COMANDANTE ROLIM
Foi uma espécie de empresário-herói, num país onde muitos homens de negócio preferem viver escondidos ? para não chamar a atenção da Receita ou dos seqüestradores. Amaro Adolfo Rolim dava a cara, fazia, acontecia e aparecia. Só não gostava de ser cobrado publicamente pela demora na indenização das vítimas do Fokker ? coisas do negócio de transportes aéreos [veja remissão abaixo].
A queda do flamante helicóptero que o matou junto com uma funcionária da empresa perto da sua fazenda no Paraguai, no domingo, 8/7, mereceu uma cobertura desajeitada da imprensa. A emoção, o preito, o pesar e a rápida sucessão na cúpula da TAM foram devidamente acompanhadas. Mas o acidente em si ? possíveis causas e incógnitas correlatas ? foram rapidamente soterradas. Já estavam fora do noticiário na quarta-feira.
Quem salvou a credibilidade da mídia como instituição capaz de fazer investigações por conta própria foi Época (edição 165, págs. 35-41). Jornalões (todos) e revistões (as duas concorrentes) acharam que não deveriam manter o mistério aceso até a conclusão da demorada perícia ? poderia prejudicar a imagem de um portentoso anunciante. Por pudor ou conveniência, derrubaram o assunto com o silêncio e o tratamento de rotina. Os leitores saíram prejudicados.
Época foi fundo considerando os padrões vigentes. Já no subtítulo assume que há mistérios e que, sendo assim, precisam ser investigados. Com toda a naturalidade, sem sensacionalismos, quebrou o tabu em torno da vida pessoal de famoso empresário levantando inclusive a possibilidade de imperícia pessoal no acidente, sem com isso colocar a mais leve suspeita sobre a empresa que presidia. As grandes empresas passam assim a ser tratadas como as demais esferas e segmentos da sociedade.
O assunto precisa ser acompanhado com a mesma sobriedade e a mesma persistência.
Leia também
Os
repórteres estavam lá e não viram
? Alberto
Dines [rolar página]