Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Tolerai-vos uns aos outros

FORMAÇÃO DO JORNALISTA

Fernando Torres (*)

O antagonismo entre o ensino prático e teórico nos cursos de Jornalismo já se tornou tema de muitos debates. É visível que um ensino fundamentado exclusivamente na teoria forma mentes obsoletas e desatualizadas. Percebe-se, no entanto, que, sem a reflexão necessária, a prática universitária resulta em jornalistas medíocres e alienados.

Mesmo visualizando essa disparidade, o equilíbrio raramente é colocado como alternativa possível de ser realizada. Seriamente comprometidos com o conhecimento científico e a fundamentação teórica, os doutores da comunicação lutam em prol de disciplinas arcaicas e sem função específica. E os formados nas agruras das redações batem o pé e exigem um currículo exclusivamente voltado para a prática. Ambos discutem, argumentam e contestam a idéia alheia, sem, entretanto, chegar a lugar algum.

Outro ponto contraditório em relação ao ensino universitário diz respeito à estrutura do currículo. São os chamados troncos comuns. Em geral, a grade se apresenta com dois anos de pura teoria (os primeiros) ? absorvendo duas ou mais habilitações ? e mais dois de pura prática (os últimos). Exemplo disso é a aclamada Universidade de São Paulo, que inclui em seu currículo apenas disciplinas teóricas no primeiro ano. Além de dificultar a certeza quanto à profissão escolhida, esse organograma não se mostra funcional, pois medita sobre o que nunca foi praticado e pratica em cima de uma teoria desatualizada.

Convívio equilibrado

Ora, é óbvio que o jornalismo é uma profissão extremamente voltada para o mercado de trabalho. Sua função é exclusivamente prática. De nada adianta sentar-se à távola redonda e discutir horas a fio a manipulação dos mass media, se os alunos não produzirem nada que possa ser avaliado. Dessa forma, a universidade deve oferecer de cara disciplinas técnicas que supram a finalidade prática da profissão, como Jornalismo Online e Editoração Eletrônica.

Por conseguinte, a reflexão sobre aquilo que está sendo produzido também se faz necessária. É quando entram em cena disciplinas como Teoria da Comunicação e Ética e Legislação.

Acontece que ambas as partes extrapolam. Os pragmáticos em excesso querem introduzir disciplinas mais condizentes ao curso de Rádio e TV, enquanto os defensores da teoria buscam, a qualquer preço, implantar facetas sociológicas e filosóficas. Tomo novamente como exemplo a distinta USP, que julga ser necessário para a formação do jornalista conhecimento sobre história e teoria da arte e também a tabuada geográfica brasileira.

O prejudicado com todo esse desequilíbrio curricular é o candidato a jornalista, que sai da universidade ora especialista em fios e câmeras, ora um teórico metido a ver maldade em tudo que a mídia produz. Em suma: um perito em generalidades. O resultado? Pergunte aos milhões de jornalistas desempregados…

Mesmo sabendo da importância pragmática do jornalismo, vale lembrar que um curso superior é marcado pela pesquisa e o cientificismo. Não adianta rejeitar por completo o ensino teórico, pois jornalismo não é sinônimo de escrever um lead corretamente. Porém, o convívio equilibrado e democrático entre prática e teoria é possível. Caras feias e torcidas de nariz serão inevitáveis. Cabe aqui o velho ditado: "Tolerai-vos uns aos outros". O fim justifica o termo.

(*) Aluno do 2? ano de Jornalismo do Unasp