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"Times e Post defendem recontagem manual", copyright Folha de S. Paulo, 14/11/00
"Os jornais norte-americanos ‘The New York Times’ e ‘The Washington Post’ criticaram ontem a decisão do candidato republicano à Presidência dos EUA, George W. Bush, de tentar bloquear na Justiça a recontagem manual dos votos na Flórida.
‘Foi um passo incompreensível por parte de alguém que antes havia corretamente deplorado a tendência dos democratas ao litígio’, afirmou o ‘Times’.
Na opinião do jornal, a única forma de os EUA saírem da crise é tanto Bush como seu adversário democrata, Al Gore, abandonarem as ameaças de litígio e ações judiciais questionando as eleições ou a recontagem manual na Flórida e em outros Estados.
‘Se a contagem e a recontagem prosseguirem, vamos ficar sabendo quem é o novo presidente até o final da semana’, disse o ‘Times’.
‘A equipe de Bush teria argumentos mais firmes se tivesse pedido que os prazos fossem adiados para permitir a recontagem manual dos votos tanto em distritos de maioria republicana como nos distritos democratas. A maioria das recontagens acaba acrescentando votos para todos os candidatos’, afirmou o jornal.
O ‘Times’ diz que a realização de um novo pleito na Flórida não seria aconselhável, porque a eleição se transformaria numa espécie de segundo turno. A solução mais justa, segundo o jornal, é a recontagem em todo o Estado.
Para o ‘The Washington Post’, a posição de Bush é equivocada. ‘Devido à disputa acirrada e à importância do que está em jogo, a Flórida deve recontar manualmente o maior número possível de votos legítimos e decifráveis’, disse o jornal.
‘Mas nós também achamos que, se Gore vencer porque os votos em algumas áreas de maioria democrata foram contados mais cuidadosamente do que nas áreas de maioria republicana, muitas pessoas vão pensar que a eleição foi injusta’, afirmou.
Na opinião do ‘Post’, os votos nas áreas de maioria republicana também devem ser recontados manualmente se houver suspeita de irregularidade."
"Febre das apurações só ataca políticos e jornalistas, mas população está imune", copyright O Estado de S. Paulo/ Houston Chronicle, 16/10/00
"Apesar das notícias, opiniões, análises, previsões e pregações dos políticos, luminares e da imprensa em geral, o americano médio não está mergulhado nos detalhes da recontagem de votos na Flórida ou tão preocupado com o resultado da eleição presidencial. Na verdade, quando os fanáticos por política são excluídos, os únicos comentários ouvidos sobre o desfecho ainda ignorado da eleição têm a ver com os excessos da imprensa na cobertura da situação sempre em mudança na Flórida.
Um tanto ironicamente, é essa indiferença generalizada da população que devia estar devorando os pertencentes ao mundo da política e da imprensa, em vez das amplas generalizações e conclusões sobre a eleição ainda em dúvida.
Na verdade, seria muito melhor para todos, se tivesse ocorrido aos que fazem previsões sobre a reação popular à eleição de 2000, se a resposta do público, a que mais interessa, já fosse evidente.
Claro que os partidários do republicano George W. Bush esperam que ele venha a ser o vencedor. O mesmo se aplica aos que apóiam o democrata Al Gore. Na prática, os dois lados têm mais em comum do que divergências. Eles partilham a convicção de que a questão será resolvida logo e a certeza de que o país certamente – talvez facilmente – sobreviverá a esse bate-boca sobre quem será o próximo presidente.
Repetindo, há mais que um toque de ironia no que lemos e, só Deus sabe, ouvimos nas transmissões de rádio e TV. Algumas pessoas suspiram pensando:
Santo Deus, é até possível que o povo acabe duvidando do sistema político de seu país. Dizem-nos: todos os EUA aguardam, ansiosos, o anúncio do nome do vencedor, sem novas manobras políticas. Fala-se que todo o país acompanha cada pequena mudança da situação com fascínio e interesse devorador. Também ouvimos dizer que todos os EUA começam a recear que nosso sistema político e eleitoral não seja nada perfeito.
Quem aposta?
Para início de conversa, a maioria dos americanos já é bem cética em relação à imprensa. Em sua maioria, os americanos acham que Gore nunca teria exigido essa canhestra recontagem parcial na Flórida se a imprensa não tivesse metido os pés pelas mãos ao anunciar os vencedores no Estado na noite da eleição. Ao mesmo tempo, a maioria está inclinada a perdoar muita coisa a Gore – e a Bush – porque a imprensa do país acabou declarando cada um deles vencedor na Flórida antes de renunciar aos próprios prognósticos e admitir que a disputa era apertada demais para apontar um ganhador."
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