HISPÂNICOS
A Spanish Broadcasting System está processando a Clear Channel Communications e a Hispanic Broadcasting Communications, acusando-as de atuar de modo ilegal para expulsá-la do mercado americano de rádios em espanhol. A acusação foi formalizada no mesmo dia em que a Univision, maior emissora hispânica de TV dos EUA comprou a Hispanic, em transação de US$ 3,5 bilhões. Como a Clear Channel detinha 26% das ações da rede de rádio, passa a ser dona de 7% da Univision. Está em jogo o mercado que mais cresce dentro dos Estados Unidos. Entre 1990 e 2000, a população hispânica, que tem melhorado seu poder de compra, cresceu 58%, chegando à marca de 35 milhões de pessoas.
A Spanish, que controla 15 estações de rádio, diz que, quando fez sua primeira oferta pública de ações, em 1999, executivos da Clear Channel e da Hispanic teriam dito ao banco Lehman Bros., potencial comprador, que o presidente da empresa, Raul Alarcon Jr., seria "usuário e/ou traficante de drogas". Outras firmas também teriam sido pressionadas a não participar do negócio. Em 1996, a tensão havia crescido muito quando a Spanish recusou oferta de compra da Clear Channel. Seu diretor financeiro, Randall Mays, teria dito que, caso a proposta não fosse aceita "a Spanish seria comprada na porta do tribunal de falências". A Clear Channel, que é maior rede de rádio dos EUA, teria ainda dado lances para inflacionar preços de estações em cuja compra a Spanish estaria interessada. As alegações foram negadas pelos acusados, segundo o Los Angeles Times [13/6/02].
Agora, com a incorporação da Hispanic pela Univision, a disputa no mercado fica ainda mais pesada. A rede se tornou a maior fornecedora de informação e entretenimento para o público latino, abrangendo TV, rádio, gravadora de música e internet. O canal de TV Univision, conta Jeffrey Golfarb [Reuters, 12/6/02], domina entre os hispânicos, sendo seguido de longe pelo Telemundo, que a NBC comprou recentemente, em demonstração do interesse que o mercado latino tem despertado nas grandes corporações.
ÁFRICA DO SUL
Muita polêmica foi gerada na África do Sul em torno de uma canção que acusa os descendentes de indianos residentes no país de explorarem os negros. "Ó, meus irmãos camaradas, precisamos de homens fortes e bravos para enfrentar os indianos", diz a letra em zulu, escrita pelo mais conhecido dramaturgo sul-africano, Mbongeni Ngema. Outro trecho diz: "Tudo foi tirado de nós pelos indianos e eles voltam a oprimir nosso povo."
Descendentes importantes de indianos chamaram Ngema de racista e membros do partido governista Congresso Nacional Africano pediram às rádios que parem tocar a música, a fim de evitar conflitos étnicos. O ex-presidente Nelson Mandela sugeriu que o autor pedisse desculpas. A comissão governamental que recebe reclamações sobre conteúdo transmitido por rádio e TV pode proibir a execução da canção. Para Ngema, a confusão criada por sua obra revela a necessidade de se dar vazão à tensão entre negros e descendentes de indianos, que existe desde os primórdios da dominação branca no país. Ele diz querer a reconciliação entre as etnias.
Milhares de indianos chegaram à África do Sul em meados do século 19 para trabalhar, em muitos casos, em condições pouco melhores que a escravidão. Os brancos, no entanto, concederam-lhes status superior ao dos negros, permitindo que fossem proprietários de seus próprios negócios e que tivessem melhor educação. Assim, mesmo não tendo direito de votar e sendo obrigados a viver em guetos, muitos indianos se tornaram prósperos comerciantes, enquanto os negros eram todos trabalhadores pobres.
Nem sempre os dois grupos étnicos estiveram em conflito. Contudo, em 1949, 142 indianos morreram devido a desavenças com negros. Pelo mesmo motivo, muitos tiveram de fugir de casa em 1985, quando houve outro recrudescimento. Ainda hoje, segundo The New York Times [15/6/02], os indianos, que são 3% da população, são vistos por muitos negros como exploradores que pagam baixos salários.