Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

TV árabe sofre pressões dos EUA

GAVETA 11 DE SETEMBRO
Edição 143 # 17/10/2001


Claudinê Gonçalves, de Berna

A TV al-Jazira, única a transmitir imagens do Afeganistão, está sendo pressionada pelos Estados Unidos. O assunto foi abordado diretamente com o emir do Catar quando de sua última visita a Washington, pelo presidente Bush e pelo secretário de Estado Collin Powell, antes do início dos bombardeios. As duas autoridades americanas pediram uma cobertura mais favorável.

Acusada de parcialidade e de dar voz aos islamistas, a emissora al-Jazira (A Ilha) passou a ser conhecida em todo o mundo ao divulgar as primeiras imagens dos ataques ao Afeganistão e as declarações de Osama bin Laden. Depois dos atentados de 11 de setembro, a TV catariana já havia reprisado uma entrevista com bin Laden, gravada dois anos antes.

O diretor da al-Jazira, xeque Hamad Ben Thamer Al Thani, declarou ao correspondente de Swissinfo em Doha que está acostumado a pressões. "Já fomos acusados de pró-israelenses, pró-americanos, pró-palestinos e agora de pró-taleban", disse. "Não mudaremos nossa estratégia de cobertura e os telespectadores são nosso único júri."

O diretor da emissora afirmou ainda ao nosso correspondente que tem mais de 200 queixas de países árabes em sua gaveta, que já causaram inclusive incidentes diplomáticos.

Os regimes árabes temem que tom livre e audacioso da al-Jazira possa ser contagioso e o ministro das Relações Exteriores do Catar, xeque Hamed Ben Jassim al Thani, reconheceu que parte do trabalho diplomático consiste em consertar os "estragos" causados pela emissora.

Primeiro canal de televisão de informação contínua em árabe, a al-Jazira foi criada pelo emir do Catar, Hamad Bin Jalifa al Thani, em 1996, menos de um ano depois de ter deposto seu pai e assumido o poder no pequeno emirado do Golfo Pérsico. A equipe de base era de jornalistas da BBC de Londres, depois que o canal árabe da emissora britânica foi fechado.

A al-Jazira tem hoje alguma reputação no mundo árabe devido à sua independência e diversidade de opiniões, e por dar espaço também para a oposição aos regimes árabes ? algo novo na região. Como o canal é via satélite, os interlocutores sabem que não poderão ser censurados nos países em que estão.

"Acusam-nos de favorecer o ponto de vista de bin Laden, mas isso não é verdade", diz o diretor da al-Jazira. "Ele não é considerado inimigo público número 1? Então demos a palavra a ele."

A TV do Catar tem uma equipe permanente no Afeganistão há mais de dois anos, e também mantém escritórios em Washington, Londres, Paris, Moscou, Teerã e em quase todos os países árabes.

Resta saber se a vontade de abertura manifestada através da al-Jazira será mantida diante das novas pressões e do prosseguimento das reformas políticas no Catar. O país é independente desde 1971 e a próxima etapa será eleição do primeiro Parlamento, dentro de dois anos.

(*) Jornalista da Swissinfo