ucrânia terem recebido a notícia do terrível acidente em Alcântara por intermédio de uma repórter.
Não é erro assessorias de imprensa receberem informações pertinentes a suas áreas de atuação através dos profissionais dos meios de comunicação. É, inclusive, comum e saudável essa interação. Basta lembrar que são eles, os da mídia, que estão aparelhados para receber em primeira mão informações provenientes de qualquer parte do mundo. A informação, hoje, é instantânea para as principais redes de comunicação. Alguém, na Praia da Ponta da Areia (São Luís), vê uma cortina de fumaça e imediatamente telefona para a imprensa local. E, assim, se faz o relâmpago da novidade.
Já que algumas limitações são comprovadamente inexoráveis, cabe ao profissional que divulga C&T apurar sua consciência ética e trabalhar para ampliar os espaços nas pautas dos veículos de comunicação.
(*) Jornalista, chefe da Divisão de Comunicação do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), ex-presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Científico (1996/98)
Leia também
Bom momento para avaliar o papel do assessor de imprensa ? Regina França