Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Tostão

MÍDIA ESPORTIVA

“Futebol, TV e violência”, copyright Jornal do Brasil, 25/7/03

“Durante oito anos, de 1994 a 2002, acompanhei no estádio a maior parte dos treinos e jogos da Seleção, estive presente nos últimos três mundiais e assisti às principais partidas das equipes brasileiras.

Nos últimos anos, mudei de vida, fui sentir o cheiro do verde, escutar os passarinhos, e passei a ver a maioria dos jogos pela televisão. Agora tenho mais informações e vejo um número muito maior de partidas, em todo o mundo. Perco alguns detalhes técnicos e táticos.

Quando assistimos a uma partida pela TV, não vemos com os nossos olhos e sim com os olhos de quem trabalha atrás da câmera e na edição das imagens. O operador não vê o jogo. Vê imagens. A imagem é fria, insensível e não pensa. Imagem não é tudo.

O fato de ter sido um jogador que tinha a preocupação de observar o conjunto e um comentarista de partidas ao vivo pela TV, nos estádios, durante muitos anos, me deu condições para imaginar e deduzir alguns detalhes técnicos e táticos que a imagem não mostra. Tento, e muitas vezes consigo, diferenciar o jogo editado do verdadeiro.

O ideal seria ir bastante aos estádios, ver todos os jogos e noticiários pela TV e ainda assistir aos treinos das equipes. Isso não é possível. O ideal é algo inatingível, com uma distância variável da realidade, que serve de referência para os nossos sonhos.

Pretendo ir mais aos estádios, mas fico desestimulado ao ver agressões verbais e físicas, pontapés e socos como aconteceu em vários jogos na última semana. Isso não é futebol. Os agressores e os árbitros incompetentes precisam ser punidos.

Ao mesmo tempo que começam a melhorar as condições dos estádios e as brigas nas arquibancadas por causa do estatuto do torcedor, aumenta a violência nos gramados. Tudo começou com excesso de faltas, algumas violentas, e já virou literalmente caso de polícia. Aonde isso vai chegar?

Contradições do futebol

Nem sempre há uma relação direta entre a organização do futebol de um país, a estrutura profissional de um clube, a competência de dirigentes, comissão técnica, treinadores, a preparação e a qualidade individual e coletiva de uma equipe e a conquista de títulos. Há muitos outros fatores envolvidos. Por isso, é perigoso endeusar e criticar alguns profissionais pelo resultado final de um campeonato.

O vice-presidente do Corinthians, Antônio Roque Citadini, disse que os técnicos argentinos são muito melhores do que os brasileiros. Seria um recado para o Geninho? Mario Sérgio, sem se referir ao Carlos Bianchi, protestou e disse que, na sua carreira de jogador, viu muitos técnicos medianos ganharem importantes títulos. Também vi e continuo vendo. As evidências são de que o Bianchi é um excepcional técnico.

O Brasil se preparou muito mal para as Copas de 1998 e 2002, por causa, principalmente, do péssimo calendário, e foi vice e campeão do mundo. A principal razão foi a qualidade da comissão técnica e jogadores, especialmente de alguns craques, como os dois Ronaldinhos, Rivaldo e Roberto Carlos. Só o gaúcho não estava em 1998.

Em 2002, o título ficou mais fácil por causa da desclassificação precoce e surpreendente da Argentina e França, os graves erros dos árbitros contra Espanha e Itália e as contusões e ausências de vários grandes jogadores de outras seleções.

O Brasil não teve nada a ver com o problema dos outros. Ganhou com justiça e méritos. Porém, a Copa de 2002 foi fraca e atípica. O Brasil não tinha um excepcional conjunto. Tinha excepcionais jogadores.

O mundial entre seleções é o campeonato mais importante do mundo, mas nem sempre se pode criar conceitos de excelência técnica e de boa administração num campeonato de um mês de duração e de muitos jogos classificatórios.

Na Europa, as dificuldades para conquistar a Copa de 2006 serão muito maiores. Se a Seleção não fizer uma preparação muito melhor do que a anterior, será muito difícil ganhar o hexa.

Não se tem certeza também se os grandes craques de 2002 estarão em forma. No momento, eles são imprescindíveis. Kaká, Diego, o já experiente Alex e outros excelentes jogadores são apenas promessas para brilharem no mundial.

Após o título de 2002, criou-se a falsa impressão de que a Seleção ganha quando quer, independentemente da qualidade da preparação e da organização do futebol brasileiro. Isso justificaria todos os erros, até o continuísmo na CBF e Federações.”

“Seleção de Kaká e Robinho encalha no SBT”, copyright Folha de S.Paulo, 25/7/03

“Não foi só a volta de Silvio Santos ao ar na estréia do novo ?Show do Milhão? que levou o SBT a de cidir não transmitir ao vivo a se mifinal da seleção de Robinho, Diego e Kaká, na noite de ontem.

A emissora não conseguiu ven der nenhuma cota de patrocínio da Copa Ouro, pela qual o time sub-23 do Brasil jogaria ontem contra os Estados Unidos.

Pelo campeonato, o SBT teria pago entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões à Traffic (que detém os direitos dos jogos), segundo fon tes do mercado publicitário.

A direção da Traffic ficou irrita da com a decisão do SBT de exibir apenas o videoteipe (VT) da se mifinal. A empresa analisa se to mará alguma medida contra a emissora, apesar de o contrato não prever multa nesse caso.

?O acordo prevê transmissão ao vivo, mas não fala em penalidade. Não queremos brigar com as TVs. Mas, ao adquirir o direito de transmissão, a emissora assume um compromisso com o telespec tador. Essa é uma situação séria, de desrespeito ao torcedor?, disse à Folha José Góes, diretor jurídi co-administrativo da Traffic.

O SBT afirma que havia infor mado com antecedência à Traffic sobre a exibição da semifinal em VT, o que a empresa nega.

O jogo contra os EUA, que ocor reria às 21h de ontem, seria exibi da às 23h30. Por um acordo com o SBT, o canal pago ESPN Brasil também levaria a partida ao ar no mesmo horário da TV aberta.”

“De olhos e ouvidos bem abertos”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 28/7/03

“Olá, amigos. Uma das coisas que eu mais gostava, quando era criança, era ter acesso à leitura de livros esportivos. Era uma festa poder ler em um livro informações mais precisas do que as que eram publicadas em jornais, que não raro se perdiam após algum tempo, por mais que eu me esmerasse em tentar guardá -los. Nunca dava certo tentar descobrir em qual dos jornais empilhados na estante, ou cuidadosamente dobrados dentro de uma mala ou de uma bolsa, estava a informação que eu buscava.

Tudo bem, estou falando do período compreendido entre o fim da década de 70 e o início da década de 80, no qual não havia TV a cabo, editoras apostavam no mercado em expansão e tanta informação era veiculada, que propiciava a percepção de temas que rendiam livros interessantes.

A boa notícia é que tenho reparado no aumento significativo de livros esportivos publicados de lá para cá. Entre biografias, coletâneas de contos, reportagens investigativas e livros de dados, temos hoje a possibilidade, inimaginável na época em que eu era garoto, de ter várias opções de livros sobre o tema para comprar.

Esse é, a meu ver, um momento altamente positivo para que jornalistas esportivos explorem um mercado aquecido e interessante como o da literatura. A facilidade de pesquisa que a Internet propicia, os inúmeros personagens que ainda estão vivos e podem ter seus depoimentos documentados em meio digital, e o interesse das editoras em trabalhar com publicações esportivas, podem abrir um pouco o mercado para profissionais da escrita esportiva, que hoje estão correndo muito atrás de um lugar ao sol em jornais, rádios, TVs esites.

Aliás, é óbvio que algumas fontes empregadoras de jornalistas – que compõem o grupo citado acima – se utilizam da debilidade do mercado para se beneficiarem dela. Prestando atenção ao que acontece nas redações, vemos que o salário dos profissionais de imprensa são baixos, seus turnos de trabalho dificilmente são regrados e trabalha-se nos fins de semana com uma escala por vezes injusta de folgas. Com isso, diante de um mercado estagnado e de poucas oportunidades de trabalho para quem está nele, as empresas acabam por ter a atitude de oferecer o famoso ?pegar ou largar?, por saberem que, se um jornalista não aceitar as condições oferecidas, há outros 20 que estariam mais que dispostos a aceitá-las, justamente por não terem nada na mão.

Portanto, enquanto o mercado não estiver em uma condição que permita aos jornalistas exercerem sua profissão com tranqüilidade, creio ser no mercado editorial, especialmente neste momento favorável, que poderemos ter um filão muitíssimo interessante.

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Neste domingo, após algum tempo, fiquei ?de olho? na transmissão de Flamengo 1 x 1 São Paulo pela rádio Globo do Rio de Janeiro. Após a partida, durante os comentários, fiquei com a impressão de que o tempo não passa mesmo no rádio brasileiro. Os comentaristas continuam a bajular os jogadores que lhes dão entrevistas, que os reconhecem e comentam com eles os jogos. Mas o que mais me chamou a atenção foi o fato de o atacante Luís Fabiano ter sido duramente criticado pelos repórteres da rádio por não ter falado com eles, alegando estar gripado e muito rouco.

Não vou entrar no mérito do estado de saúde do atacante tricolor. Tratarei apenas de analisar as declarações dos colegas da rádio carioca, que passaram a desancar a atuação do jogador, a chamá-lo de mascarado e de ironizar a sua decisão de não falar com a imprensa por ter, pretensamente, jogado mal.

Essa atitude, a meu ver, tem uma cara que não deveria mais existir em meios de comunicação profissionais: a cara do favorecimento à ?camaradagem?. Quem fala comigo é nota 10. Já quem não fala é perna-de-pau e mascarado. Por que o jogador não tem o direito de não querer falar? Ele é obrigado a fazê-lo? Não, não é. Ele falará quando e com quem quiser.

Confesso que fico muito irritado quando vejo a imprensa não se comportando como se fossem profissionais fazendo o seu trabalho. Tudo bem, é chato e deselegante quando um jogador decide simplesmente não falar com os repórteres e comentaristas. Mas daí a bombardear o atleta com ironias e a se fazer julgamentos não fundamentados, vai uma distância abissal.

Fiquei triste com o que ouvi. Percebi claramente que, salvo raras exceções, muito pouco se moderniza no rádio esportivo nacional. E que, quem lidera e tem a chance de fazer coisas positivas, está simplesmente acomodado na posição de liderança, e trata de mantê-la quase da mesma forma que a conquistou, décadas passadas. Enquanto as coisas continuarem assim, será impossível pensar numa revitallização séria de um veículo importante como rádio.”