Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

TT Catalão

RIO DE JANEIRO

“A boca do bacana”, copyright Tribuna da Imprensa, 19/06/03

“Quem não mora no Rio recebe a imagem mais desesperadora da cidade: ?- Se segura meu filho, não vai ali comprar um pãozinho não, que tu leva um teco?. Quem está de fora monta o ?real? (relativo) pelas tabelas. ?Vive? realidades paralelas segundo o que a TV envia, o rádio emite e os jornais imprimem.

Não que a mídia minta ou exagere. É que mídia é meio interpretativo, intermediário, mediano entre vida de verdade e quem vai consumir o que o jornalista viu, fragmentou, fraturou, faturou (pois notícia virou mercadoria), editou, remontou e reenviou ao leitor/espectador – este, se não for crítico vira mero consumidor de notícias.

Nenhum veículo de comunicação consegue mostrar a totalidade de um problema. No máximo tenta, desesperadamente e com algum talento (caso exista) organizar um pouco o magnífico caos cotidiano. E assim cria-se ?opinião? – ou seria ?sensação de opinião?? – pelo que não vivemos, presenciamos ou experimentamos. ?Opinião? média, rala, frágil, mais por assim dizer ou ouvir falar.

Nessa onda de alarmes generalizados, tanto Rio quanto Brasília são dois modelos parcialmente verdadeiros e totalmente falsos. Para Brasília a fama de fria, corrupta e alienante. O Rio tomba na carga da bala perdida de um crime em cada esquina.

Assim, imaginam as duas cidades, se o tom do noticiário for levado ao pé da letra. Se o Rio respira nervoso com tanta munição pesada no ar isto não significa que todo o Rio seja um antro. Se Brasília carrega a mancha da incompetência estatal e a desonestidade política isto não significa que a cidade inteira seja um covil.

De longe – eu, carioca expatriado há mais de 30 anos – mantenho um Rio romântico imaginário que ainda persiste. O paraíso mudou de faixa e agora é um disco de vinil furado que repete sem parar: ?é sol, é sal, é sul? no velho Barquinho antes pilotado pela Nara e o Menescal. Mas tem algo desse Rio ainda vivo pois está em nós a decisão de retomá-lo.

De Brasília – mais nova e ainda em construção cidadã própria – mesmo sobre a infâmia da grilagem descarada e quadrilhas promiscuídas com setores do Estado – ainda insiste o raio de utopia por aquilo que deveria ser (solidária e em comum união). Esta, minha ?nova? cidade, a mesma, quando é xingada como o meu ?velho? Rio.

Sabemos dos projetos de beleza abortados sob a conspiração da mediocridade. Porém vibra ainda um permanente estado de indignação. A justa fúria da boa chama, chama. Há algo nos guerreiros que beira entre a sã loucura e a mobilização combatente dos que não se entregam.

O Rio descobre a outra cara da beleza exatamente pelo maior valor da sua cultura: a sua gente. O carioca. O próprio. A picardia generosa de quem nasceu virado pro sol. Acabar com o moral do carioca e do brasiliense, virou esporte nacional com ares de Fla x Flu (recuso-me ao ?recente? Fla x Vasco).

Saudoso estilo picuinha Rio x São Paulo. É preciso uma nova mídia para ver os novos recantos do Rio produzidos pela verve sagrada da sua gente. O que rola nos intestinos da cidade. As margens ocultas da dignidade, um Rio fora do foco, além do poder de fogo da narco-artilharia, mas vivo na raça carioca de reinventar a vida.

Pra que as farpas bobas só para ver quem é mais Sodoma e quem é mais Gomorra? Duas cidades estupidamente difamadas, como se na capital todos pertencessem a esquemas obscuros, chafurdassem em corjas e nadassem em propinas. O mesmo vale para um Rio denegrido e não para o Rio renascido.

Talvez isto seja vingança barata da inveja rasteira. Deitar e rolar sobre a tragédia carioca é uma espécie de expiação do drama nacional urbano que escolheu a cidade mais emblemática do país (em agonia e êxtase) para simbolizar a desgraça urbana resultante deste estúpido modelo político baseado em cobiça, controle e covardia.

Não dá para eximir a incompetência dos governos, a fanfarronice boquirrota de ?exxxpertos? travestidos de autoridades, nem a crônica omissão do Estado, e muito menos, a submissão cultural do que deveria ser elite mas não passa de uma caricatura consumista da média-mediocridade que definha nas filas dos shoppings tutelados pelos impostos opressivos e rindo narcotizados com a cara produzida da narcose marionete.

Rio e Brasília precisam escapar da armadilha de imagens que potencializam o terror. Jamais a mídia use ?lentes? (sob famigerada censura) para mostrar só o chamado ?positivo?. Apenas ver que a boca de fumo não está só na miséria e na matança dos peões da criminalidade. A rede precisa ser desatada na boca dos bacanas. Na cúpula. No enredo que sustenta a trama. Na tragédia que alimenta o drama. Brasília e Rio têm raízes, anteriores, em suas podres projeções de cidades sangrando em dor e infâmia.

A boca do bacana é tão camuflada em seu hálito perfumado de celebridade e insígnia oficial que a gente até pensa que bandido é só o miserável desdentado que morre torto na vala comum, enquanto a forma que o gerou continua recebendo tapinhas nas costas, condecorações, jantares de luxo, carinhas de bens e até cargos ditos importantes.

O Rio desperta pelo carioca da rua, o da batalha, do testemunho comunitário, fraterno e dedicado em seu amor generoso pela vida. Brasília, idem, com o seu brasiliense de todo dia. Nós, desatamos os nós. O resto é cabresto. Ou intriga de quem diz que eu não presto.”

 

RIO GRANDE DO NORTE

“Mais informação, menos partidarismo”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 13/06/03

“Os veículos de comunicação do nosso estado, em sua maioria, não dão prioridade aos profissionais que podem fazer um jornalismo mais capacitado e empenhado na reconstrução da realidade. Visam somente interesses partidários, apresentando disfarçadamente questões públicas, quando os significados reais dessas exibições são puramente ganhar vantagens sobre seus rivais políticos.

O mais correto seria que os veículos de informação invertessem a ordem de suas matérias, iniciando com o noticiário sobre a comunidade até chegar por último à política, que não deixa em momento algum de ser um importante interesse público.

Outra opção seria a contratação de profissionais habilitados, preocupados não apenas em divulgar a notícia, mas principalmente, se aquele assunto é relevante ao seu público. Que nível de conflito e aceitação ele alcançará, utilizando ética e honestidade, direitos primordiais de quem não está preocupado, de quem é dono desse ou daquele veículo, e sim, com o benefício que a informação lhe trará.

Infelizmente o que se vê todos os dias em nossos veículos de comunicação são pessoas incapazes. É marido, irmão, sobrinho, afilhado, conhecido de um conhecido, puxa-saco, político, galinha, cachorro, periquito, papagaio, todos empregados pelo seu Qi. Traduzindo, empregados pelos ?quem indique?. Mais uma das facilidades políticas encontradas em nosso estado.

É desestimulante para os novos profissionais de comunicação ver como é difícil exercer a profissão em nossa cidade. Quanta porta fechada para quem quer exercer um jornalismo sério, factual e real se encontra pela frente, sem precisar ser indicado por alguém, e sim, mostrar trabalho, expor o que aprendeu na faculdade e com muita humildade aprender com os experientes.

É inevitável que os veículos de informação influenciem na política, afinal são formadores de opinião, mesmo com toda imparcialidade que a maioria afirma manter em seus noticiários.

Aliás, tendem a influenciar cada vez mais. Nem adianta discutir. Por outro lado, é perfeitamente evitável que proprietários destes veículos assumam cargos políticos. Basta uma lei. Daí quem sabe teríamos um jornalismo mais ético e menos hereditário.

(*) Estudante da Universidade Potiguar, de Natal (RN).”